A jornalista e livre docente Dulcília Shroeder Buitoni destaca, em seu livro Mulher de Papel – edição de 2009 –, que alguns padrões da ‘ditadura da moda e da beleza’ foram afrouxados, mas por favorecerem o aumento do consumo com base em termos individualistas e mercantilistas. Esse modelo encontra ressonância em alguns telejornais que privilegiam a estética de suas apresentadores e repórteres, e não sua capacidade como jornalistas, o que gera um duplo preconceito contra aquelas não dotadas dos paradigmas estéticos e contra aquelas que se encaixam nesse perfil e são vistas como profissionais que galgaram seu espaço pela beleza e sensualidade, e não, talento.
Para o pensador francês Guy Debord, já nos anos 60 do século 20, as pessoas mantinham relações midiatizadas e objetificadas dentro da Sociedade do Espetáculo. E até hoje a imagem se torna um dogma: a aparência da vida social é mais importante que a própria e em alguns casos é até pirotécnica.
A mulher, pela trajetória humana, sofre diversos abusos e tem direitos e reconhecimento na participação da evolução humana negados por alguns setores da sociedade. ‘Quando os meios de comunicação comparam a mulher a uma garrafa de cerveja constroem um significante atrativo para ocultar um significado que coloca a mulher em posição subordinada aos interesses do homem’, define Maria Cecília Garcia, professora de Jornalismo e pesquisadora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, no livro Gênero, Mídia e Sociedade (2007).
Quadro feminino tende a melhorar
O filósofo alemão Wolfgang Fritz Haug aponta, em sua obra Crítica da Estética da Mercadoria (1971), a crescente necessidade de expressar sensualidade para vender um produto dentro da Sociedade do Espetáculo que passou a afetar homens, mas principalmente mulheres. Desde estagiárias a diretoras de redações, de assistentes de produção a apresentadoras, as mulheres sofrem com salários menores, assédio moral e, para deteriorar mais ainda o quadro, assédio sexual.
Dentre esse meio de problemas, que no passado foi muito pior, profissionais se destacam independente de possuírem atributos físicos dignos de miss ou um perfil pseudo-intelectual, arrogante e estereotipado. Na emissora Globo, tão castigada pelos críticos que em alguns momentos parecem esquecer que ela também produz bom material, cito quatro exemplos.
Na ‘nova geração’, a repórter Daiana Garbin, do SPTV, tem uma beleza clássica. Indiferente a esse fator, cobre desde sessões na Assembleia Legislativa a enchentes, enquanto muitos repórteres evitam situações de risco, como no artigo de Adamo Bazani, no Observatório da Imprensa. Maria Júlia Coutinho, que vem da escola da TV Cultura, fornecedora de bons quadros ao jornalismo nacional, tem mostrado que não ocupa o espaço na grade global apenas por fatores raciais e não busca ser mais do que a matéria. Já as jornalistas Sandra Passarinho e Neide Duarte são exemplos de que para uma boa matéria não é necessário ser jovem. As duas mantém uma ótima narrativa, quebrando o conceito de que para ser jornalista basta ser apenas curioso. E com sua forma mais natural de falar agradam e atraem o telespectador para temas de cunho sócio-político-econômico. Com esses exemplos, e outros que injustamente o autor desse texto não pode citar para não prolongar a leitura, o quadro feminino no telejornalismo brasileiro tende a melhorar.
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Jornalista