Durante o 4º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental (CBJA), realizado no Rio de Janeiro, de 17 a 19 de novembro, algumas questões inquietaram as narrativas de mais um observador, que caminhou além dos bambus (de jardins e bandeiras) e dos conceitos. O incômodo é premissa para o bom funcionamento do jornalista. O estranhamento pende a Camus e é essencial. Desafio? Buscar mantê-lo e o transpor para construir narrativas.
O modelo de referenciamento do agenda setting mudou de “as notícias de ontem publicadas hoje” para “faíscas de fatos por minutos” (viu no Twitter?). Está mais evidente a cada dia a impotência humana em acessar e processar toda a informação gerada no mundo. Boca pequena escancarada diante da pipoqueira de fatos. As narrativas contemporâneas revelam assim um quadro interessante, porém perigoso: a noção de pertencimento mudou, se expandiu e assim confundiu os “desavisados” ou os mais empolgados com a expansão das fronteiras da comunicação (emissão, percepção, recepção da mensagem). Nesta cultura de rede, cada nó comunicacional é um ponto de referência e interferência; junção com o próximo. As narrativas devem reforçar valores humanos e interrelacioná-los com os fatos. Isso sem deixar de tocar nas fraquezas. Quais as pautas da atualidade?
Retire o conforto e verá as manifestações. A escassez de recursos tornou o tema ambiental o mais forte e evidente pé da sustentabilidade nas discussões. O social é moeda eleitoreira, confundido com baixa filantropia; o econômico está cerceado de indicadores confusos, impactos profundos, distanciamento e direcionamento político. Distribuição de renda é diferente de crédito e juros. Desenvolvimento social não é sorriso de criança em foto. (Na parede rabisca-se desejo, necessidade, vontade; nos jornais estampa-se dívida, crédito, consumo.) A pergunta muda, mas o personagem é o mesmo. Onde estão as truganinis da sustentabilidade? A vanguarda vem pelo que se achava obsoleto.
Mecanismos de interferência
Os assuntos que a opinião pública precisa de ler (não necessariamente os que ela deseja) são tratados de forma profunda pela mídia especializada. Para discutir a sustentabilidade como uma pauta séria na mídia, é preciso estabelecer diálogo. A conversa é o melhor mecanismo para, entremeio à rotina estressante, construir pautas que precisamos ler.
No meio do caminho… a mídia e o sistema de referenciamento. A mídia não é responsável por educar, mas por provocar. Entretanto, a inquietação é premissa ao processo de educação. Os valores sociais básicos precisam ser resgatados. Visibilidade e sustentabilidade são diferentes. Todavia, ao estampar marcas e práticas todos querem fazer dinheiro para retroalimentar o processo e o ser.
Uma coisa são as narrativas; outra é o verdadeiro propósito das ações. Para que as iniciativas sejam efetivas, é fundamental desmistificar o conceito de obrigação no ambiente do público e privado. É preciso parar de brincar de “batata quente”; ao invés de transferir responsabilidade, devem-se estabelecer mecanismos de interferência e transformação social. O poder público e a iniciativa privada em ação conjunta. Essa visão também deve amadurecer os questionamentos e as narrativas não apenas da mídia especializada.
Potencial humano
O papel dos mass media na indução ou reforço de hábitos é co-responsável pelos impactos socioambientais gerados. A utopia das narrativas vive entre o problema social recorrente e a temperatura do mercado financeiro. Como disse (ou não) o professor Ladislau Dowbor, “crescer por crescer é a filosofia do câncer”.
Ah, la belle verte! Os impactos interdependem do estilo de vida assumido pela sociedade. O nível de individualismo e satisfação contemporânea determina a intensidade do impacto gerado. Embora haja uma comoção inicial diante das mazelas, a mudança inexiste, caro Ivan Fiodorovitch. O senso de coletividade é baixo [social/acadêmico]. É necessário construir narrativas que provoquem mudança, reflexão e, assim, incentive a conscientização. Deve-se ouvir as fontes, compreender o contexto, para construir o argumento, estabelecer uma versão e só então formatar o texto. Tudo em um ritmo intenso e imediato.
Além do meio ambiente, as novas mídias abrem a possibilidade em despolarizar a discussão a respeito de questões sociais, comunicação e economia. As redes sociais digitais são catalisadores. Às vezes falta amadurecimento na utilização das ferramentas e absorção do conteúdo disponível. O engajamento estimulado pela mídia a conta-gotas estruturada de forma transparente e objetiva. Precisa-se monitorar, envolver; regionalizar a sensação de pertencimento e construção de orgulho e credibilidade.
A educação e a comunicação precisam criar alianças entre as plataformas de reflexão, para orientar os usuários em como usar a rede (ou a respeito das variáveis de movimentação), para assim confrontar a cultura de manada e provocar o amadurecimento do indivíduo no uso e consumo não apenas de informações, mas fundamentalmente dos recursos naturais, dentre eles o potencial humano.
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[Rudson Vieira Carlos é jornalista, Coronel Fabriciano, MG]