A cobertura que a mídia tem feito do conflito no Oriente Médio despreza um detalhe fundamental.
Durante décadas, a atuação da ONU foi limitada por causa alinhamento automático. Os países sob influência dos EUA apoiavam quase todas as propostas dos gringos na ONU. Os aliados da URSS seguiam as diretrizes do Kremlin. Quando os interesses dos EUA e aliados eram ofendidos, os gringos vetavam a resolução no Conselho de Segurança. Se os interesses soviéticos fossem afetados, os russos é que usavam o poder de veto naquele órgão.
A Guerra Fria terminou, mas ainda existem alguns ranços de alinhamento automático na ONU. Todas as resoluções que tentam limitar o militarismo israelense são sistematicamente vetadas pelos gringos. Isto dificulta a solução do problema palestino porque Israel sente-se à vontade para fazer o que bem entender.
Dentro de Israel, os árabes são párias. Não têm os mesmos direitos e obrigações que os israelenses. Apesar de se dizer uma democracia ocidental, Israel não tem uma Constituição e não pretende equiparar os árabes aos judeus.
Os árabes nascidos em Israel são tratados como estrangeiros pelos militares daquele país. As casas deles são derrubadas, as propriedades são confiscadas, o acesso à água é limitado… Já os palestinos que vivem em Gaza e na Cisjordânia têm sido tratados como descartáveis desde 1948. Desde que o Estado de Israel foi criado, os israelenses avançam sobre territórios originalmente destinados aos palestinos.
Dois critérios…
É claro que os palestinos exageram quando cometem atentados terroristas. Entretanto, o terrorismo é fruto do abandono e do desespero. A comunidade internacional não reprime duramente os abusos cometidos por Israel por causa do apoio sistemático dos EUA. Israel usa o holocausto nazista como um escudo e segue barbarizando os palestinos.
Não só isto. O regime de Tel Aviv tem descumprido sistematicamente algumas resoluções da ONU e nem por isto os ocupantes da Casa Branca dizem que o regime de Israel é um Estado fora da lei. Quando Saddam descumpriu resoluções da ONU, foi considerado um criminoso por Bush. Quando quem fez isto foi Ariel Sharon, o senhor Bush disse cinicamente que o primeiro-ministro de Israel era um homem pacífico. Foi assim que os gringos apagaram a luz no fim do túnel. O conflito entre israelenses e palestinos depende da revitalização do direito internacional, mas este não resiste ao uso sistemático de dois critérios para tratar situações análogas.
Às vezes, chego a pensar que o recrudescimento do conflito no Oriente Médio é desejado pelos governantes dos EUA. Por que os gringos ficam usando dois critérios para tratar situações análogas?
Quando o exército de Israel despedaça centenas de vítimas civis em Gaza e Cisjordânia, as vítimas são consideradas ‘danos colaterais indesejados, mas aceitáveis’. Quando os palestinos matam civis inocentes em Israel, as vítimas israelenses são longamente choradas e como são ‘mais iguais’ merecem ser vingadas com o apoio dos EUA.
Chegamos a um ponto sem retorno. O governo dos EUA se alinha automaticamente a Israel. Israel, por sua vez, desumaniza automaticamente os palestinos. E os palestinos, infelizmente, matam para serem considerados humanos!
******
Advogado, Osasco, SP