Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Birras apalermadas

Exemplo risível de editorialização do noticiário está na edição de quinta-feira (26/9) da Folha de S. Paulo, sob o título “Gás interdita condomínio inaugurado por Dilma”. O Jornal Nacional fez a mesma coisa fingindo não fazer: William Bonner leu, acompanhando vídeo de 30 segundos, texto que mencionava “um conjunto residencial do programa federal Minha Casa, Minha Vida”. Para efeito de avaliação da importância da notícia, os jornais O Estado de S. Paulo e O Globo não deram nada. Os respectivos noticiários online deram, sem o veneninho bobo.

Cabe noticiar um problema de vazamento de gás que tira 1.200 pessoas de casa durante 12 horas? Cabe. Difícil é imaginar que essa notícia tenha merecido, jornalisticamente falando, ocupar a página 3 do caderno “Cotidiano” da Folha. Mas ocupou. Com direito a foto de Dilma à janela, tirada em janeiro, na inauguração do conjunto Iguape (a Folha não apurou o nome, que aparece em nota no site do Estadão). O que isso tem a ver com o vazamento, ninguém sabe nem saberá jamais.

Mera torcida

Parece bobagem, em mais de um sentido é certamente bobagem, mas esse tipo de jornalismo à la Chatô, vetusto, portanto, não pode ser o que atrai leitores para o impresso. E não contribui para manter os existentes, a não ser os que se satisfazem em meramente “torcer contra”, como gosta de dizer a presidente da República.

Essa modalidade de edição do noticiário joga água no moinho de disputas simbólicas bisonhas que a revolta de junho e julho mostrou terem sido completamente desveladas pela cidadania, entendida como tal uma parcela robusta dos cidadãos capaz de se mobilizar em manifestações caudalosas e dotadas de uma pauta radical.

O episódio deixa claro que ainda existem jornalistas – ah, se os há – cujo entendimento ficou muito aquém das lições principais deixadas pelas passeatas.