Com uma reduzida rede de correspondentes e reportagens que se restringem a momentos de crise, a grande mídia brasileira vira as costas aos vizinhos. A falta de regularidade das notícias e o desconhecimento dos jornalistas, que não dispõem do tempo necessário em campo, fazem com que o leitor tenha uma visão pontual e superficial sobre os problemas da região.
‘A América Latina não é prioridade’, afirmou Fabiano Maisonnave, repórter da editoria Mundo do jornal Folha de S. Paulo, referindo-se aos principais jornais brasileiros. Uma das razões para a desatenção, citada pelo jornalista, é a atual crise vivida pelos periódicos: queda de circulação e anunciantes. ‘Há 10 anos, a Folha de S. Paulo vendia 700 mil exemplares, hoje a média é de 300 mil’, comentou.
O conflito armado na Colômbia, por exemplo, acumula números assustadores: 2 milhões de refugiados e cerca de 100 mil minas antipessoais espalhadas pelo território. O Brasil, porém, não mantém jornalista fixo no país – o segundo maior da América do Sul. ‘A Colômbia é apenas uma ilustre desconhecida’, disse o repórter.
Base americana
No caso do Haiti, a cobertura foi extensa apenas no momento do embarque das tropas – que comandam a missão de paz da ONU. Grande parte do entusiasmo jornalístico se perdeu com o tempo. Atualmente, os correspondentes brasileiros são escassos e só viajam de carona com o exército – que reúne contingente de 1.200 militares, o maior entre os 12 países que integram a operação.
Maisonnave foi um dos repórteres que viajaram com as tropas brasileiras ao Haiti. No entanto, nas duas viagens que realizou, permaneceu, no total, apenas duas semanas na região: ‘Eu me sinto frustrado’, afirmou o repórter, comentando a insuficiência de tempo e recursos. Segundo ele, o contato com a população nativa – que não se mostrou hostil – foi pequeno devido à falta de um intérprete e à conseqüente dificuldade com a língua [o francês].
Como resultado dessa falta de investimentos, a mídia é dependente das agências internacionais e dos grandes jornais do mundo, os quais privilegiam os países desenvolvidos. ‘A primeira página do New York Times serve de base para grande parte dos cadernos internacionais’, constatou o jornalista.
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Estudante de Jornalismo da Cásper Líbero, São Paulo; matéria para o 4º Curso de Informação sobre Jornalismo em Situações de Conflito Armado, promovido pelo projeto Repórter do Futuro da Oboré