Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Bem-vindo ao século 21

Cada vez mais câmeras de vigilância se espalham ao nosso redor. Além de ambientes privados, espaços públicos estão sendo monitorados. Para melhor compreender esse fenômeno, será feita uma breve incursão na referência literária de George Orwell, um dos escritores mais influentes do século 20.

Em sua obra-prima, 1984, Orwell previu um mundo controlado pela tecnologia, onde a novilíngua e o duplipensar estariam presentes.

1984 é o retrato de uma Inglaterra futura subjugada às mãos de um tirano, o Big Brother, caracterizado por um olhar sempre atento e punitivo. Orwell compõe uma filosofia ou um processo discursivo baseado numa ficção em que os cidadãos são vigiados todo o tempo pelas teletelas, sob a liderança do Grande Irmão. Em todos os lares dos integrantes do Partido, cafeterias, indústrias e praças, as teletelas transmitem a ideologia do Partido – mais do que isso, elas captam todos os movimentos de seus filiados.

‘O poder não é um meio, é um fim. Não se instaura uma ditadura para se salvaguardar uma revolução; faz-se a revolução para se instaurar a ditadura. O objetivo da perseguição é a perseguição; o da tortura é a tortura; o do poder, o poder’ (Orwell, 1991: 264).

Alerta presente e futuro

Vigilância essa, uma verdadeira perseguição ao indivíduo, de forma a reprimir qualquer tipo de pensamento ou atitude divergente dos interesses do Partido. O Grande Irmão zela por ti, repetiam as teletelas seus feitos e conquistas. Toda essa manipulação se dava em busca do controle social. Nada muito diferente da vigilância que se sofre na realidade, em nome da segurança e ordem pública. A grande preocupação de George Orwell era com a manipulação da sociedade e ainda põe para refletir esta questão.

‘Começas agora a ver que tipo de mundo estamos a criar? (…) Não restará lealdade, senão a lealdade ao Partido. Nem amor, senão o amor pelo Big Brother. Nem riso, senão o riso da vitória sobre um inimigo aniquilado. Nem arte, literatura ou ciência. (…) Mas haverá sempre a embriaguez do poder (…). Se queres uma imagem do futuro, pensa numa bota a pisar um rosto humano. Para sempre’ (Orwell, 1991: 268).

Este livro não é apenas mais um livro sobre política, mas uma metáfora do mundo que foi se construindo. Invasão de privacidade, avanços tecnológicos que propiciam o controle total sobre os indivíduos, destruição ou manipulação da memória histórica dos povos e guerras para assegurar a paz já fazem parte da nossa realidade. Se essa realidade caminhar para o cenário antevisto em 1984, o indivíduo não terá qualquer defesa. Aí reside a importância de se ler Orwell, pois seus escritos são capazes de alertar as gerações presentes e futuras para o perigo que correm e mobilizá-las pela humanização do mundo.

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Estudante de Jornalismo, Novo Hamburgo, RS