As sociedades estão em constante processo de transformação. A técnica desenvolvida pelo homem, no início da revolução industrial da Inglaterra (século 18), foi essencial para culminância de novos valores culturais. A partir de então, percebe-se que o ideal do meio técnico-científico informacional, defendido pelo geógrafo Milton Santos, é coerente diante dos fenômenos sócio-espaciais.
Diante destas concepções, entendemos que a partir do momento que uma sociedade evolui tecnicamente, seus valores culturais tendem a se modernizar. Desta feita, a educação como fonte de comunicação é função básica para o desenvolvimento ético e social de uma dada sociedade. E para que a educação não fique à mercê do mundo ‘tecnificado’, surge daí a o contexto da educomunicação. Vale ressaltar que, quando nos referimos a educomunicação, estamos fazendo alusão à ação, pois, como diz Donizete Soares, ‘educação e/ou comunicação – assim como a Educomunicação – são formas de conhecimento, áreas do saber ou campo de construções que têm na ação o seu elemento inaugural’.
Não obstante, interpretamos a educomunicação como um campo de pesquisa, de reflexão e de intervenção social, cujos objetivos, conteúdos e metodologia são essencialmente diferentes tanto da educação escolar quanto da Comunicação Social. Pois, a educação é, de acordo com Paulo Freire, ‘um baú de surpresas onde estão guardados todos os mistérios do mundo, e ao abrirmos estaremos fazendo descobertas que transformarão por completo as nossas vidas’. E estas descobertas vem à luz da conscientização, que é mais que uma simples tomada de consciência, pois supõe, por sua vez, o superar da falsa consciência, que quer dizer, o estado de consciência semi-intransitivo ou transitivo-ingênuo, e uma melhor inserção crítica da pessoa conscientizada numa realidade desmitificada (Paulo Freire).
Prática cidadã não se encerra em sala de aula
A educomunicação é, quase sempre, encarada como um campo de relação entre saberes. É um espaço de questionamentos, de busca de conhecimentos e construções. É também um espaço de ações e experiências que levam direção a outros meios, com outras ‘formas’. Assim, na ótica de Soares, ela constitui-se justamente das múltiplas relações que propiciam uma ligação entre a educação com as novas formas de comunicação.
Na compreensão de que a educação é também comunicação, as práticas de atividades possibilitaram um engajamento entre ensino-aprendizagem, daí a necessidade de qualificação de um docente preparado do ponto de vista filosófico-tecnicamente. ‘O professor que efetivamente esteja preocupado em educar, inserindo a cidadania em sua prática, precisa saber que a prática cidadã não se encerra em sala de aula, muito pelo contrário, pois o espaço escolar não deve apenas ser o único ponto de um processo, mas toda esfera social (GAIA, 2001).
O campo da era digital
A educomunicação materializa-se, então, nas práticas escolares, com todo o processo de ações e reflexões, tendo, todavia, como principal foco a prática da cidadania, quase presente no exercício da expressão comunicativa por parte de todos os agentes sociais envolvidos. ‘Os professores precisam aprender a utilizar a mídia não como resolução dos problemas impostos pela prática didática, mas como proposta que traga uma fonte de aprendizado a mais para ser trabalhada em sala de aula’ (GAIA, 2001, p. 35). Neste viés, a escola não pode mais ficar distanciada dos meios de comunicação, que, exercendo hoje uma influência decisiva, pois todos os alunos estão, ou querem estar, inseridos no meio eletrônico-digital.
As novas formas e técnicas que o campo da educação assume nos conduzem para a construção de uma sociedade mais igualitária e consciente, haja vista que, como diz Paulo Freire, ‘na medida em que a reconstrução nacional é a continuidade da luta anterior, do esforço anterior em busca da independência, é absolutamente indispensável que o povo todo assuma, em níveis diferentes, mas todos importantes, a tarefa de refazer a sua sociedade, refazendo-se a si mesmo também. Subjacente a estas questões, compreendemos que: se nós constituímos a sociedade podemos construir, então, uma nova padronização educacional, que será o símbolo de uma sociedade inserida e engajada no campo atual, o campo da era digital.
******
Geógrafo e bacharelando em Comunicação Social – Jornalismo, Gurinhém, PB