Na edição de setembro da revista Imprensa, um dos veículos mais lidos entre acadêmicos e profissionais de jornalismo, uma das questões mais polêmicas e debatidas em palestras de jornalismo vem à tona: o blogueiro pode ou não ser considerado um jornalista? A questão é levantada na matéria ‘Igual, mas diferente’, de autoria dos jornalistas Igor Ribeiro e Fabrício Teixeira.
Há que se deixar claro que, conforme a própria matéria explicita em depoimento de um dos entrevistados, ambas as funções são distintas, apesar de carregarem consigo algumas semelhanças, como o poder de informar. No entanto, o jornalista, teoricamente, possui técnicas para apurar, preparar, pesquisar e veicular a informação, enquanto que uma pequena parcela de blogueiros – principalmente aqueles que são jornalistas – assim o faz. Geralmente, as informações transmitidas nos blogs ou são fruto de outras fontes oficiais – jornais, revistas, blogs de jornalistas – ou são geradas pelos próprios blogueiros, com maior liberdade na hora de expor opiniões, por exemplo, diferente do hard news.
No decorrer da matéria, que é a principal manchete da revista, outros pontos são abordados entre as possíveis e discutíveis semelhanças entre blogueiros e jornalistas, como no caso de aceitação ou não de presentes, os ditos ‘jabás’, por parte de empresas, por exemplo. Em determinado momento, alguns entrevistados deixam perceber uma linha tênue que há ao se comparar blogueiros e jornalistas. No caso, blogueiros também não deveriam aceitar os presentes, sendo que outros defendem que, pelo fato de nos blogs haver a possibilidade da emissão de opinião, eles podem aceitar os mimos, desde que também possuam liberdade para publicar uma opinião a respeito ou não.
O interesse na ‘nova onda’
Todavia, quando mudamos o foco de discussão para os jornalistas que trabalham com a ferramenta internet em jornais, revistas ou portais virtuais, há os que continuam, mesmo na web, praticando o jornalismo, assim como também há aqueles que usam o famoso ‘Ctrl+C + Ctrl+V’ em notícias, ou mesmo ‘ferramentas’ como a Wikipédia para verificar suas informações. Nesse caso, estariam eles sendo corretos com a profissão, a informação e, sobretudo, o público leitor, ou não? É comum pegar informação aqui e acolá, desde que sejam dados os devidos créditos, além de pesquisar em sites não plenamente confiáveis, como no caso da Wikipédia, feita a partir de inserções de qualquer usuário? Além disso, verifica-se que com o advento do jornalismo digital, houve muitos casos de ‘barrigas’ (matérias fictícias ou com dados incorretos). A última, pela Globonews, a qual veiculou neste ano a possível queda de um avião em São Paulo quando, na verdade, tratava-se de um incêndio numa loja de colchões. O fato, da mesma forma rápida como fora reportado no site, também fora dado à errata e, posteriormente, retirado.
O que é inegável é que não só jornais virtuais, como revistas e mesmo os blogs, se tornaram fonte alternativa de informação para um público cada vez mais variado e heterogêneo na rede. É claro que tal público, assim como a matéria da revista Imprensa menciona, ainda é composto, sobretudo por indivíduos das classes A e B, os quais dispõem, em sua maioria, de acesso irrestrito à internet. No entanto, os jovens que podem acessar a web, por vezes de classes variadas, acabam por se interessar na ‘nova onda’ e, muitas vezes, usam os blogs para saber detalhes de algum acontecimento ou mesmo as opiniões dos blogueiros sobre este ou aquele assunto, ao invés de se informarem através dos tradicionais jornais.
Válvula de escape
Nas academias de jornalismo, a discussão também é pertinente e gera dúvidas. Muitos são os estudantes que acham que o blogueiro pode informar, assim como o jornalista. Mas também há aqueles que crêem que as duas funções são distintas. Inclusive, professores usam a ferramenta ‘blog’ para repassar informações aos seus alunos, assim como também há aqueles professores que acreditam que o blog pode ser uma forma primitiva de o estudante aperfeiçoar técnicas aprendidas em sala de aula. Se a atitude é correta ou não, é outra discussão.
Outro ponto destacado na matéria da revista Imprensa é que determinados jornalistas, possuindo colunas ou cadernos especiais nos jornais impressos, também partiram para o ramo digital com o aval dos seus editores e, ao atuarem na rede, injetam certa carga de opinião em suas matérias ou os ditos posts, o que também é digno de análise. Afinal, para os jornalistas, os blogs, ou mesmo os canais que possuem na web, acabam por se tornar a válvula de escape em ter liberdade na profissão, diferente das limitações impostas nas redações? Estaria, então, sendo correto ao poder contar com tal liberdade?
Credibilidade e responsabilidade
O importante é deixar claro que, apesar do blogueiro – no caso daqueles que não são jornalistas – não possuir técnicas específicas para lidar com a notícia, cada vez mais são requisitados pelo público, para o que basta ver a ‘audiência’ que determinados blogs possuem. Assim como também deveriam ser levantadas mais discussões em torno de como o jornalista digital trabalha, se tem como primeira lealdade servir a sociedade, conforme mencionado por Franklin Martins em seu livro Jornalismo político, ou se, encantados com as facilidades da internet, acabam por ter alguns desvios éticos, não se importando com técnicas como a apuração, por exemplo.
Nesse debate entre quem é melhor ou mais responsável que alguém, ambas as partes, tanto os jornalistas quanto os blogueiros, devem, sobretudo, atentar que do outro lado da tela do computador há alguém que pode confiar em sua informação. E esta é a maior prova de credibilidade que as pessoas podem dar para um e outro, bastando que estes tenham igual responsabilidade ao lidar com seu público e, principalmente, com sua informação. Caso contrário, basta um simples clique para que pouco a pouco sejam expurgados da internet.
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Estudante de Jornalismo, Faculdade Estácio de Sá, Florianópolis, SC