‘Como todo mundo sabe, eu não vejo mais novela. mas não sei o que foi, talvez o fim das férias, o tempo ruim da semana passada, sei lá, tive uma recaída. E andei dando uma olhada em tudo que está por aí. Ficam aqui algumas considerações.
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‘Belíssima’ tem um problema. Um problema grave. A novela apresentou, logo no primeiro capítulo, com a força que poucas novelas conseguem, aquilo que realmente interessa numa trama que deve convencer o espectador a manter-se interessado por oito, nove meses seguidos: um conflito, um bom conflito. Então, ‘Belíssima’ começou bem: tem um conflito de respeito, o confronto entre Julia Assunção e Bia Falcão. Além do mais, tem duas atrizes de ouro interpretando os personagens: Glória Pires e Fernanda Montenegro.
Lembre-se de boas novelas e perceba que, desde o início, o conflito é estabelecido. Em ‘Vale tudo’, era mãe e filha, Raquel e Maria de Fátima. E o público em casa torcia para que cada capítulo tivesse, pelo menos, uma cena em que as duas travassem um diálogo. Em ‘Celebridade’, era Maria Clara Diniz e Laura Prudente de Costa. E desde o primeiro capítulo a audiência esperava o dia em que as duas iriam se pegar. Agora é Julia Assunção e Bia Falcão.
A grande qualidade de ‘Belíssima’ é também seu maior problema. Corre por aí que o personagem de Fernanda Montenegro vai morrer lá pelo capítulo 80. Não é uma necessidade dramatúrgica. Seria mais uma necessidade da atriz, que não estaria disposta a gravar por mais de 80 capítulos. Rompido o conflito, como continuar interessado na novela?
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Não faço muita fé nessa pesquisa que diz que o público rejeita ‘Bang bang’ por causa dos nomes em inglês dos personagens (o galã se chama Ben Silver), da inexperiência de Fernanda Lima para viver uma protagonista, das referências supostamente intelectualizadas demais do enredo (um psicanalista da novela chama-se Freud) e do desejo excessivo de vingança que move a trama principal.
Se fosse assim, como explicar o sucesso de ‘Que rei sou eu?’, de 1989, a novela mais citada como referência quando ‘Bang bang’ estava para estrear. Daquela vez, o público não se perturbou com nomes afrancesados como Ravengar, Crespy Aubriet, Bergeron, Loulou Lion, Gérard Laugier, Corcoran, e ninguém teve dificuldade de decorá-los
Fernanda Lima… fala sério, ela dá conta do recado direitinho, além de ser o rosto mais bonito atualmente no ar. Só para continuar comparando com o modelo ‘Que rei sou eu?’, o universo do western americano é muito mais conhecido dos espectadores do que as mil e uma referências à Revolução Francesa da novela de Cassiano Gabus Mendes. E vingança… vem cá, qual é a novela que não tem uma trama ou subtrama de vingança?
Se há mesmo uma rejeição a ‘Bang Bang’, a explicação é uma só: o público não gosta da história. E aí não há enfeite que dê jeito.
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A reação do público é mesmo difícil de se prever. A Record está com um bom exemplo atualmente no ar. A emissora acabou de exibir uma das melhores novelas do ano. ‘Essas mulheres’ foi uma produção de época caprichada, com um elenco impecável, uma trama muito bem escrita, ganchos curiosos, vilões implacáveis, heroínas sofredoras. Pegou o horário da bem-sucedida ‘A escrava Isaura’ e… não aconteceu nada. Poucas vezes conseguiu uma audiência que atingisse os dois dígitos. Para o seu lugar, a estação programou ‘Prova de amor’, uma tentativa de imitar o que se supõe tenha sido um dia o padrão global. Muito Rio de Janeiro, muito homem de peito nu, muita mulher com as pernas de fora e uma trama clássica: uma adaptação para os dias de hoje de ‘O conde de Monte Cristo’.
Adaptar o folhetim clássico não é fácil. Imaginar a situação de ‘O conde…’ na época atual é quase impossível. Mas neste aspecto os roteiristas fizeram bem: a trama convence. No entanto, o que está indo ao ar é quase ridícula. O texto é artificial. Os atores, que já provaram serem bons em outras produções, estão representando de forma amadora. Nada convence. No entanto, desde a estréia, ‘Prova de amor’ tem dado mais de dez pontos no Ibope e tem sido uma pedra no sapato – ou nas botas – de ‘Bang bang’, sua concorrente no horário. Vai entender.
