‘Hoje, Dia D da Inclusão Digital, o número de pessoas conectadas à internet no planeta já ultrapassou o meio bilhão. As estatísticas variam – apontam entre 655 milhões e 665 milhões de internautas no mundo – e as projeções para este ano vão de um discreto aumento para 709 milhões de usuários até um explosivo salto online para 945 milhões. Mas o quadro está longe de ser uniforme. Enquanto Europa e América do Norte têm quase 64% dos internautas do mundo, a América Latina comparece com apenas 6% e a África e o Oriente Médio, com míseros 2%.’
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‘Só os EUA têm 182 milhões de internautas’, copyright O Globo, 1/03/04
‘Como era de se esperar, a internet cresce mais velozmente no Primeiro Mundo. Embora a world wide web como a conhecemos tenha nascido no CERN, na Suíça, é nos EUA que está o maior número de internautas: 182 milhões, ou 65% da população do país. Em segundo lugar, vem o Japão, com 64 milhões de internautas, mas a China, em terceiro, se aproxima rapidamente dos japoneses, com 54,5 milhões.
– Percebo o rápido crescimento de formas de acesso de alta velocidade à internet em países da Ásia – comenta John Perry Barlow, co-fundador da Electronic Frontier Foundation e membro do Centro Berkman para Internet e Sociedade de Harvard. – Ter praticamente uma população inteira com a capacidade de entrar na rede a 10Mbps faz uma grande diferença na forma como as pessoas se relacionam online Na Coréia, por exemplo, grande parte da população está conectada assim, e vê-se um enorme aumento do tráfego coreano na web.
A Coréia do Sul de fato tem cerca de 55% de sua população plugada na rede – cerca de 26 milhões de usuários. Mas, em números reais, ela chega em sexto lugar no ranking dos poderosos online, atrás dos campeões europeus: a Alemanha, em quarto, com 44 milhões de internautas, e a Grã-Bretanha, em quinto, com 34 milhões.
Depois vêm a França, a Itália e o Canadá, entre a sétima e a nona posição. Na França, em que o Minitel resistiu por tanto tempo, há 21 milhões de usuários. Já os italianos que usam a rede são 20 milhões, quase um terço da população do país, enquanto os canadenses conectados chegam a 17 milhões.
Brasil na 11 posição do ranking de usuários
Somente na décima posição aparece de novo um país emergente, depois do terceiro lugar chinês: a Índia, com 16 milhões de usuários (a questão é que há 1 bilhão de indianos, portanto trata-se de apenas 1,6% da população. Aliás, se fizermos a conta na China, também chegaremos a algo parecido: só 5% do 1,3 bilhão de chineses acessam a rede). E, acreditem, na décima primeira posição do ranking está o Brasil, com cerca de 15,8 milhões de internautas. Isso apesar da exclusão digital ainda gritante por aqui.
– De fato, o desafio da infra-estrutura é grande, mas ao mesmo tempo existem soluções wireless que você pode aproveitar para a internet em banda larga – diz Rodrigo Baggio, presidente do Comitê para a Democratização da Informática (CDI). – Por exemplo, há uma iniciativa do ICA (Institute for Connectivity in Americas), do Canadá, junto com a UFRJ em que, aproveitando a banda larga da universidade, em parceria com o CDI, estamos levando internet via Wi-Fi para algumas comunidades do Complexo da Maré. Iniciativas como essa são perfeitamente possíveis. Você pode usá-las em regiões remotas. Nós levamos internet via satélite a regiões remotas da floresta amazônica, em aldeias indígenas que ficam a dias de viagem da cidade mais próxima.
Alguns especialistas estão empenhados em levar cada vez mais informação à rede e visitam países em todos os continentes. Como Edward Fox, chefe do Comitê de Políticas da National Science Digital Library (NSDL), nos Estados Unidos. Ele ajuda a coordenar projetos de digitalização e upload de documentos e põe bibliotecas inteiras na rede.
– A internet continua a crescer rapidamente – afirma. – Em minha área de atuação, a de bibliotecas digitais, vejo com prazer como elas estão se espalhando. Viajo muito e posso atestar isso; não por acaso, este ano visitarei Argentina, Venezuela, China e Tailândia. Também irei à Austrália em 2005. Todos esses lugares, entre outros, têm interesse em organizar digitalmente a informação, de modo que possa ser mais facilmente capturada.
