Desde que deixou Goiânia, onde era dono de uma rádio FM, retornando a São Paulo, o jornalista Jorge Kajuru tem-se metido numa série de confusões com colegas da mídia esportiva. É difícil saber com quem ele não anda às turras. O primeiro embate – e, infelizmente, ainda não finalizado – foi com seu companheiro de microfone Milton Neves. As rusgas com o apresentador da Jovem Pan e da TV Record já foram motivo de longas abordagens neste Observatório. Depois, o apresentador do Esporte Total, da TV Bandeirantes, bateu de frente com jornalistas cariocas, em especial Renato Maurício Prado e Fernando Calazans, de O Globo, Márcio Guedes, de O Dia e TV Nacional, e colunistas do Lance!.
Tudo começou, caro observador, com a entrevista que Romário deu a Kajuru. O Baixinho, de língua afiadíssima, abriu fogo contra um grupo de jornalistas que ele, digamos, parece não tolerar. A julgar pelo desdobramento da entrevista, o sentimento é o mesmo do outro lado. Os colegas de Kajuru não gostaram da forma como a entrevista foi conduzida. Ele teria deixado o Baixinho à vontade para espinafrar parte dos integrantes da mídia esportiva. Em muitos momentos do bate-papo, Kajuru se deliciou com a ofensiva de Romário. A grita foi geral. E não sem razão.
Até Juca Kfouri, padrinho e fiel escudeiro de Kajuru, sentiu-se incomodado com as declarações do ex-jogador. Tanto que, em seu programa noturno na CBN, Juca analisou (e criticou) pontos da entrevista. Até onde sei, Roberto Assaf, colunista do Lance! e comentarista do Sportv, foi o primeiro a se insurgir publicamente no jornalismo impresso. Ele não admitiu os gracejos de Kajuru e levou esse descontentamento a sua coluna no jornal. As críticas a Kajuru, o censor, foram se sucedendo, abertas ou indiretamente. Fernando Santos, também do Lance!, foi firme em seus comentários. Com o título ‘Ditadura da notícia: vai te catar, Kajuru!’, o colunista atacou o comportamento ético do apresentador da Bandeirantes.
‘Ontem, no dia do triste aniversário dos 40 anos do golpe militar de 1964, o apresentador Jorge Kajuru completou um ano de Esporte Total, na TV Bandeirantes. Um programa marcado por opiniões fortes e ataques à imprensa’, desabafou no início de seu artigo. E concluiu com forte advertência: ‘Para que o programa possa comemorar outros aniversários, desejo que o apresentador seja fiel ao jornalismo, sem leviandades. Ou então, com todo o respeito e o bordão emprestado: vai te catar, Kajuru’.
A censura explícita de Kajuru chegou à TV Record, quando ele questionou a divulgação de notícia segundo a qual o atacante Vagner Love, do Palmeiras, estaria se transferindo para o Santos. O autor do ‘furo’ foi Paulo Roberto Martins, o Morsa, comentarista da Rádio Globo e do programa Terceiro Tempo, da Record. Kajuru ridicularizou a informação. Fez pior: preferiu desqualificar a notícia sem apurá-la a fundo, descumprindo uma das regras do bom jornalismo. Morsa deu a informação correta: Vagner Love tinha, de fato, sido oferecido ao Santos. O time de Vila Belmiro desistiu do negócio depois que o assunto ficou conhecido de todos.
Bem, inimigos!
As vítimas do fogo amigo de Kajuru têm aumentado em ritmo alucinante. Galvão Bueno, Renato Maurício Prado, José Maria de Aquino e Sérgio Noronha foram duramente repreendidos por Kajuru, dia desses. O apresentador da Band criticou, em seu programa diário, a forma como os jornalistas presentes ao Bem, amigos!, do Sportv, conduziram a entrevista com Pelé. Era a primeira aparição pública do rei no Brasil após a polêmica lista dos 125 maiores jogadores do mundo. Kajuru entendeu que os colegas do Bem, amigos! deveriam ter sido mais duros com Pelé.
O rei deixara grandes nomes do futebol brasileiro fora de sua relação. Entre tantos, Rivellino, Tostão, Gérson, Nilton Santos, Coutinho, Zito. Kajuru teria aparente razão em condenar os entrevistadores, não fosse ele membro dessa mesma mídia esportiva. Não custa lembrar que cabe a sindicatos, associações, federação e a veículos como este Observatório o papel de vigiar os deslizes da imprensa brasileira.
Mais do que esses órgãos, compete sobretudo ao público brasileiro – o consumidor final – fazer este tipo de julgamento. A partir do momento em que determinado jornalista passa a controlar o que o outro fala ou deixa de falar, o espaço dedicado exclusivamente às notícias do esporte, por exemplo, fica seriamente comprometido. Começa a dar lugar a explicações sem-fim, com réplicas e tréplicas intermináveis. Os feridos serão muitos.
Kajuru está se metendo em seara totalmente alheia ao seu ofício no jornalismo. Censurar os próprios atos, vá lá! Agora, pôr-se como defensor da ética na profissão, expondo companheiros de forma ridícula, não é atitude que se elogie. O máximo que o jornalista pode fazer é representar o outro no sindicato da categoria ou mesmo na Justiça, quando, naturalmente, sentir-se ofendido. E só. Quando o profissional se põe nessa condição de franco-atirador – impondo publicamente regras de conduta – está ultrapassando determinados limites e, principalmente, colocando em risco a real função para a qual foi contratado, a de informar o público.
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Jornalista em Brasília