Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Atentados à geografia no Estadão

Sou assinante do Estado de S.Paulo há anos e noto que há desconhecimento endêmico de cartografia/geografia na editoria de Arte do jornal. Trocar os oceanos de lugar, como aconteceu no domingo (15/4) no caderno Política, colocando o Equador banhado pelo oceano Atlântico, ou dizer que a Terra do Fogo é a região mais setentrional do planeta (no primeiro caderno ‘Viagem’ deste ano) é até compreensível, ninguém precisa saber esses detalhes do saber geográfico. Afinal, no mapa tudo que é azul é água, que me importa se Pacífico ou Atlântico é tudo mar. Mas o Aqüífero Guarani não fica ao norte, como afirmava em meados do ano passado o suplemento ‘Estadinho’ (caderno endereçado às crianças), mesmo porque ele tem esse nome porque está sob as terras onde eram autóctones os Guaranis – o que não é no norte. Estou colecionando esses erros há tempos, mandei e-mails e nunca me responderam. O jornalista tem que ser mais humilde, ele não é dono de todo saber. Ninguém é!


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No dia em que Brasília, a capital do Brasil, faz aniversario, 47 anos (sábado, 21/4), o Jornal Nacional da Rede Globo exalta as eleições na França e termina com as lembranças de uma escritora que morreu a 30 anos atrás. Isso é a nossa imprensa: fantástica! (Salomão Feitosa, funcionário público federal, Brasília, DF)


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Escrevo-lhes na esperança de que alguém irá ouvir o meu brado de desagrado e irritação com a falta de respeito com o cidadão de Salvador (BA) por parte do programa Se liga bocão, na TV Aratu, canal 4. Evito assistir a este programa graças ao teor de intensa apelação. Porém, na quarta-feira (18/4) fui surpreendida com uma das cenas mais chocantes que eu já vi em toda minha vida. A equipe de jornalismo acompanhava uma mãe que foi ao Instituto Médico Legal para identificar um corpo que seria supostamente do seu filho. O garoto teria se afogado dias antes e o corpo era semelhante à descrição dada pela mãe. A equipe acompanhou o reconhecimento, que foi positivo, filmando e explorando as imagens tanto da mãe que chorava pelo filho morto quanto do cadáver em avançado estado de decomposição da criança de 6 anos.


Estavam na sala meus dois filhos de 13 e 16 anos e o meu marido. Todos ficamos impressionados com a forma com que a reportagem foi conduzida. Gostaria de obter este vídeo e enviar a vocês para que levantássemos um debate sobre o tema. Neste referido programa, canso de ver pessoas de origem humilde sendo degradadas moralmente e o desrespeito segue impune e de forma cada vez mais agressiva. Como denunciar? Como reclamar? Como reivindicar respeito para tamanha falta de coerência da TV em troca de pontos de audiência? (Ana Paula Santos Carneiro, atriz, Salvador, BA)


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A TV Cultura vendeu para o grupo COC-TV Thathi o espaço para todo o norte do estado de São Paulo – 50 cidades da região de Ribeirão Preto. Assim, devidamente qualificados como cidadãos de segunda linha, nós, desta região, somos obrigados a engolir a programação da tal TV Thathi, a saber: colunismo social lambe-botas de usineiro e suas ‘cultíssimas mulheres’ (programa Neusa Bighetti); cobertura de inaugurações nos shoppings de Ribeirão Preto ( programa Pessoas); música sertaneja em geral, por ilustres desconhecidos, de péssima qualidade, geralmente cantores de bares de esquina ou amigos do apresentador Bueno (programa Canta Bueno); programa tipo Porta da Esperança, no qual pessoas vão pedir a realização de seus sonhos, que vai desde um passeio a Santos até cadeiras de rodas (programa Fala que eu escuto); programa de entrevistas do ex-jogador Sócrates, que entrevista sempre seus amigos íntimos; programa de alguns advogados ricos que pagam pela hora , numa evidente propaganda de seus escritórios (Tribuna da Justiça).