O avanço da internet ocasionou um interessante estudo de comportamento dos internautas feito por pesquisadores da Universidade da Califórnia em Los Angeles – o World Internet Project. Entre outros achados, eles descobriram que os homens navegam na internet mais que as mulheres. Em certos países, essa diferença é grande. Por exemplo, na Itália há 41% de homens usando a internet, contra 21% de mulheres (praticamente a metade). Já na Espanha, a proporção é de 46% para 27%, enquanto a Suécia parece mais equilibrada: 67% contra 64%.’
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‘Desconectados são 80% da população mundial’, copyright O Globo, 1/03/04
‘Atão esperada aldeia global, por outro lado, ainda é uma utopia. Pesquisas feitas por instituições de combate ao ‘apartheid digital’ só corroboram a afirmação. Cerca de 80% dos habitantes do planeta sequer ouviram falar de internet e pouco mais de 10% têm acesso a ela, embora outros 10% já saibam do que se trata. A situação mais crítica é a da África: apenas um em 250 africanos está conectado, em comparação com um em dois americanos ou europeus. Os números estão diretamente ligados à quantidade de computadores, ao baixo poder aquisitivo e aos altos preços das tarifas de acesso.
Em Bangladesh, por exemplo, um computador custa o equivalente a oito anos de salário do cidadão comum. Não à toa, durante a reunião da Cúpula Mundial da Sociedade da Informação, em Genebra, em dezembro do ano passado, o presidente do Senegal, Abdoulaua Wade, propôs a criação de um fundo mundial contra a desigualdade digital. Wade propôs que se destinasse, ao fundo, um euro a cada computador vendido no mundo. Os Estados Unidos foram contra.
Governos só passaram a discutir a exclusão em 2002
Enquanto isso, organizações internacionais lutam para amenizar o choque causado pelo fosso que separa os que têm dos que não têm acesso à sociedade da informação. Tarde demais? Pode ser que não, mas as organizações concordam que os governos demoraram a abrir os olhos. A exclusão digital só entrou na pauta das discussões em 2002, quando a ONU, em seu relatório anual, o PINUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), afirmou, pela primeira vez, que sem a disseminação da tecnologia o desenvolvimento humano não será possível, e criou e publicou o Índice de Avanço Tecnológico, que lista a situação de mais de 70 países.
– Isso deu uma dimensão da seriedade do problema – diz Rodrigo Baggio, do CDI, ONG que está presente em 11 países. – Em 2002 o G8 fez uma reunião em Akinawa, no Japão, para, pela primeira vez, discutir exclusivamente a questão. A partir de então, a exclusão digital entrou para a agenda mundial.
Outro fator determinante para o avanço da internet é o número de linhas telefônicas. No Nepal e na África do Sul, por exemplo, apenas 10,4% dos domicílios das grandes cidades têm linha privada de telefone. Nas áreas rurais do Nepal, o número é de apenas 0.11%. Sem telefone, nem acesso discado é possível.
Existe solução? Para países com geografia complexa, as tecnologias sem fio (Wi-Fi, telefonia celular e satélite) poderiam ser a solução: exigem infra-estrutura menos intrincada. O problema é o custo disso:
– As tecnologias wireless podem ser uma saída emergencial rápida. Satélites são atraentes, mas os custos ainda são proibitivos para que eles se tornem uma solução de acesso 24 horas por dia, sete dias por semana para o público em geral – diz Melanie Edwards, consultora da United Nations Development Programme, programa da ONU de combate à exclusão.
O problema do ‘como acessar’ é visível aqui no Brasil. Dos 5.500 municípios brasileiros, só 950 têm infra-estrutura local para acesso à rede; nos outros municípios, as pessoas têm que pagar ligação interurbana.
Os problemas econômicos são a maior barreira para a difusão da internet no mundo, mas, em alguns países, uma temerária combinação de economia com política pode desconectar toda uma população. O principal exemplo é Cuba. Com o discurso de que ‘a regulação da internet produz um caminho democrático para o compartilhamento de pesquisas num país em desenvolvimento’, o governo cubano controla, com mão de ferro, toda conexão feita a partir da ilha, vigiando todos os servidores web. Na terra de Fidel Castro, internet é luxo para estrangeiros e turistas. Um cartão pré-pago para navegação por três horas custa US$ 4,50, um terço do salário-mínimo mensal do cubano.
