Não é comum na imprensa pernambucana destinar alguns centímetros de coluna para artigos de análise e opinião. O jornalismo engessado no lead e na dita objetividade tira dos periódicos a possibilidade de abrir o leque para questionamentos e o exercício crítico do pensamento. O que se vê são as notícias (90%) separadas dos comentários (10%) de forma arrasadora. É aquele espaçozinho de todos os dias, tímido e frio, que se destina à argumentação como forma de relato.
Mas até no mundo do jornalismo, Deus pode intervir e fazer o milagre de uma publicação meter ao lado de uma matéria noticiosa um artigo de opinião. Foi o que aconteceu na edição de 24 de setembro, quando o diretor de redação do Jornal do Commercio, líder em circulação no Norte e no Nordeste, assinou um comentário contundente sobre o presidente Lula que ‘vem atentando contra a existência do jornalismo livre’.
É interessante que um jornal que dificilmente abre espaço para o contraditório grite em nome da liberdade. O jornalismo só defende uma ideia quando se sente acuado pelo contrário. Só é veemente e direto quando é diretamente atingido. Sim, o presidente Lula está passando dos limites, empolgado pela sua popularidade e narcíseo na quase onipotência que lhe conferiram. Mas a culpa é também da mídia, que durante esses oito anos de Lula ficou na corda bamba, entre ser opositora ou governista. Não definiu seu papel, o que na verdade é uma artimanha dos donos dos veículos de comunicação para não ficarem ‘mal na foto’. Pois agora o jornalismo caiu na própria armadilha. Agora precisa ser voraz, militante, abrindo espaço para a crítica à queima-roupa.
Debate e diálogo
Se a imprensa entendesse de uma vez por todas que sua função é promover o bem comum, talvez estimulasse o debate e o diálogo entre os diversos de forma séria, conseguiria contribuir verdadeiramente para a liberdade democrática e não estaria pedindo socorro ‘aos 44’ do segundo tempo’.
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Jornalista, Recife, PE