Que censura é fato comum no mundo árabe não chega a ser novidade. O que surpreende no artigo do editor de assuntos sírios do jornal Al Hayat, Ibrahim Hamidi, é o flagrante do método. Há determinações rígidas sobre como se nomeiam nos jornais decisões políticas, países e até conceitos. A sensação, ao ler o texto, é a mesma que se tem quando nos defrontamos com as ordenadas tabelas dos campos de concentração alemães, com as normativas soviéticas ou com os debates estratégicos americanos, fase Kissinger. Loucura com muito método.
O que dizer, por exemplo, do caso da palavra ‘Israel’? Nos anos 60 e 70, a norma era ‘entidade sionista’, ‘as gangues sionistas’ ou simplesmente ‘inimigo’. Hoje, mais modernos e moderados, os sírios se beneficiam da informática: os computadores põem ‘Israel’ entre aspas automaticamente. Na mesma linha, nenhum funcionário do governo israelense tem a honraria de ser chamado de ‘Sr.’. Ariel Sharon é só Ariel Sharon. E o ministro da Defesa é chamado de ‘ministro da Guerra’.
Igualmente saboroso é o antepassado do termo ‘sociedade civil’, descrição da população síria que, aliás, tem pouquíssimos direitos de associação: ‘sociedade do progresso e do socialismo’. Mas Khalaf Al Jarrad, editor do jornal Teshreen, do governo, explica que nos últimos três anos preferiu não usar o termo novo: ‘Não tenho nada contra seu uso em qualquer país, mas me oponho ao seu abuso pela oposição síria’.
O diretor da Agência Árabe de Notícias Sírias (Sana), da Autoridade Geral para o Rádio e a Televisão, Dr. Fayez Al-Sayigh, explica: ‘O presidente Bashar Al Assad não gosta do estilo pomposo, prefere uma linguagem neo-realista, apropriada à renovação Síria.’
Ah, bom…
A tradução completa, editada pelo boletim Memri, sionista de fato, está no endereço (http://www.memri.org/bin/articles.cgi?Page=archives&Area=sd&ID=SP67704)
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Jornalista