– O governo declarou, em janeiro deste ano, que desligaria e ‘poria abaixo’ qualquer acesso ilegal à internet – diz Melanie. – Os cubanos podem mandar/receber emails e navegar em intranets ou sites cubanos, mas o acesso à internet global é barrado.
E o governo brasileiro, como tem se portado? Para Rodrigo Baggio, o governo Lula foi o primeiro a falar sobre exclusão digital, mas ficou o desafio de migrar das palavras para a ação.
– Seguindo uma lógica tradicional do setor governamental, pensam-se ações na área de inclusão digital em que o estado, forte, compra máquinas, conexão, internet, contrata e paga pessoas em comunidades, tirando a autonomia e a capacidade de gerenciamento local. Os governos precisam de um modelo de inclusão digital sustentável que proporcione uma política de inclusão digital a longo prazo – diz.
Para John Perry Barlow, da EFF, há esperanças para o país:
– Tenho muita esperança que o governo brasileiro fará tudo para botar online o máximo de pessoas possível, com a maior taxa de dados possível, no menor prazo possível – acredita Barlow.’
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‘Liberdade e segurança, questões espinhosas’, copyright O Globo, 1/03/04
‘E como andam as coisas dentro da internet? A rede, embora continue a se espalhar como pode, ainda está muito vulnerável a ataques de vírus e negação de serviço, só para citar o quesito segurança. Isso sem falar em questões como privacidade, direitos civis e liberdade na seara virtual. Para John Perry Barlow, um veterano na luta pelos direitos dos internautas, estas são questões cruciais. Perguntado se o vertiginoso crescimento da banda larga, especialmente em partes do mercado asiático, não gera novas preocupações com a segurança, ele foi incisivo.
– No ciberespaço, nada acontece sem levar a novas preocupações com segurança – diz. – Mas, francamente, a maior fonte de preocupação com segurança que vejo constantemente está ligada às falhas no sistema operacional da Microsoft. Acho que raramente veríamos problemas de segurança se não estivéssemos usando Windows.
Barlow admite que, se houvesse outro sistema com a mesma predominância do Windows, ele poderia ser alvo das mesmas preocupações com segurança.
– Mas eu fiz recentemente uma conferência sobre segurança e todos – todos – os tópicos principais falavam de problemas no Windows.
Lance J. Hoffman, professor do departamento de Engenharia Elétrica e Ciência da Computação da George Washington University, explica, por sua vez, que a própria arquitetura da rede, à medida que evoluiu, teve de enfrentar desafios para ser mais acessível, e isso acabou afetando a segurança.
– Na verdade, a estrutura da internet funcionava muito bem quando ainda era uma ferramenta para pesquisadores – diz. – Infelizmente, os cartões de segurança e privacidade não foram embutidos como deveriam, na correria para ganhar mais funcionalidades. Há sempre esta tensão entre utilidade e segurança, entre utilidade e privacidade. E geralmente a utilidade acaba ganhando. E então, quando há algum problema, você tem que voltar e consertar o sistema. Mas, dito isso, penso que a rede está muito viva, e acho que precisará de alguns acertos nos próximos cinco ou dez anos para prover, em essência, maior confiabilidade sem deixar de ser útil.
Sobre a questão da liberdade online de ir e vir, em meio ao tiroteio de Patriot Act, RIAA e MPAA nos Estados Unidos, Barlow diz que a EFF e outras entidades estão conseguindo fazer com que as forças conservadoras batam ‘mais ou menos em retirada’. Mas ainda falta aparar muitas arestas.
– Agora eles tentam junto à FCC [ Federal Communications Comission, órgão que cuida de telecom nos EUA ] obter a possibilidade de grampear voz sobre IP, isto é, as conversações telefônicas feitas através da rede. Ora, se puderem fazer isso, poderão monitorar qualquer coisa que aconteça na internet sem um mandado judicial. Isso poderia ser um grande problema.
No Brasil, a internet contempla novos horizontes este ano. Vale ficar atento à eleição do novo Comitê Gestor e às questões ligadas ao SCD (Serviço de Comunicação Digital).
– Após a formalização do CG interino, começamos agora o processo eleitoral que deve ir até maio, e esperamos que seja o mais legítimo e transparente possível – diz Carlos Afonso, diretor de planejamento e estratégias da Rede de Informações do Terceiro Setor (Rits). – Quanto ao SCD, parece que a Anatel refina a proposta e entende melhor o que quer fazer à medida que ocorrem as consultas públicas nas várias cidades.
