Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Analistas cegos

O jornal O Estado de S.Paulo de 1º de fevereiro trouxe matéria que fez a pergunta que está na ponta da língua de todos os que pensam o Brasil. O que a China tem que nós não temos? A matéria incluiu a Índia, que também vem apresentando crescimento significativo. A causa do atraso brasileiro, segundo os analistas, está estampada na capa do jornal. Falta de espírito empreendedor, burocracia e instabilidade econômica. Passados os momentos de raiva que me acometeram, resolvi contar uma historia da qual fui testemunha.

Quando fazia cursinho para prestar o vestibular, tive um colega recém-chegado da China. Ele falava português com dificuldade, mas nas aulas de Matemática e Física destoava dos demais. Era o melhor aluno, num universo de 2 mil estudantes. Um dia, perguntei a ele como era a educação na China. Ele, além de me contar detalhes, trouxe os livros de classe, impressos em papel jornal, para que eu tivesse uma idéia. O conteúdo era espantoso, eles estudavam no segundo ano do colegial o mesmo programa de Matemática do segundo ano da Escola Politécnica da USP, sabidamente uma boa escola. Eram milhares de alunos nessas condições, sendo treinados num regime quase militar, para construir o futuro da China. O futuro é hoje, a China tem capital humano, sem o qual estaria patinando, sem sair do lugar, como nós estamos.

A Índia também cuidou das cabeças de seus rapazes. Isso não entra nas cabeças – duras – dos que teimam em achar que basta atrair capitais e tudo estará resolvido. Sem educação não haverá crescimento e, se continuarmos agradando ao FMI e pagando o dobro do que economizamos em juros, talvez em algum tempo nem exista o Brasil.

Restará uma grande plantação de soja, como queria a velha UDN.

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(*) Jornalista