Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ameaças contra o bispo do Xingu

As ameaças de morte feitas contra o bispo do Xingu, dom Erwin Krautler, motivaram a CNBB a divulgar uma nota excepcionalmente dura e certeira sobre essa prática tristemente rotineira na Amazônia, de desprezo pela dignidade e a vida humana, atrás da qual está uma cultura da morte, ‘assumida conscientemente por alguns segmentos influentes da sociedade paraense, que colocam à disposição do crime o dinheiro, a mídia e os pistoleiros’.

Segundo o comunicado da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, ‘certos meios de comunicação social no nosso Estado nem sempre resistem à tentação de veiculação profissional da mentira, da utilização de meias verdades e até do silêncio criminoso’. Esses veículos acabam se prestando à proliferação de listas públicas de pessoas marcadas para morrer, o que vem ocorrendo ‘vergonhosa e impunemente ao longo dos anos em nosso Estado’. Dessa maneira, acabam fortalecendo o poder oculto das organizações criminosas, ao invés de coibi-las, evitando que realizem seus objetivos: ‘eliminar a vida, os direitos da pessoa e escarnecer a dignidade humana’.

O Sindicato dos Jornalistas, que nesta semana promoveu um encontro acadêmico para discutir o novo código de ética da categoria, podia usar as observações e advertências da CNBB como pauta para colocar em prática a preocupação com o papel dos meios de comunicação. Não em tese, mas concretamente, dando nomes às abstrações da nota e reconstituindo os fatos sugeridos. Fazendo valer e não apenas dizer. A questão, gravíssima, exige. Sem prosopopéia.

Jornalista Raimundo

Pouca gente conhece Raimundo Rodrigues Pereira, um pernambucano de olhar inquisidor, de 65 anos: provavelmente por mera coincidência, ele mereceu matérias de quatro páginas nas edições deste mês das revistas Imprensa e História Viva. Oito páginas nas duas publicações pode parecer muito para um personagem que raramente aparece na grande imprensa, mas ao final da leitura constata-se que foi muito pouco para traduzir o significado desse ‘gigante da imprensa nanica’, conforme a manchete de uma das matérias.

Raimundo comandou o Opinião, que no começo de 1973, em pleno regime militar, concorreu acirradamente em vendagem com a revista Veja, embora fosse um David pelejando contra um Golias. Os dois semanários se nivelaram em torno de 40 mil exemplares vendidos quando a censura, agindo com ferocidade maior sobre o alternativo, o forçou a ir ficando para trás, até desaparecer, quatro anos depois, não sem antes assinalar sua presença como a mais gloriosa de toda genealogia dos jornais de combate, oposição ou alternativos.

A leitura das duas matérias, confrontada com a raquítica bibliografia a respeito, leva à conclusão de que uma história mais satisfatória sobre esse período e essa variante da imprensa ainda está distante de ser escrita. Mas pelo menos as novas gerações foram apresentadas ao tema.

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Jornalista, editor do Jornal Pessoal