Debate quente na ICANN sobre privacidade
Carlos Afonso chama a atenção para outro debate importante que terá peso no futuro da rede, o da discussão sobre privacidade no âmbito da ICANN (Internet Corporation for Assigned Names and Numbers).
– Um dos assuntos quentes da reunião da ICANN que acontece em Roma esta semana é a privacidade no serviço ‘whois’ – conta. – O ‘whois’ funciona hoje tal como era quando foi criado nos primórdios da internet: um cadastro de dados de um detentor de nome de domínio. Se você tem um nome de domínio registrado, você está na base de dados ‘whois’, e todos os dados da base são abertos ao público, incluindo email, endereço, telefone etc.
No começo da internet, não havia qualquer problema aí, pois a comunidade era pequena, quase ‘familiar’, como diz Carlos Afonso. Hoje, isso virou um grande cadastro mundial, com milhões de nomes de domínio com informações preciosas à disposição de spammers, serviços de vigilância e marqueteiros planeta afora.
– Por isso, a NCUC (Assembléia de Usuários Não-Comerciais, na sigla em inglês), da qual a Rits é membro, criou três grupos de trabalho para estudar o problema e propor medidas que preservem a privacidade do detentor do domínio e ao mesmo tempo permitam que o fornecedor do serviço de nomes de domínio possa ter acesso ao cadastro. É uma discussão que promete.
A despeito dos contrastes, a rede continua a despertar forte interesse em todas as camadas sociais. A pesquisa da Universidade da Califórnia encontrou níveis surpreendentes de navegação online entre os cidadãos mais pobres dos 14 países investigados. Outras conclusões do estudo: quem usa a internet vê menos televisão do que quem não usa; as informações veiculadas nos sites são em geral tidas como acuradas pelos internautas; e estes passam mais tempo em atividades sociais do que aqueles que não navegam na rede (isso acaba com o mito do recolhimento geek).
Por fim, qual o futuro da internet? Quem responde é Lance Hoffman, da George Washington University.
– O papel das tecnologias embutidas e sem fio aí será revolucionário. Penso que caminhamos mais e mais para um mundo wireless que trará toda sorte de questões. Inclusive em segurança e privacidade, que mal começamos a endereçar. Será muito interessante buscar desenvolver padrões nesse sentido. Teremos uma interessante estrada a percorrer nos próximos 25 anos.’
Elis Monteiro
‘Melanie Edwards: ‘A exclusão digital é econômica e social’’, copyright O Globo, 1/03/04
‘A americana Melanie Edwards é consultora da United Nations Development Programme (UNDP), programa da ONU de combate à exclusão digital. Em entrevista ao GLOBO, ela conta onde a situação do apartheid digital é pior e diz o que os governos podem fazer para reverter este quadro.
Como está, hoje, a situação da exclusão digital?
MELANIE EDWARDS: A exclusão está estreitando-se mais rápido em países desenvolvidos como Suécia, Cingapura, Canadá, Japão, EUA e Alemanha. Mas em países em desenvolvimento, como Índia, África do Sul, México e Brasil, a exclusão ainda é muito vasta. Na América do Sul temos uma longa estrada: só 4% do continente está conectado à internet. A exclusão digital é uma exclusão econômica e social. É o custo da tecnologia e da conexão que permite alguns e inibe outras pessoas a terem acesso.
Que países não permitem o acesso à rede?
MELANIE: Em Cuba, as pessoas podem mandar/receber emails e navegar em intranets ou sites cubanos, mas o acesso à internet global é barrado. O governo mantém um controle restrito dos servidores web e declarou, em janeiro deste ano, que desligaria e ‘poria abaixo’ qualquer ‘acesso ilegal’ à internet. Críticos de Fidel Castro dizem que Cuba, como a China, reprime o acesso à internet para impedir o fluxo de informações e manter sob controle a oposição. O governo cubano diz que a regulação da internet produz um caminho democrático para o compartilhamento de pesquisas num país em desenvolvimento.
Que movimentos internacionais poderiam resolver o problema da exclusão?
