A última rodada de palestras no 8º Seminário de Circulação da Associação Nacional de Jornais (ANJ), realizada na terça-feira (30/8), em São Paulo, dá sinais de que a chamada grande imprensa ainda não conseguiu fazer um diagnóstico do dilema em que se encontra: o crescimento das vendas de jornais, verificado muito recentemente, não representa garantia de boa saúde para as empresas no futuro próximo, em função do avanço das plataformas digitais – que não produzem receita suficiente para sustentar o negócio.
A falta de perspectivas pode ser avaliada pela abertura da reportagem com que o Estado de S.Paulo registrou o evento: “A indústria de jornais no Brasil precisa achar novos formatos para vender conteúdo em canais fora do tradicional meio impresso”, diz o texto. Qual a novidade?
Daí, prossegue com platitudes como “o mundo ganhou mobilidade e a circulação de informações está nos celulares, tablets e outros equipamentos que o consumidor carrega consigo” – e blá, blá, blá, e por aí vai.
O descuido com o texto reproduz a falta de ideias sobre como convencer esse público a pagar por informações jornalísticas fora do suporte tradicional do papel.
Houve até quem defendesse a cobrança de mensagens curtas, contendo resumos de reportagens, enviadas para telefones celulares – faltou explicar como o leitor será convencido a pagar por isso.
Qual o valor?
Enquanto não encontram um modelo de negócio que consiga inserir e sustentar a mídia tradicional nos novos meios, a solução mais aceita pelos executivos dos jornais parece ser a de restringir a oferta de conteúdo jornalístico nas plataformas digitais.
Isso quer dizer que, em vez de investir na formação de leitores que usam esses equipamentos, as empresas preferem “esconder” o produto jornalístico.
A circunstância deveria estar levando os estrategistas da imprensa a um debate mais profundo sobre o que é a notícia – se ela ainda depende de uma empresa nos formatos tradicionais para acontecer, ou se necessita do referendo de um jornal para ser levada a sério.
Outra questão que a mídia se nega a discutir: qual o valor real do jornalismo que está sendo oferecido aos leitores no dia a dia, mesmo no papel?
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Luciano Martins Costa