Vão e vêm os anos, o Almanaque Abril é indispensável.
Logo à pág. 47, em ‘Política’, a foto diz em diversas línguas o que a tradução traz para o português. Os cartazes são traduzidos por ‘direitos iguais para todos cidadãos’ (sic). O correto é ‘direitos iguais para todos os cidadãos’. A omissão do artigo em casos como este é um erro que se tornou habitual na mídia brasileira, submetida a um rebaixamento nunca antes visto na língua portuguesa, desde que retiraram o revisor. Mas um erro desse calibre pode (a) afastar um jovem da universidade num vestibular ou (b) reprovar um candidato num concurso. Por que, então, deveríamos tolerá-lo na mídia?
Na pág. 412, ao dar os indicadores do Brasil, o Almanque Abril, que em ‘Retrospectiva’ veio até a morte do cineasta Blake Edwards, de A Pantera Cor-de-Rosa, Mulher Nota 10 e Victor ou Victoria, falecido de pneumonia, nos EUA, os 88 anos, no dia 15 de dezembro, dá como fatos recentes na História do Brasil a eleição do Lula em 2002, vencendo José Serra, e a reeleição em 2006, derrotando Geraldo Alckmin, e volta ao mensalão, mas nada diz sobre a eleição de Dilma Rousseff, apontada como presidente eleita logo na página anterior. Quer dizer, as duas secções, ‘Retrospectiva’ e ‘Países’, omitem o principal fato político de 2010: a eleição da primeira mulher para a presidência da República.
Analfabetismo no Nordeste atinge 18,7%
O AA registra a morte da professora Bella Jozef (10 de novembro de 2010), que foi assistente de Manuel Bandeira e praticamente introduziu o ensino de literatura hispano-americana no Brasil. A equipe tinha as ferramentas necessárias para avaliar melhor a produção literária brasileira, ainda que em linhas gerais, por tratar-se de um almanaque. Mas não fez isso, conquanto encontrasse subsídios nas próprias publicações da mesma Abril.
No destaque Prêmios Literários, na secção ‘Cultura’, ignora os maiores prêmios que nossas letras arrebatam todos os anos, dos quais sejam exemplos o Prêmio Internacional Casa de las Américas (só porque é Cuba quem concede, não vão informar nunca?), o Prêmio São Paulo, o Prêmio Portugal Telecom etc.
Na secção ‘Educação’, o dado mais alarmante. Cerca de 30 milhões de adultos brasileiros não sabem ler nem escrever e em 2007 eram 680 mil crianças e adolescentes fora da escola. No 37º ano do Almanaque Abril, governos vieram, governos foram, e o principal problema nacional permaneceu: a falta de educação. E pioraram muito as deficiências em língua portuguesa, disciplina em que são ensinadas todas as outras matérias. O público e o privado têm tomado boas iniciativas nesse particular, reduzindo o analfabetismo para 5,5% no Sul e 5,7% no Sudeste, mas no Nordeste ele atinge ainda 18,7%.
O IBGE diz que é analfabeto quem declara não saber ler nem escrever um bilhete simples em seu idioma. Este é o caso do deputado federal Tiririca, o mais votado do Brasil. Pois é. Num país em que analfabetos legislam e governam, podemos esperar mais ou menos o que espera o passarinho que comeu pedra.
Recomendo o AA. Com essas poucas ressalvas, é o melhor que temos.
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Escritor, doutor em Letras pela Universidade de São Paulo, professor, pró-reitor de Cultura e Extensão da Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro, autor de A Placenta e o Caixão, Avante, Soldados: Para Trás e Contos Reunidos (Editora LeYa)