Ânimos exaltados no Planalto Central. As tensões provocadas pelo julgamento do mensalão têm o dom colateral de aguçar suscetibilidades. À saída de uma festa, o jornalista Ricardo Noblat e o ministro José Antonio Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, foram personagens de uma cena em que não faltaram adjetivos e substantivos chulos, segundo o testemunho do jornalista postado em seu blog. Seu relato foi desmentido, mas, de acordo com Noblat, quem o desmentiu não demorou em voltar atrás. A seguir, os episódios do pugilato verbal. (Luiz Egypto)
>> Dias Tóffoli, ministro do STF, me agride com palavrões e baixarias
[Nota originalmente publicada às 3h52m de sábado (11/8)]
Acabo de sair de uma festa em Brasília. Na chegada e na saída cumprimentei José Antônio Dias Tóffoli, ministro do Supremo Tribunal Federal.
Há pouco, quando passava pelo portão da casa para pegar meu carro e vir embora, senti-me atraído por palavrões ditos pelo ministro em voz alta, quase aos berros.
Voltei e fiquei num ponto do terraço da casa de onde dava para ouvir com clareza o que ele dizia.
Tóffoli referia-se a mim.
Reproduzo algumas coisas que ele disse (não necessariamente nessa ordem) e que guardei de memória:
– Esse rapaz é um canalha, um filho da puta.
Repetiu “filho da puta” pelo menos cinco vezes. E foi adiante:
– Ele só fala mal de mim. Quero que ele se foda. Eu me preparei muito mais do que ele para chegar a ministro do Supremo.
Acrescentou:
– Em Marília não é assim.
Foi em Marília, interior de São Paulo, que o ministro nasceu em novembro de 1967.
Por mais de cinco minutos, alternou os insultos que me dirigiu sem saber que eu o escutava:
– Filho da puta, canalha.
Depois disse:
– O Zé Dirceu escreve no blog dele. Pois outro dia, esse canalha o criticou. Não gostei de tê-lo encontrado aqui. Não gostei.
Arrematou:
– Chupa! Minha pica é doce. Ele que chupe minha pica.
Atualização das 3h52m – Imagino – mas apenas imagino – que o ataque de fúria do ministro deve ter sido desatado por um comentário que fiz recentemente sobre a participação dele no julgamento do mensalão. Veja aqui o comentário.
>> Desmentido
Às 3h36 de domingo (12/8), Eduardo Pertence, filho do ex-ministro Sepúlveda Pertence, postou o seguinte comentário no blog de Ricardo Noblat:
“Caro Noblat,
Aprendi a lhe respeitar e admirar desde criança, por consequência do meu pai, Sepúlveda Pertence, seu amigo e admirador.
Contudo, não posso deixar de demonstrar meu espanto com essa leviana notícia.
Estava eu, junto ao meu pai, nessa mesma festa.
Você foi recebido na mesa dela, com todas as loas e elogios.
Fiquei na festa até o final, chegando a acompanhar o Min. Toffoli até o seu carro, quando ele foi embora.
Afirmo não ter presenciado nada parecido com o que você noticiou aqui.
Não vi, nem ouvi dele, nada assemelhado as loucuras aqui publicadas.
De minha parte, testemunho que isso não houve.
De sua parte, espero que o Mensalão não esteja alterando sua noção de realidade.
Continue, fora isso, sendo o grande e admirável jornalista que sempre foi.
Com respeito, mas espanto.
Eduardo Pertence.”
>> Desmentido do desmentido
À 0h27 de terça-feira (14/8), Ricardo Noblat informou a este Observatório o que se segue:
Ontem [domingo (12)], por volta das 11h30, fiquei sabendo do que escrevera em meu blog o Eduardo Pertence.
Então postei no twitter as notas que seguem:
1 Eduardo Pertence, filho do ex-ministro José Sepúlveda Pertence, do STF,postou em meu blog q estava na festa à qual compareci. (segue)
2 Eduardo me chama de leviano e diz q não ouviu Toffoli dizer o que lhe atribuí. Cita o apreço do seu pai por mim. Em apreço ao pai (segue)
3 dele limito-me a responder: Eduardo não estava na sala de saída da casa onde o episódio aconteceu. Estava no salão de festa. (segue)
4 De onde estava, nem se tivesse ouvido de tuberculoso teria ouvido o q o ministro disse. Há pouco, um amigo comum informou a Eduardo (segue)
5 sobre a resposta q eu lhe daria. Ele pareceu ter ficado preocupado. Sem motivo, por sinal.
– – –
Mal eu havia postado essas notas, o Eduardo me telefonou. Então postei de imediato a nota abaixo:
6 Eduardo Pertence acaba de me telefonar. Pediu desculpas. Reconheceu q onde estava não dava p/ouvir o que Tóffoli disse ou não.
>> Quando falta decoro à toga
[Nota publicada por Ricardo Noblat em seu blog às 15h02 de segunda-feira (13/8)]
Cobra-se do parlamentar respeito ao decoro. Que quer dizer: “correção moral, compostura, decência e pundonor”. E também “dignidade, honradez e brio”.
Compostura é “correção de maneiras”.
Decência, “correção moral, honestidade”.
Pundonor, “zelo pela própria reputação”.
Dignidade, “autoridade moral, amor próprio, respeito a si mesmo”.
O parlamentar que faltar com o decoro fica sujeito à perda do mandato e dos direitos políticos.
E o juiz?
Se de público o juiz desce ao esgoto e dali dispara baixarias para atingir a honra alheia, o que poderá lhe acontecer?
O que deveria lhe acontecer?
Nada?
E se ele for um dos 11 membros da mais alta corte da Justiça?
O que esperar de um tipo desses na hora de julgar questões relevantes para o destino das pessoas e do país?
O conhecimento jurídico é inútil, totalmente inútil, definitivamente inútil sem equilíbrio, sensatez, isenção, dignidade e nobreza.