Quando os Jogos Pan-americanos começarem no Rio de Janeiro, em julho, os atletas se esforçarão ao máximo nas competições, mas não poderão fazer um exercício diário na rede: blogar. Uma ordem proíbe que eles e seus treinadores, técnicos e massagistas – o que envolve cerca de sete mil pessoas – abasteçam blogs durante o período de duas semanas do evento, que vai do dia 13 ao 29.
A regra reflete uma tendência mundial de instituições esportivas em impor controles rígidos sobre a divulgação online de informações e fotografias de competições. Em fevereiro, por exemplo, a Associação Mundial de Rugby e a Associação Mundial de Jornais se desentenderam por causa das novas restrições que serão impostas na Copa do Mundo de Rugby, que será realizada em Paris em setembro deste ano.
A associação decidiu limitar o número de fotos por jogos que podem ser publicadas em sítios durante a competição. Além disso, as manchetes não devem ser impressas sobre as fotos, a fim de proteger as logomarcas de patrocinadores como Heineken e Toshiba. ‘Em algumas ocasiões, devemos nos proteger se as pessoas passarem por cima das marcas’, defende Greg Thomas, chefe de comunicação da associação de rugby. ‘Isto é só se alguma empresa de comunicação fizer algo muito radical, como colocar algum elemento gráfico em cima das marcas dos patrocinadores, que querem ter o máximo de exposição’.
Controle sobre a imagem
Alguns críticos alegam que as instituições esportivas querem ter mais poder sobre sua imagem. ‘Há uma tendência natural entre as organizações esportivas para aumentar seu território. Isso é normal para qualquer negócio que tenta expandir o controle do mercado, mas vai contra o funcionamento da mídia independente na nossa sociedade’, avalia Jens Sejer Andersen, diretor do Play the Game, grupo de pesquisa em ética sem fins lucrativos, com sede na Dinamarca. ‘O perigo é que não será possível ter uma discussão real sobre os eventos esportivos, seja fora ou dentro dos locais de competição, nos reduzindo a milhões de robôs consumidores de notícias’.
Desde os anos 90, vêm aumentando as restrições sobre a publicação de fotos de jogos na rede. Em geral, este controle é feito por meio da liberação de credenciais para os eventos esportivos. Em 1997, a Liga Nacional de Futebol Americano, nos EUA, ameaçou pedir de volta as credenciais de imprensa do Florida Times-Union se o jornal não se comprometesse a não divulgar as fotos dos jogos do Jacksonville Jaguar em seu sítio. A briga chegou ao fim quando o diário avisou que não cobriria nenhum jogo do Jaguar. Desde então, houve diversos desentendimentos entre autoridades esportivas e organizações de mídia.
Padronização
No caso dos Jogos Pan-americanos, os organizadores querem proteger a exclusividade de seus eventos proibindo atletas de divulgar conteúdo em texto, áudio ou vídeo na internet. Eloyza Guardia, porta-voz dos organizadores, alega que eles estão apenas seguindo normas do Comitê Olímpico Internacional. Regras semelhantes foram impostas nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2006, em Turim, na Itália.
Segundo Emmanuelle Moreau, porta-voz do Comitê Olímpico Internacional, em Lausanne, na Suíça, a organização está reunindo informações sobre uma nova política que irá padronizar tais regras. O documento deverá ficar pronto a tempo dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008. Informações de Doreen Carvajal [International Herald Tribune, 1/4/07].