1.
Evite nomear os anônimos. Não é mérito algum enaltecer ou criticar um desconhecido. Ele acabará sabendo, de alguma forma, e você poderá passar por uma saia justa tanto pelo elogio quanto pela crítica. O nome é sagrado, conceda o privilégio do anonimato. No dia-a-dia, prefira exibir os nomes que já tenham sido expostos.
Observação: cite abundantemente os ilustres desconhecidos. Enalteça os famosos dos lugares inusitados e das metrópoles distantes.
2.
(A)lienarFaça o leitor se sentir um completo ignorante. Isto ajudará com que o seu texto seja visto como o manancial privilegiado dos conhecimentos. O leitor deve ser alienado do mundo que você descreve. Explore as catáforas.
3.
(P)reservarEvite exibir-se como o autor das suas idéias originais. Assim é mais fácil impedir o leitor de se sentir igualmente capaz de ter idéias, nivelando-se a você. Preserve a origem dos seus pensamentos sendo discreto. Se quiser, muito, veicular uma idéia original, faça parecer que a recebeu pronta, das mãos do anjo misterioso. Explore os artigos definidos.
4.
(A)dornarEndosse sua argumentação com os números. Sempre inclua, preferencialmente enfatizando a sigla, a menção à instituição que os gerou. Não se esqueça: em algum lugar há números adequados para adornar qualquer que seja o despautério.
5.
(C)onfundirSeja vago. Alienar faz o leitor se sentir ignorante. Confundir faz o autor e seu texto serem vistos através da névoa do mistério. Dependendo do tamanho da chamada e do nome do editor, o leitor irá atribuir à própria ignorância a existência da névoa. Evite apresentar as conclusões.
6.
(D)issimularQualquer que seja a sua inclinação, critique o poder vigente. Quando você quiser enaltecer o poder, vai bastar não dizer nada, e isto será considerado um elogio da sua parte. O texto perfeito não tem palavras.
7.
(A)mbicionarSe você quer ser membro da elite, assuma o ponto de vista dela. Aos poucos, não haverá distinção entre o seu ponto de vista e o da elite.
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Filósofo, mestre e doutorando em Linguística, professor e programador