Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

As ofensas do primeiro ministro


Desta vez o desaforo com as mulheres acontece no assim chamado primeiro mundo: o primeiro ministro italiano Silvio Berlusconi, famoso por suas festas com prostitutas e pelo divórcio provocado pelo relacionamento com uma ninfeta, parece ter finalmente provocado uma reação das italianas. E tudo porque resolveu fazer ironia com uma deputada dizendo que ela é mais bonita do que inteligente, como registrou a Reuteurs no na quinta-feira (22/10):




‘As controvertidas declarações do galanteador primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, sobre uma deputada opositora, despertaram a ira das mulheres italianas, fazendo ressurgir no país o que alguns chamam de uma `nova onda feminista´. Mais de 97 mil italianas já assinaram o documento Mulheres Ofendidas, depois que Berlusconi disse que a deputada Rosy Bindi, de 58 anos, era `mais bonita do que inteligente´, em um golpe irônico contra sua aparência. No dia 7, o premiê participou de um programa de TV no qual Rosy defendia o presidente Giorgio Napolitano dos ataques feitos por Berlusconi. O líder italiano havia criticado Napolitano por sua reação à revogação da lei que garantia imunidade judicial para as quatro maiores autoridades do Estado. Durante o programa, Rosy não poupou o premiê: `Não sou uma mulher a sua disposição´. Dias depois, o jornal La Repubblica começou a promover um abaixo-assinado contra Berlusconi.’ (O Estado de S.Paulo, 22/10/2009).


O manifesto do La Repubblica diz:




‘É evidente que o corpo da mulher se tornou uma arma política de capital importância na mão do presidente do Conselho. É usado como dispositivo de guerra contra as discussões livres, o exercício da crítica, a autonomia do pensamento.’


Pouco sensível


A matéria dada no Estadão prossegue::




‘A deputada Rose Bindis afirmou que o apoio que vem recebendo é um sinal de que um `novo feminismo´ está nascendo na Itália, país que o premiê diz ser a `terra natal de grandes amantes e playboys´. Após a repercussão negativa, Berlusconi tentou se defender, afirmando que sua declaração foi uma piada que fez em um momento de decepção. Mas não foi a primeira vez que ele ironizou a aparência de Rosy. Ao ser criticado por sua ex-mulher por escolher somente candidatas atraentes para a eleição para o Parlamento Europeu, em junho, Berlusconi respondeu: `O que há de errado se elas são bonitas? Não podemos ter só Rosy Bindis´’.


Tomara mesmo que um novo feminismo esteja nascendo não só na Itália, como em todo mundo. Um feminismo que se sinta ofendido e não aceite atitudes como a do primeiro-ministro, que, alías, não é o primeiro a ofender políticas apelando para o aspecto físico. No Brasil, em 2007, tivemos um comentado caso em que o falecido deputado Clovodovil Hernandez disse que uma colega de Parlamento, a deputada Cida Diogo, não poderia se prostituir, mesmo que quisesse, porque era muito feia.


Quando ficam sem argumento, os homens parcem gostar de ofender as mulheres dizendo que elas são feias. Como afirmou uma senadora italiana, ‘é preciso dizer ao Berlusconi que ele não é nenhum George Cloney’. Ele ofendeu uma deputada, atingiu as mulheres italianas e as mulheres em geral, ao pagar prostitutas para uma festa e dizer que não sabia que elas eram profissionais.


Talvez, de todas, a ofensa maior, seja justamente confundir prostitutas com mulheres que ‘trabalham’, embora, é preciso admitir, o dinheiro delas pode até vir mais fácil, mas nem por isso sem sacrifício, como das outras trabalhadoras. Se o ministro errou, pode-se atribuir o erro à falta de caráter. O problema é que a imprensa italiana não deu a atenção devida ao fato. Só o jornal de oposição parece ter tomado as dores das mulheres italianas, mas apenas porque viu no manifesto uma forma de atingir o seu opositor. A causa das mulheres, ao que tudo indica, pouco sensibiliza a imprensa – lá como cá.

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Jornalista