Equipes de mídia estrangeiras passaram a evitar a Faixa de Gaza após o seqüestro do correspondente da BBC Alan Johnston, há cinco semanas. Segundo Anshel Pfeffer, do Jerusalem Post [19/4/07], o medo dos jornalistas acabou por diminuir a cobertura sobre a região.
Foram poucos os profissionais de imprensa estrangeiros que se aventuraram na área depois do desaparecimento de Johnston – que é, por sinal, o único jornalista estrangeiro vivendo em tempo integral em Gaza. A Associação de Imprensa Estrangeira declarou, na semana passada, que Gaza passou a ser considerada uma espécie de zona proibida para seus membros.
Mesmo antes do seqüestro do repórter da BBC, a situação na região não era das melhores para jornalistas estrangeiros. A luta entre as facções Hamas e Fatah tornou arriscado viajar com proteção de algum dos dois lados, e fez com que o governo conjunto da Autoridade Palestina não pudesse mais garantir a segurança dos profissionais.
Para completar, grupos armados passaram a ter como alvo de seqüestro justamente os correspondentes estrangeiros, normalmente com o intuito de conseguir dinheiro ou favores do governo. Segundo Pfeffer, o número de seqüestros de jornalistas, contabilizado oficialmente em 22, é provavelmente muito maior, já que muitas vezes os casos são resolvidos discretamente.
Frustração e boicote
O que assusta no caso de Alan Johnston é que nunca um seqüestro foi tão longo. Na reunião geral da Associação de Imprensa Estrangeira, na semana passada, jornalistas reclamaram da situação em Gaza. Alguns chegaram a ameaçar um boicote à cobertura sobre assuntos ligados à Autoridade Palestina até que a segurança dos correspondentes seja garantida, mas a proposta não atingiu maioria. ‘Há uma grande frustração sobre a situação de Alan Johnston’, afirma Simon McGregor-Wood, chefe da sucursal da ABC e presidente da Associação. ‘E é claro que isso tem a ver com a falha da Autoridade em conseguir manter a lei e a ordem’, completa.
Com o afastamento dos jornalistas estrangeiros, a cobertura de Gaza passa para a mão dos stringers, palestinos que auxiliam os jornalistas ocidentais na apuração de reportagens, servindo muitas vezes como guias e intérpretes. Grandes organizações de mídia que no passado preferiam confiar a eles a menor responsabilidade possível, hoje dependem quase que inteiramente de seu trabalho. Aí também há problemas. ‘Quem usa stringers tem que peneirar seu material com muito cuidado’, afirma Jay Bushinsky, membro veterano da Associação de Imprensa Estrangeira. ‘Você tem que ser muito ingênuo pra acreditar que em um lugar como Gaza dá para se ter um repórter local completamente imparcial’.