Desnuda-se a mulher – ilegítima? – do político, este, sim, ilegítimo na sua posição de presidente do Senado da República. Desnuda-se por dinheiro, mas sem o esconder e parece que, assim, se torna mais importante, expondo uma certa nudez natural para todos os homens. Lança-se ao mundo sem amarras, sobressaindo a ele e aos que o cortejam. Enquanto ele, lutando para não perder nem uma migalha do poder pelo qual lutou tão arduamente ao longo da vida, é agora quem tem que se esconder – e angariar apoio. Pelo preço que outros homens lhe impõem.
O gesto de Mônica, sem dúvida audacioso, talvez esteja sendo tão comentado porque acena para a possibilidade de um fácil e barato acesso a espaços privados de certas elites, que carregam um quê de mistério e sedução pela simples compra do exemplar de uma revista. Mas, de fato, não creio que isso aconteça porque este espaço nos é estranho sob muitos aspectos e, assim, até nos desconcerta, acostumados que estamos a uma vida de numerosos problemas e soluções limitadas, em um dia-a-dia com um ritmo próprio que se nos impõe.
Nem com fotos tão reveladoras temos como compreender a confusão que nos desafia a todos: um estranho desencontro de pessoas que estiveram tão próximas, a ponto de gerar uma filha, e que agora parecem precisar de uma cara e obscura intermediação para que possam… se comunicar?! Parece-nos algo totalmente inacessível, inclusive por todos os desdobramentos que tal relação ganhou, para fora dos lares envolvidos, mas para dentro de nossa vida pública.
História se repete
Por isso mesmo, creio que este apelo de marketing da revista certamente não se realizará. As fotos de Mônica Veloso nua nunca possibilitarão qualquer acesso ao mundo destas elites, nem mesmo uma aproximação destas conosco, por mais revistas que sejam vendidas. Antes, em que pese a beleza nelas estampada, na verdade elas são um exemplo do profundo abismo entre estas elites, as classes médias e o povo. Enfim, neste barco em que estamos sendo levados, todos saem perdendo, inclusive a revista em mais de uma de suas ofensivas sensacionalistas.
Mostrando-se desprendido, o presidente do Senado acaba de pedir licença do cargo por 45 dias, mas é impossível prever o impacto desse seu gesto. Surpreendentemente, as fotos publicadas, quem sabe, nos dêem também uma pista. Intencionalmente – ou não –, a foto de Mônica sentada de frente para as costas de uma cadeira é uma imitação quase perfeita da famosa fotografia de Christine Keeler, uma showgirl que foi o pivô de um escândalo que aconteceu na Inglaterra no começo dos anos 1960, em plena Guerra Fria. O então secretário de Defesa, John Profumo, começara um relacionamento extraconjugal com Christine, que também mantinha um relacionamento com um adido naval soviético de alto nível – o que não poderia ser mais perturbador naquela época. Depois desses fatos terem sido trazidos a público, Profumo renunciou ao cargo – e a seu mandato legislativo, uma vez que era membro da Câmara dos Comuns e uma das evidências da ligação entre os dois foi a dita fotografia, supostamente batida por Profumo.
Apesar destas coincidências, que não devem ser desconsideradas, não creio que seja o caso de se dizer que a história está a se repetir como farsa: creio que nossa crise é muito mais complexa e nem todos podemos sair perdendo.
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Professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense