A semana passada foi de balanço da participação do leitorado em dois grandes veículos, Veja e Folha de S. Paulo. Em 2005 a Veja recebeu 106.913 mensagens (que os redatores grafam estranhamente à moda anglófona: 106 913, sem ponto…) – 12.118 cartas a mais do que no ano anterior, informa a edição nº 1.938 (11/1/06), pág. 27. No domingo (8/1), o ombudsman da Folha escreveu em sua coluna:
(…) Em 1996, o jornal tinha uma circulação média diária de 519 mil exemplares e o ombudsman recebeu 6.201 mensagens, 19,32% delas por e-mail. Agora, deve ter fechado 2005 com uma média diária de 308 mil jornais e o ombudsman recebeu 10.688 mensagens, 95% por e-mail. O aproveitamento de cartas no Painel do Leitor é pequeno. Em 2005, o jornal recebeu 33.005 cartas (9% a mais do que em 2004) e publicou 2.722 (6% a menos). Em 2004, foram aproveitados 9,1% das cartas enviadas; em 2005, 8,25%.
(…) Fiz um levantamento de cinco semanas, de 28 de novembro a 1º de janeiro. Neste período, o jornal recebeu 2.775 cartas, publicou 254 (9,2%), sendo que 49 (19% das cartas publicadas) referiam-se aos assuntos de maior interesse dos leitores e 60 (24%) eram assinadas por assessores de imprensa ou por pessoas exercendo o legítimo direito de resposta. (…) O jornal recebeu em 2005 cerca de 2.700 artigos e publicou 724. Apenas uns 200 foram encomendados pelo jornal, os demais chegaram por iniciativa de leitores. (…)
O cuidadoso ombudsman da Folha sugere que na reforma gráfica do jornal, prevista para breve, um espaço maior seja reservado aos leitores. Na Veja, o aumento de mensagens de 2004 sobre 2003 foi de 14.824, e de 2005 sobre 2004, de 12.118. Sobre 2001, este aumento foi de 42.364 – ou seja, 65% a mais. Pena que a revista não faça distinção entre mensagens recebidas e mensagens publicadas.
Internet é troca
É uma área extremamente sensível. Seja pela alegada falta de espaço, questão de decisão editorial, seja pela evidente seleção, que muitos leitores consideram sinônimo de dirigismo, a mídia escrita geralmente se sai mal nos levantamentos sobre a participação dos leitores. E há outros agravantes. O público vem reclamando crescentemente do espaço destinado a queixas ou esclarecimentos de autoridades na seção dos leitores, prática que o jornalista Carlos Brickmann, colaborador fixo do OI, chamou de ‘função dupla’ no texto ‘Cartas ao vento’ (2004): ‘São funções opostas: quem escreve para desmentir, ou esclarecer, ou acrescentar, acaba tomando o espaço do leitor’.
Para registro, 40 leitores escreveram ao OI em 1996 – ano em que o Observatório da Imprensa foi criado na internet. Em 2001 publicamos 2.054 cartas, fora os artigos enviados por leitores. No post O leitor participa, em 9 de janeiro, Mauro Malin, editor do programa do OI no rádio e do nosso blog Em Cima da Mídia, escreveu:
Um dos atributos notáveis deste Observatório é a participação dos leitores. Em 2005 foram publicados neste site 5.178 textos e 4.339 cartas no Canal do Leitor (aí não estão contadas as que foram arquivadas por falta de foco, ofensas ou inconsistência nos dados de identificação do remetente). As cartas correspondem a 45% do total de 9.517 textos. Não estão computados os textos inseridos nos blogs e os respectivos comentários. Nesse caso, o número de intervenções de leitores é bem maior do que o número de tópicos que as suscitaram.
Na edição passada do OI (nº 363), 231 leitores escreveram ao Observatório: 218 cartas foram publicadas. Afinal, internet é troca, e nisso o OI aposta há 10 anos. ‘O fazer jornalístico – aqui, jornalismo sobre o jornalismo – é alterado o tempo todo por essa participação crescente dos que, não muito tempo atrás, apenas recebiam o fluxo de informações e opiniões’, lembrou Mauro.