Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Ateísta, ela doou livros a universidade católica

A polêmica jornalista italiana Oriana Fallaci, que se dizia ateísta, deixou a maior parte de seus livros e anotações para uma universidade pontifícia em Roma. Oriana, que morreu em setembro, aos 77 anos, vítima de câncer, afirmava ter grande admiração pelo papa Bento 16.


A jornalista descrevia o pontífice como um aliado em sua campanha para unir os cristãos na Europa contra o que via como uma cruzada muçulmana contra o Ocidente. No ano passado, quando já lutava contra a doença, Oriana teve um encontro privado com Bento 16, que havia sido eleito poucos meses antes, na residência papal de verão de Castel Gandolfo. Em uma de suas últimas entrevistas, ela disse ao Wall Street Journal: ‘eu sou ateísta, e se uma ateísta e um papa pensam as mesmas coisas, elas devem ter algo de verdadeiro’.


Obras raras


O papa ficou surpreso com o presente para a Universidade Pontifícia de Latrão, que inclui obras que datam do século 17 e volumes sobre a formação da Itália moderna, história americana, filosofia e teologia. ‘A veneração que ela tinha pelo senhor a levou a fazer esta doação’, afirmou o reitor da universidade, monsenhor Rino Fisichella, durante cerimônia para anunciar o presente. Fisichella disse que o material doado será chamado de Arquivos Oriana Fallaci. Bento 16 agradeceu ao sobrinho de Oriana e a sua família durante a cerimônia, para depois discursar brevemente sobre a busca da verdade na ciência e no meio acadêmico.


Fisichella contou que, poucas semanas antes de morrer, Oriana enviou cerca de 20 caixas de livros para a universidade romana. Ainda há obras em suas residências de Nova York e da Toscana a ser enviadas, assim como suas anotações jornalísticas.


Luta contra o Islã


Depois de décadas conduzindo entrevistas com personagens grandiosos, como Henry Kissinger e o aiatolá Khomeini, e cobrindo guerras como correspondente para dois dos maiores diários italianos, Oriana concentrou suas últimas energias em ataques ao mundo muçulmano – que ela considerava inimigo da civilização Ocidental. Nos últimos anos, após os atentados de 11 de setembro nos EUA, ela publicou ensaios e livros sobre o tema. Recentemente, a jornalista era julgada no norte da Itália sob acusação de difamar o islã no livro A Força da Razão, publicado em 2004. No livro, ela argumentava que a Europa havia vendido sua alma ao que chamava de ‘invasão islâmica’. Informações de Frances D’Emilio [AP, 21/10/06].