Da gloriosa TV Cultura ficaram apenas algumas repetições de programas passados. No domingo (15/4), enquanto os paulistanos assistiam à vida e obra de Monteiro Lobato, nós, simplesmente paulistas, assistíamos à correção de provas para ingresso na OAB. Uma ignomínia! (Lucia Maria Lebre, advogada, Jaboticabal, SP)


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Estou entrando em contato para chamar à atenção para o comercial das Cozinhas Itatiaia, o qual é protagonizado pela atriz Claúdia Rodrigues. Estava em casa, assistindo a televisão, quando escutei a frase ‘Tem lugar na casa que seja mais a cara da dona do que a cozinha?’. Fiquei indignada, até por soar como ‘lugar de mulher é na cozinha’. E, em seguida, a frase: ‘Todo mundo tem uma Itatiaia que é a sua cara. Tá esperando o que para achar a sua? Cozinhas Itatiaia, a vida acontece aqui. E acontece do seu jeitinho’. A vida acontece aqui?! Então a nossa vida se resume a estar na cozinha? Resolvi entrar em contato com as Cozinhas Itatiaia, mas percebi que seria inútil. Assim, procurando material para um trabalho da faculdade, me deparo com o site de vocês, e venho através deste manifestar a minha indignação em relação a essa propaganda machista, que dá a entender que o que realmente é a nossa ‘cara’ é a cozinha.


Somos estigmatizadas por uma sociedade machista, e quando a mídia deveria abrir espaços para campanhas que promovessem a igualdade de gêneros, permite que se repercuta propagandas machistas como esta. Quero pedir-lhes que analisem essa propaganda, e se for considerada como uma discriminação à mulher, peço-lhes que sejam tomadas as medidas necessárias. (Damaris Proença Aguirre da Rosa, telefonista, Canoas, RS)


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Morei alguns anos no Rio de Janerio e há um ano retornei a Minas Gerais, especificamente a Belo Horizonte. O que me chama a atenção é que as grandes questões que são colocadas como graves em São Paulo e Rio de Janeiro, em Minas sequer ouvimos comentar. Chamou a atenção quando vi em uma apresentação da secretária-adjunta de Planejamento do estado, informando que Minas gasta mais em segurança do que em educação. O que fico impressionado é o grau de normalidade com que as pessoas vêem isso. O sentimento é como se vivêssemos em uma ilha e que tudo o que se faz de certa forma é possível ser controlado pelo Estado.


Ano passado os fornecedores de alimentação do sistema prisional chegaram a ficar 7 meses sem receber pagamento e nada foi comentado. Nesta semana passada, polícia esteve aquartelada e agora sabe-se que o governador sairá de licença para tratamento de saúde e nada da mídia comentar. Bravo, viu! Sabe-se que os investimentos na saúde ficaram abaixo do que estabelece a lei, a educação está o caos. No meu bairro escola está sob intervenção e com quem falo é como se estivesse tudo na mais perfeita normalidade. E a lista de Furnas que por aqui todos sabem da sua existência e a midia silencia? Que tempo é este que estamos vivendo? A situação fica mais difícil e os índices de popularidade aumentam! Ufa, que desabafo! (Rogério Delamare Ruas, educador social, Belo Horizonte, MG)


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Elio Gaspari, por intermédio de Madame Natasha, demonstrou irritação com o estrangeirismo adotado pela Polícia Federal para sua operação: Hurricane. Diríamos que seria recomendável que Madame Natasha adotasse o salutar hábito de ler a CartaCapital. Se o fizesse, perceberia que o nome original era Furacão. Vazamentos de informação obrigaram os policiais a adotarem um novo nome que, ao mesmo tempo, mantivesse a identidade da operação e revelassem de onde partiam os vazamentos. Daí a escolha por Hurricane. (Marcus Vinicius Souza, psicólogo, Niterói, RJ)

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Geógrafo e funcionário público, São Paulo, SP