O Brasil recebeu, na semana passada, a visita de duas presidentes sul-americanas: a argentina Cristina Kirchner e a chilena Michelle Bachelet. Mas para a imprensa – tão insensível às questões femininas – foi mais uma oportunidade perdida.
Além da foto oficial do encontro da Unasul (União Sul-Americana das Nações), onde as duas mulheres eram um interessante destaque entre tantos homens de terno preto, pouco se soube das duas.
Cristina Kirchner apareceu no noticiário apenas porque sua popularidade está em queda. E Michelle Bachelet só ganhou algum espaço porque foi eleita a presidente temporária da Unasul. Graças a essa condição, sua foto com o presidente Lula foi destacada e suas declarações divulgadas na matéria dedicada ao encontro. Assim mesmo, dividindo espaço com as declarações de Lula.
A imprensa preferiu focalizar as atitudes masculinas, ou melhor, a briga entre os presidentes da Colômbia e Equador e a tensão no encontro de Lula com seus colegas mais polêmicos: Correa, Evo e Chávez.
Estariam disponíveis?
Pode-se até alegar que o tratamento dado às presidentes (será que deveríamos dizer presidentas?) foi correto: são apenas dois mandatários entre doze participantes. O que a imprensa não percebeu é que são dois casos excepcionais: as primeiras mulheres eleitas para a presidência da República do continente sul-americano. Se levarmos em conta que Hillary Clinton, candidata à nomeação pelo Partido Democrata norte-americano, está sendo considerada carta fora do baralho, a situação de Kirchner e Bachelet se torna ainda mais extraordinária.
Será que nenhum repórter ou pauteiro teve a curiosidade de saber o que as duas presidentes sul-americanas acham da possível derrota de Hillary Clinton e do fato de a América Latina – tradicionalmente considerada mais machista do que os Estados Unidos – ter conseguido eleger uma mulher antes dos norte-americanos? Talvez as presidentes não estivessem disponíveis para entrevistas, mas isso não justifica o fato da presença delas ter passado quase despercebida pela imprensa.
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Jornalista