Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Assim nasce uma autocracia

A polêmica gerada pela declaração do presidente da República do Brasil, endossando a reeleição permanente do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, causou sérios inconformismos bem como abriu várias indagações por parte de segmentos especializados da mídia brasileira, notadamente os leitores mais atentos aos artifícios adotados em um sistema de governo republicano na América Latina. Segundo o presidente brasileiro, o povo venezuelano possui o pleno direito de poder escolher, consoante os ‘preceitos democráticos’ adotados por aquele país, a melhor forma de se conduzir a atividade estatal.


Ratificando a assertiva, o próprio presidente da República Federativa do Brasil proferiu, ainda que a prolação tenha sido dissimulada, sobre o agrado que lhe proporcionaria ser reeleito por um número indeterminado de vezes, uma vez que estamos inseridos em uma autêntica nação democrática.


Decerto, com essa postura, o presidente brasileiro confere completamente a disseminação de uma cultura voltada para a produção de cidadãos apaniguados e, não obstante, ineptos, especialmente no que concerne aos direitos e garantias fundamentais inerentes aos cidadãos de qualquer país que tenha acolhido a democracia como forma de representativa de liberdades positivas e negativas frente ao Estado.


Estranhos índices de aprovação


Em relação ao caso da Venezuela, uma breve observação demonstra o porquê dessa decisão inovadora que parece começar a criar raízes em países menos aculturados acerca dos princípios reguladores de uma Constituição. Como pode um povo extremamente oprimido por barreiras das mais diversas impostas pelo seu próprio presidente (o da Venezuela) lograr algum direito de decidir algo? Se bem analisamos as circunstâncias que cingem esse fato um tanto constrangedor, trata-se de uma afronta indecorosa aos bons costumes, onde uma simples manifestação simpatizante aos ideais socialistas pode causar efeitos potencialmente suscetíveis de macular ainda mais a feição da política brasileira.


É de causar estranheza os altos índices de aprovação divulgados pelo Ibope de um representante do povo com posturas dessa magnitude, qual seja, tendente a abolir expressamente direitos pessoais. Entretanto, discursos com maior preparo substancial não se caracterizam como seu ponto forte.


Esclarecer ‘mal-entendidos’


Para compensar, a imprensa brasileira – agindo, diga-se, de maneira coerente com sua função – não deixou por menos: no dia seguinte alguns sites estavam fomentando questões que iam de encontro à infeliz afirmação do maior representante do Poder Executivo federal, formulando enquetes e fóruns apimentados, antevendo as opiniões populares que, ressalte-se, foram bastante oportunas.


Provavelmente, depois dessa manifestação de apreço a sistemas ‘republicanos’ e estereótipos contrários ao modelo brasileiro, nosso presidente irá medir – seja qual for o ‘instrumento’ a utilizar – suas exteriorizações para que não seja alvo das conseqüências de seus próprios atos, devendo ulteriormente esclarecer ‘mal-entendidos’ ante a opinião pública; mesmo que muitos não acreditem, esta ainda é fundamental para a sustentação de nosso país.

Nota da redação do OI: Por problemas de edição, este artigo foi originalmente publicado com a assinatura incorreta de Antonio Augusto Brandão. O autor da matéria é Leonardo Passos.

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