MELANIE: Os governos devem adotar políticas que permitam o livre fluxo de informação dentro e fora de suas fronteiras. A história tem mostrado que, assim, o progresso é rápido social e economicamente. Corporações, governos e organizações sem fim lucrativo devem combinar seus recursos para levar a internet a todos os cidadãos. Governos podem contribuir com o acesso em larga escala. Assim, podem dar acesso a um círculo eleitoral hoje ‘invisível’.’
André Machado
‘John Perry Barlow: ‘A ONU não está preparada para assumir a rede’’, copyright O Globo, 1/03/04
‘John Perry Barlow é o autor da Declaração dos Direitos do Ciberespaço e um dos grandes gurus da EFF (Electronic Frontier Foundation). Para ele, o futuro da internet passa por alguma forma de governança de fato independente para o mundo virtual e pela luta pela preservação das liberdades individuais.
Qual a maior ameaça à liberdade na internet no mundo hoje?
JOHN PERRY BARLOW: A principal é a guerra entre aqueles que querem ver a informação como uma propriedade e aqueles que preferem vê-la como um relacionamento. E quem insiste na questão da propriedade tenta por todos os meios fazê-la valer, cercá-la, monitorá-la, garanti-la. E toda vez que você usa mecanismos para controlar a disseminação da informação para fins econômicos, você também afeta essa disseminação por motivos políticos, culturais, espirituais….
Que outras frentes derivam dessa mentalidade econômica para o mundo online?
BARLOW: Vemos iniciativas que pensam em mudar a arquitetura fundamental do modelo computacional dominante, o Windows-Intel. Elas apostam na chamada ‘trusted computing’, que até traria benefícios para o controle de problemas como spam e vírus, mas haveria conseqüências funestas no gerenciamento de direitos digitais. Seria muito fácil para todo o mundo ver o que passa por seu computador, compreende? E minha maior preocupação é que isso vire uma ferramenta para o controle de direitos políticos das pessoas.
Há saída para a exclusão digital?
BARLOW: A principal questão, num sentido global, é criar um método de governança [Barlow enfatizou governance , e não government ] para a internet. Quando escrevi a Declaração dos Direitos do Ciberespaço, ainda esperava que pudéssemos seguir em frente informalmente, como vínhamos fazendo. Hoje estou começando a achar uma governança necessária, mas não quero que a internet fique sob a supervisão da ONU. Talvez a alternativa seja uma entidade criada ou até autorizada pela ONU, mas não a própria ONU, que organizacionalmente não está capacitada para tal.’
José Alan Dias
‘Fraude on-line dá prejuízo de R$ 100 mi’, copyright Folha de S. Paulo, 25/02/04
‘As fraudes on-line nos sistemas de atendimento bancário provocaram um prejuízo de pelo menos R$ 100 milhões a instituições financeiras e clientes em 2003.
O dado é uma estimativa do IPDI (Instituto de Peritos em Tecnologias Digitais e Telecomunicações). Os bancos se recusam a divulgar números com o temor de disseminar pânico entre clientes, afastando-os do uso de suas páginas na internet e de terminais de atendimento eletrônico.
Entre os afetados pela ação dos crackers (o hacker que invade sites ou sistemas on-line para roubar informações que vão de números de cartões de créditos a senhas bancárias) estão as maiores instituições e até o Banco Central.
Embora os especialistas sustentem que os sistemas dos bancos não sejam absolutamente imunes a ataques, a ação direta de um pirata sobre essas redes é tida como mais remota. Em grande parte porque os bancos direcionam soma considerável dos recursos de TI (tecnologia da informação) ao aperfeiçoamento de dispositivos de proteção de sua rede.
Assim, o caminho comum é praticar as fraudes invadindo os computadores dos clientes dos bancos, que, em sua maioria, não dispõem de dispositivos como ‘firewall’ (programas que controlam a entrada e saída de dados do PC). Ou capturar informações dos clientes a partir do envio de páginas falsas das instituições.
Com esses dados, os crackers movimentam contas correntes e de poupança ou emitem cartões nos sites originais dos bancos. Os ataques mais recentes com páginas falsas envolvem o Banco do Brasil.
Mensagens falsas
Ricardo Theil, presidente do IPDI e diretor da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, diz que a primeira grande ação contra instituições financeiras foi deflagrada em dezembro de 2002.
Naquele período, foi distribuída uma mensagem, atribuída à Microsoft, na qual se afirmava que a empresa detectara falha no sistema Explorer (de acesso à internet) e solicitava aos usuários que baixassem um aplicativo que solucionaria o problema. Ao clicarem, os usuários baixavam um cavalo-de-tróia, espécie de vírus, que chega disfarçado (por isso a menção ao artifício usado por Ulisses para vencer os troianos) e contamina os computadores. Esse vírus direcionava os usuários a páginas falsas dos bancos.
Como a modalidade de fraude não era muito sofisticada, o cliente acabava redirecionado ao sistema original de seu banco.
Num segundo momento, as ações passaram a incluir o envio de mensagens que iam de anúncios promocionais de lojas a acesso a páginas pornográficas. Ao clicar na página, o usuário, sem conhecimento, acabava instalando um sistema de leitura de teclados -os chamados ‘keyloggers’. Esses sistemas registram tudo o que usuário digita, de e-mails a senhas e dados dos bancos. As versões mais sofisticadas filtram informações -são acionadas (e registram dados) apenas quando o usuário entra num site de banco.
‘O usuário de computador pessoal não vê como prioritário investir em segurança, na compra de ‘firewalls’, detectores de intrusos ou de antivírus contra monitoramento de teclado’, diz Fernando Lopes, consultor de segurança da Kroll, empresa inglesa de investigação privada.
Apuração prejudicada
Arlindo Vaz, delegado titular da 4ª Delegacia de Meios Eletrônicos do Deic, em São Paulo, afirma que os crimes contra instituições financeiras respondem por considerável número em todo o país. Mas que a apuração e as estatísticas acabam prejudicadas pela conduta de bancos e clientes. Segundo ele, os bancos, por temerem ver sua imagem afetada, preferem não fornecer dados sobre fraudes. Dos 400 inquéritos acompanhados pela delegacia, não mais que cinco são fraudes on-line de serviços bancários.
‘Normalmente, os bancos não querem se mostrar vulneráveis. Os gerentes orientam os clientes a registrar boletim de ocorrência e fazem o ressarcimento.’
O delegado explica que crimes contra a honra e pedofilia lideram entre os casos apurados na delegacia. E que o fato de não haver uma centralização de queixas impede de mensurar a quantidade de ações contra usuários de bancos (ou ataques às instituições). Em novembro, a Polícia Federal prendeu 21 hackers, em quatro Estados brasileiros, acusados de desviar dinheiro de contas.
O Procon-SP, por meio de sua assessoria, informa que as queixas de usuários vítimas de fraudes on-line são consideradas no mesmo grupo das demais queixas contra os bancos. Por falta de funcionários, afirma a instituição, não há como separar os crimes on-line.
No Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) há um processo em que um associado recebeu mensagem atribuída ao Banco do Brasil na qual se solicitou que o usuário repassasse seus dados para que a conta entrasse ‘no mais novo sistema antifraude de internet banking’. Detalhe: o associado do Idec não era cliente do BB.
O banco estatal não foi o único. Segundo o delegado Vaz, mensagens de igual teor, que direcionavam a links falsos dos maiores bancos do país, foram enviadas a usuários de internet nos últimos meses. ‘Repassam 70 mil, 80 mil spams de uma vez. Evidentemente, uma parcela das pessoas que recebe é cliente de algum dos bancos e acaba sendo enganada.’
O consultor James Wygand, presidente do Risk Solutions Group, afirma que uma das soluções seria a disseminação da criptografia digital. É como uma espécie de cartório: cria-se um código para o usuário que só o banco pode identificar, por possuir uma ‘chave’ para traduzi-lo. ‘Embora não seja absolutamente seguro, esse sistema já é usado por advogados que precisam assinar contratos por e-mail, mas os bancos não investem nisso para não criar complicações para os clientes.’
Os bancos
Procurada pela Folha, a Febraban não se pronunciou. Limitou-se a informar que mantém uma comissão, com representantes de todas as instituições e especialistas, encarregada de analisar e tomar medidas de segurança.
‘Os registros que temos são isolados. Não é um elemento de preocupação’, disse o presidente do Bradesco, Márcio Cypriano.
Procurados pela Folha, o Itaú e o Banco do Brasil, dois dos bancos alvos de fraudes com páginas clonadas, não se manifestaram.
