Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Apoiadores da causa ou aproveitadores da ocasião?

Após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) ao aprovar a união estável entre pessoas do mesmo sexo no país, concedendo a estes direitos iguais aos de um casal heterossexual, nos últimos dias um ato grandioso chamou a atenção de todo o país para a causa homoafetiva: o primeiro casamento gay em praça pública do Brasil. Este aconteceu em Teresina, capital do Piauí, considerada por muitos o fim do mundo. No entanto, esse mesmo lugar de bases conservadoras foi capaz de dar um pontapé no preconceito de muita gente e por à prova a união de dois casais de lésbicas em plena luz do dia.

Contudo, apesar da repercussão causada pelo evento, comentado por segmentos diferenciados da sociedade – e mesmo na mídia nacional –, um ponto em especial chamou-me a atenção: não é que de uma hora para outra tantas empresas e instituições passaram a apoiar a causa? A quantidade de anúncios veiculados nos meios de comunicação piauienses fazendo referência à causa homossexual ultrapassou todas as expectativas. Sob os argumentos de “Diferentes, mas Iguais”, “Diga não à Homofobia”, “Nós apoiamos essa causa”, ou mesmo a exploração de uma propaganda visual que valorizasse o tão difundido “arco-íris”, muitas organizações aproveitaram a deixa das matérias referentes à união homossexual para fazer coro da pauta da vez na mídia brasileira, em especial a piauiense.

De repente, todas as empresas viraram coloridas. De repente, passaram a se orgulhar de ter vínculos com a classe GLBTTS. Será que elas já se orgulhavam disso antes? Por que não ressaltar, por meio da mídia, os valores cultivados pelas organizações em geral – contudo, bem antes desses valores se tornarem o assunto mais comentado do momento? Pode até ser que a observação esteja sendo voraz, deixando de reconhecer a manifestação positiva de todas essas empresas perante a causa homossexual. Mas pode ser também que estas tenham agido impulsionadas pelo calor do momento, pelo fervor das discussões como forma de se mostrarem para a sociedade como organizações que se preocupam com o bem-estar das pessoas e principalmente com as dificuldades e constrangimentos do dia-a-dia destas.

Até que ponto

Cada vez mais, é perceptível que as empresas têm veiculado suas marcas e sua imagem às causas sociais, demonstrando uma forte tendência para a tão propagada responsabilidade social. Porém, a imagem das empresas que é repassada para a sociedade tem de condizer com a sua prática, e não apenas nas propagandas e nos discursos proferidos por seus diretores. Devido à importância do tema, bem como à expressividade da ação feita por estes casais homossexuais, boa parte dos espaços dos jornais foram cedidos para a discussão da causa. Somando textos, fotos e propagandas, por um momento, quem simplesmente folheava esses periódicos poderia até pensar que esse conjunto se tratava de uma grande e única matéria sobre a homoafetividade.

Comemorar é preciso. É, sim. Mas antes de tudo é necessário analisar até que ponto esse apoio é verdadeiro, até que ponto essas manifestações de aprovação serão postas em prática quando um homoafetivo bater às suas portas para solicitar os seus serviços. É aí onde elas terão de demonstrar o orgulho e o respeito enfaticamente propagado nas peças publicitárias que vêm estampando os jornais desde a decisão histórica do STF.