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Tudo conferido, volto à rotina e prometo não ver mais novela.
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Então tá combinado: nesta sexta-feira, a partir das 17h, todo mundo na Sala Baden Powell para assistir ao show de Carlos José na série Na Hora do Chá. Carlos José é um cantor seresteiro, do tempo em que havia cantores seresteiros, é claro. Minha geração até hoje sabe de cor a letra de ‘Esmeralda’ (‘Vestida de noiva/ De véu e grinalda/ Lá vai Esmeralda/ casar na igreja’), sucesso nacional em algum momento dos anos 60. É claro que ‘Esmeralda’ está no roteiro. Mas tem muito mais: Caymmi, Lamartine, Lupicínio… Carlos José continua sabendo das coisas.’
Cristina Padiglione
‘‘Belíssima’ empata com ‘América’ na 1.ª semana ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 16/11/05
‘Belíssima estreou com 2 pontos a menos que América, mas reverteu a desvantagem até empatar com a antecessora no saldo da primeira semana: 49 pontos em Sampa e 71% de participação entre o total de ligados. América fechou carreira com 49 pontos de média geral, ante 50, 4 de Senhora do Destino. Como América não bateu Senhora, a Globo alega que não compara mais os números entre dois títulos porque nem sempre os contextos fazem justiça a tais paralelos. Balela. Basta a bola da vez superar a anterior para que o plim-plim rufe tambores sobre seus índices.’
REALITY SHOWS
O Globo
‘‘Você está demitida’’, copyright O Globo, 16/11/05
‘A rede americana NBC anunciou na noite da última segunda-feira que não haverá uma segunda temporada do reality show ‘O Aprendiz: Martha Stewart’, derivado do show apresentado pelo magnata Donald Trump. O programa sai do ar no mês que vem. O vencedor ganhará US$ 250 mil e um ano de estágio na Martha Stewart Living Omnimedia.
Perguntado se convidaria Martha para outra temporada caso o programa tivesse sido um campeão de audiência, um executivo da NBC disse que ‘não falava sobre hipóteses’. A rede esperava que Martha Stewart, que recentemente cumpriu pena por mentir num inquérito sobre crime financeiro, fosse um chamariz de público. Quando a produção do programa começou, ela ainda estava sob prisão domiciliar. Críticos alegam que a apresentadora não foi durona o bastante com os candidatos e por isso não teria cativado a audiência, a menor entre as estréias desta temporada nos Estados Unidos.’
SBT
Taíssa Stivanin
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SBT terá 12 boletins diários ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 16/11/05‘As injeções de resgate do jornalismo do SBT continuam. Até dezembro, a direção promete estrear boletins diários de notícias de um minuto durante a programação. Segundo o diretor de jornalismo, Luiz Gonzaga Mineiro, irão ao ar 12 boletins – três pela manhã, quatro à tarde e cinco à noite. Os apresentadores ainda estão sendo selecionados. Por enquanto, é certo que a jornalista Joyce Ribeiro, hoje apresentadora do Jornal da Manhã, comande os boletins da noite. O diretor pretende dividi-los entre regionais e nacionais. ‘Ainda estamos fechando os últimos detalhes’, diz Mineiro.
A produção de mais conteúdo jornalístico para o SBT faz parte dos planos de Silvio Santos para qualificação da audiência, plano que começou com a contratação de Ana Paula Padrão para apresentar o SBT Brasil. Com a valorização do jornalismo e a extinção aos poucos de programas mais trashes, espera-se conquistar um pouco da fatia perdida de público AB – que atrai mais anunciantes – e ter um perfil de audiência menos volátil, que muda de acordo com produto que está no ar. Veio daí o primeiro pedido de Ana Paula para mudar o horário do telejornal, que sucedia a novelinha mexicana teen Rebelde e herdava público inadequado.
JORNAL DA TARDE
Já o projeto de um telejornal local ao meio-dia está congelado. O patrão quer inseri-lo na grade, mas ainda estuda uma maneira de colocá-lo no ar sem o risco de retrair a audiência do seriado Chaves, no ar das 12h30 às 13h. Chaves é líder do horário, batendo até a Globo em alguns momentos – chega a registrar 14 pontos e alavanca o trilho de audiência da tarde. Isso, mesmo que alguns setores do canal ainda se incomodem com o feito de conquistar ibope com produções alheias – Xica da Silva que o diga.’