O Unibanco implantou para os clientes pessoa jurídica um sistema de certificação digital, que impede o acesso às contas a partir de uma máquina que não seja certificada. ‘Mas com pessoa física não posso fazer isso. Esse usuário preza mobilidade, quer poder acessar a conta onde estiver’, diz Marcelo Tognozollo, diretor do Unibanco. Colaboraram Érica Fraga e Fabíola Salani, da Reportagem Local’
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‘Cliente perde R$ 4.000 após fornecer dados’, copyright Folha de S. Paulo, 25/02/04
‘Em julho passado, o pesquisador Cauê Alves, 26, recebeu um telefonema do gerente de sua agência do Banco do Brasil, em São Paulo, que ‘estranhara’ uma movimentação em sua conta.
O valor movimentado, argumentava o gerente, não era padrão para a conta corrente de Alves. Haviam sido debitados R$ 3.078,25 para o pagamento de um boleto bancário.
Ao comparecer ao banco, o pesquisador descobriu, segundo seu relato, que haviam ocorrido, além desse débito, uma transferência de R$ 1.000 para uma conta corrente no próprio banco e um débito de R$ 200 para a recarga de um celular pré-pago.
Indagado pelo gerente se havia perdido sua senha ou a repassado a outra pessoa, Alves lembrou-se de que, no dia anterior, recebera uma mensagem atribuída ao Banco do Brasil, a qual informava que o banco promovia um recadastramento dos clientes e direcionava ao suposto link do banco.
‘Forneci agência, conta e senha do homebanking’, diz o pesquisador. ‘De posse desses dados, transferiram tudo. No dia seguinte, até a minha senha havia sido trocada.’
Ele afirma que o banco o reembolsou, sob a condição de que assinasse um termo pelo qual, ao final de 90 dias (período que o Banco do Brasil utilizaria para apurar o evento), se comprovado que a falha não fora da instituição, o cliente arcaria com o débito.
‘Eu fui obrigado a reembolsar o banco três meses depois.’
Audiência
O pesquisador agora aguarda uma audiência, marcada para o dia 9 de março, de uma ação que moveu contra o Banco do Brasil no Tribunal Especial Civil (nova designação do tribunal de pequenas causas).
‘O golpe já tinha ocorrido com outros clientes e o banco alega que em seu site está escrito que não envia mensagens. Mas eu não teria caído no golpe se o banco, conhecedor da fraude, tivesse emitido algum tipo de comunicado’, argumenta o pesquisador.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o Banco do Brasil informou que não se pronunciaria sobre o caso porque a questão está sub judice.’
O Estado de S. Paulo
‘MyDoom volta a atacar, em versão nova e mais violenta’, copyright O Estado de S. Paulo, 26/02/04
‘Especialistas em segurança de computadores alertaram para uma nova versão – que apaga arquivos – do vírus de e-mail MyDoom, que ontem parecia atacar as máquinas com mais ferocidade. O novo surto, chamado de MyDoom.F, surgiu no fim da semana passada e desde então vem ganhando força.
O vírus é programado para infectar computadores pessoais e, através dos PCs, provocar excesso de tráfego em determinados sites, obrigando-os a sair do ar. Tudo isso acontece sem que o usuário do computador infectado perceba o que está acontecendo. No caso, o alvo do vírus são websites relacionados à Microsoft Corp. e à Associação da Indústria de Gravação dos Estados Unidos (Riaa, na sigla em inglês).
Os ataques não conseguiram tirar os sites do ar, embora o acesso à página da Riaa tenha sido levemente afetado ontem, informaram empresas de segurança. A Riaa, um grupo de lobby da indústria fonográfica, revolta usuários de computador desde o ano passado, quando começou a processar americanos que trocam música online.
Embora não esteja se espalhando tão rápido quanto seus predecessores do tipo MyDoom ou quanto o surto do Netsky.B da semana passada, o MyDoom.F é considerado um risco crescente. Ao mesmo tempo em que tenta acessar websites, o vírus apaga aleatoriamente arquivos do Microsoft Word e Excel, além de fotos e vídeos armazenados no computador infectado.
‘O MyDoom.F tem aumentado o ritmo desde segunda e terça-feira’, disse Mikko Hypponen, diretor da empresa finlandesa de pesquisa de antivírus F-Secure.
‘O aspecto perturbador é que o vírus tem uma capacidade destrutiva. Não víamos um vírus destrutivo como esse havia algum tempo.’
