Uma considerável parcela de repórteres, mesmo diante das diversas técnicas e recursos disponíveis à investigação jornalística, ignora a apuração, força motriz do jornalismo. ‘Para fazer jornalismo é preciso investigar’ (DEMENECK, Ben-Hur).
A informação, matéria-prima do jornalismo, figura, atualmente, em segundo plano, uma vez que uma parte das apurações que compõe o noticiário diário caracteriza-se pela imprecisão proveniente de fontes viciadas que utilizam jornalistas para emplacar notícias de interesses pessoais e escusos.
‘A atividade jornalística, muitas vezes, por depender de fontes mal intencionadas ou desinformadas, se faz valer de declarações, crenças falsas no contexto das notícias. Nestes casos, portanto, o jornalismo não gera conhecimento, apenas divulga informações ou conhecimentos falsos’ (VIRISSIMO, Vivian de Azevedo).
As demais informações provêm das assessorias de imprensa que, munidas de polivalentes comunicólogos, enviam às redações, a todo instante, milhares de dados compilados em releases para informar aos repórteres a angulação demarcada e específica sobre um determinado tema referente à empresa na qual atuam como profissionais da comunicação.
Um final ‘fofo’, sem amarrações
Sentados diante da telinha ‘mágica’ do computador, os repórteres observam a chegada de novos e-mails anunciando novidades. A pressão exercida para o fechamento da edição diária induz os jornalistas a optarem pelo caminho mais cômodo: restringir sua apuração a uma fonte disponível para comentar tais informações.
O excesso de releases, o impetuoso deadline e o enxugamento das redações amputaram a investigação jornalística, ‘processo indissociável de qualquer matéria, das pequenas notas às séries de reportagens’ (SANTANA, Adriana).
O profissional da comunicação precisa ‘apurar, apurar e apurar até que todas as dúvidas sejam eliminadas. Até que exista apenas uma história na qual se possa acreditar’ (DEMENECK, Ben-Hur), pois ‘a falta de elementos, como dados, depoimentos, documentos, além de dificultar a montagem da reportagem em si, também significa apresentar um produto final `fofo´, sem amarrações e que, ainda por cima, tornará a matéria desinteressante. O fato de possuir muitas informações contribui para que se tenha maior segurança durante o período de finalização e pode significar menor probabilidade de imprecisões’ (SANTANA, Adriana).
Notícias de interesse público
Capaz de despertar o senso crítico, o repórter que respalda a produção de suas matérias em uma concisa apuração jornalística transforma-se em um intérprete de fatos para a opinião pública. ‘O jornalismo transmite informações corretas e verdadeiras gerando, assim, conhecimento’ (VIRISSIMO, Vivian de Azevedo).
Ao utilizar seu faro jornalístico, astúcia para cogitar hipóteses, técnicas de reportagem e ferramentas de apuração, como o CAR (Computer Assisted Reporting), o jornalista oferece notícias de interesse público à sociedade. ‘O jornalista produz sentido perante os acontecimentos da realidade que nos cerca’ (FONSECA, André Azevedo da; VARGAS, Raul H. Osório).
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Jornalista, blogueira e assessora de comunicação freelance, Pedro Leopoldo, MG