Que o futebol é paixão nacional, posso dizer até mundial sem exagerar, ninguém duvida. Até quem mantém certa distância do esporte, para não ser considerado um alienígena, adota um time evitando constrangimento ao ser interrogado a esse respeito numa conversa de bar.
Nós, brasileiros, dificilmente saímos incólumes do contágio do vírus da bola. Passionais por natureza, estamos sempre ligados a um time. Exigir de alguém que atue no meio distanciamento é impossível. Os árbitros têm suas preferências. Então, jornalistas e comentaristas estão perdoados por também serem torcedores. Mas até onde essa paixão deve interferir numa avaliação analítica?
O comentarista Neto, da Rede Bandeirantes, como péssimo torcedor, fez críticas injustas, no meu entendimento, ao dirigente Mário Gobbi, vice-presidente de futebol do Corinthians, pelo modo como negociou atletas do clube. As dificuldades do clube, a necessidade de dinheiro e a força econômica do futebol europeu não vêm ao caso, no momento. Quero abordar a maneira como o assunto das transferências foi abordado.
Paixão e informação
Longe de mim acusar alguém de apologia à violência, mas a indignação desmesurada do comentarista com certeza influi no modo do torcedor comum enxergar o fato. Quem informa e analisa, tem por obrigação ser justo, comedido e, principalmente, professoral. Nossa população é mal instruída e, infelizmente, dá mais atenção ao noticiário esportivo do que aos informes políticos. Vejam os exemplos de quem elegemos, apesar de todas as reportagens de corrupção mostradas no Jornal Nacional.
Um analista, com diploma ou não, tem por obrigação instruir o telespectador ou o leitor a respeito do funcionamento da matéria de que trata. Deixar-se levar pela paixão em nada contribui com a qualidade da informação, seja no caderno de esportes, política ou economia. E acredito que esse seja o principal objetivo do jornalismo.
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Funcionário público, Sanharó, PE