Virulentos – Vírus de computador raramente destroem arquivos hoje em dia. Eles evoluíram ao longo dos anos para transformar computadores desprotegidos em máquinas ‘zumbis’, capazes de realizar os comandos do autor do vírus. Esse exército de máquinas ‘ocupadas’ é geralmente usado para enviar centenas de mensagens de spam, desencadear ataques digitais em sites escolhidos e, em alguns casos, hospedar páginas que vendem de tudo, de vitaminas a pornografia. O primeiro MyDoom surgiu em janeiro e foi considerado o surto mais virulento de todos os tempos, infectando milhões de computadores ao redor do mundo.
Empresas de segurança mais uma vez aconselham os usuários de computador a não abrir e-mails de aparência misteriosa ou clicar nos arquivos anexos se não tiverem certeza da identidade do remetente. O surto mais recente chega às caixas de entrada de e-mail com uma variedade de assuntos, geralmente com os títulos ‘Approved’, ‘Your Credit Card’ e ‘You use illegal File Sharing…Your IP was logged.’ (Reuters)’
Cidade Biz
‘Tempo de navegação de internauta brasileiro é cada vez maior’, copyright Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 27/02/04
‘Os brasileiros navegaram mais por sites governamentais em janeiro do que usuários da web de outros países, revela a empresa de pesquisa Ibope/NetRatings. A maioria dos internautas do país visitou páginas oficiais em fevereiro para procurar informações sobre impostos.
Conforme levantamento da empresa, em janeiro, mais de 4,2 milhões de pessoas visitaram sites estaduais e federais para buscarem informações sobre IPVA, IPTU e Imposto de Renda. O dado corresponde a um percentual de 35% da base de internautas residenciais do país.
A companhia atualizou para 20,5 milhões o número de pessoas que têm pelo menos um computador em casa com acesso à Internet. Em janeiro, a empresa havia divulgado um total de 14,3 milhões de internautas residenciais no país em 2003, mesmo número do ano anterior.
A mudança ocorreu após a companhia ter incluído informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) liberada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em outubro.
‘Com a divulgação dos dados da PNAD 2002 atualizamos o universo de usuários potenciais no início deste ano, procedimento adotado em todos os países onde a Nielsen NetRatings atua’, disse o diretor de serviços de análise do instituto, Marcelo Coutinho.
Além do Brasil, os sites governamentais receberam um número significativo de internautas na França (31,2%) e Espanha (30,9%). Nos EUA, Reino Unido e Alemanha a média ficou em torno de 20% da base de internautas.
A pesquisa também continua indicando um aumento no tempo de navegação dos brasileiros. Em janeiro o tempo foi de 12 horas e 47 minutos, contra 12 horas e 20 minutos em dezembro, disse Coutinho.
Além do PNAD, a pesquisa do Ibope/NetRatings usa entrevistas trimestrais realizadas pela empresa por telefone em cerca de 1000 residências do país, escolhidas de acordo com o peso de cada região do país em termos de linhas telefônicas fixas. A margem de erro, segundo Coutinho, é abaixo de 2% para mais ou para menos.’
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‘Fundadores do Google entram para a lista dos mais ricos do mundo’, copyright Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 27/02/04
‘Os fundadores do site de buscas Google e a autora de Harry Potter, J.K. Rowling, entraram na lista de multibilionários da revista Forbes.
Rowling, que era uma mãe solteira desempregada, viu sua fortuna aumentar para US$ 1 bilhão depois da publicação de sua série Harry Potter e a posterior versão cinematográfica, disse a revista ontem.
Sergey Brin e Larry Page, os fundadores do Google, que se tornou o buscador favorito na Internet, também viram suas fortunas chegarem a US$ 1 bilhão.
O presidente da Microsoft, Bill Gates, é – segundo a Forbes – o homem mais rico do mundo pelo décimo ano consecutivo, com uma fortuna de mais de US$ 46 bilhões, mas o investidor Warren Buffett está se aproximando cada vez mais.
Quem já era multibilionário viu crescer sua fortuna ainda mais no ano passado, por causa das altas nos mercados internacionais. O total de pessoas cuja fortuna supera US$ 1 bilhão aumentou em 2003 para uma cifra sem precedentes de 587.
O total das fortunas desses 587 multibilionários subiu para US$ 1,9 bilhão, quase a quinta parte da gigantesca economia norte-americana. Buffett ganhou US$ 12 bilhões em 2003, o equivalente à economia somada de vários países africanos.’