Na capital do estado do Ceará, que hoje é considerada uma metrópole regional, tivemos uma greve de professores que quase chegou a dois meses e, naturalmente, tal fato se tornou um prato cheio para a imprensa local, pois para alguns membros da comunicação educação só rende alguma coisa em termos jornalísticos em momentos de greve ou de assassinato dentro de uma escola, principalmente caso esta seja pública. As interpretações da mídia sobre a questão da greve foram extremamente maldosas com os professores, pois para opinião pública sempre se passou a ideia de que a greve era simplesmente pelo salário, o que muitos acabam assimilando e até tendo raiva dos professores pelo simples fato de não haver aula.
Claro que o Poder Público aproveitou o momento e usou de todos os artifícios para colocar a opinião pública contra os educadores, tachados de baderneiros, abusivos e até de estarem atrapalhando o bom andamento da vida na cidade. O pior de tudo que todas essas alegações foram prontamente aceitas pelos que fazem o Poder Legislativo em nosso estado, levando à declaração de ilegalidade da greve.
Recuperação que não dará resultados
A questão neste momento é que deveria haver uma reflexão sobre o que é ilegalidade, o que é baderna e o que é liberdade ou direito de ir e vir. Claro que o Ministério da Educação e Cultura ajudou a contribuir com a confusão, não levando em conta o valor real do Piso Salarial Nacional do professor e utilizando um valor aquém do que seria o valor verdadeiro para o piso (consultar a lei e a evolução monetária do valor). Claro que não adianta explicar nem promover discussão sobre o tema, pois a prefeitura de Fortaleza, que está atolada em denúncias de improbidade administrativa de seu staff governamental e já provou não ter compromisso com a educação de qualidade, pegou o valor do MEC e acabou promovendo uma “química” – tirou percentuais da gratificação para reajustar o salário dos professores, desenvolveu mais uma vez perdas de direito e ainda foi para imprensa falada, escrita e televisiva, com matéria paga a peso de ouro, para denegrir a imagem dos professores e dizer que a greve era política e tinha a ver com as eleições de 2012. O que doeu foi que poucos da imprensa defenderam a luta dos professores, ou fizeram uma investigação real do que é Piso Salarial, ou procuraram analisar nos termos da economia o valor real do piso.
O pior de tudo foram as retaliações que a prefeitura promoveu no período da greve e depois dela, incentivando os diretores de escola a castigar os professores grevistas com a tal recuperação das aulas nos sábados e até no período legal das férias de julho – uma recuperação que certamente não dará resultados.
Todos odeiam os educadores
Fortaleza é hoje uma cidade que tem no autoritarismo sua marca principal, mas ninguém diz nada e a imprensa, que deveria ser livre, não olha o verdadeiro sentido da informação, que é a imparcialidade em termos da divulgação dos fatos reais. Claro que é preciso denunciar o que vem sendo feito nesta cidade em termos de educação, pois são muitas as queixas de alguns jornalistas de ameaças quando uma notícia desagrada os que estão no poder.
Em tempos de democracia política, vivemos hoje uma democracia pautada pela distribuição das verbas publicitárias, que são objetos de cobiça de alguns meios de comunicação e, em função disto, não procuram divulgar os fatos verdadeiros e distorcem o caos que se instalou na educação do município, que hoje tem os índices mais fracos de uma possível história da educação na cidade. Claro que há fatores diversos envolvidos, mas o descompromisso da gestão é evidente e poucos são os que dizem ocorrer. Nossa mídia deveria dar mais espaços à educação para mostrar os espetáculos de assédio moral ocorridos com professores e incentivados por diretores no sentido de que pais duvidem da capacidade dos educadores.
A mídia em Fortaleza não pode ser submissa aos caprichos do poder, pois sabemos que hoje a prefeita tem uma página em jornal para, como articulista, falar de uma cidade que não existe. É pena que a mídia ainda esteja atrelada ao poder e não cumpra a função de informar a realidade. É triste saber que alguns jornalistas passaram pelos professores e hoje os desprezam… Todo espaço que se der para dizer das dores e dos queixumes dos educadores é pouco, mas infelizmente todos odeiam os educadores…
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[Francisco Djacyr Silva de Souza é professor, Fortaleza, CE]