A mídia está fazendo uma votação pela internet para escolher as sete maravilhas do mundo, uma idéia do cineasta suíço-canandense Bernard Weber, que trabalha no projeto há seis anos. Para ele, esta é ‘a primeira votação global da História’.
A votação começou com uma lista de 177 lugares, depois reduzidos a 77, dos quais foram escolhidos 21 finalistas. Votaram 25 milhões de eleitores, a maioria deles pela internet. Metade da renda líquida do projeto será aplicada na restauração de monumentos escolhidos pelo mundo afora. Globalização é isso: nada do que é global dispensa o dinheiro.
Eram sete as célebres maravilhas do mundo antigo. Com exceção das pirâmides do Egito, construídas no terceiro milênio a.C., as outras seis desapareceram e eram as seguintes: os Jardins Suspensos da Babilônia, erguidos pela rainha Semíramis ou por Nabudonosor, no século 9 a.C.; o templo dedicado à deusa Diana, com 138 metros de altura, construído no séc. 4 a.C.; a estátua de Zeus, em Olímpia Grécia, que tinha doze metros de altura; o mausoléu de Halicarnasso, antigo nome de Bodrum, atual Turquia; o colosso de Rodes, como ficou conhecida a estátua de Apolo, construída entre 192 e 280 a.C. e destruída por um terremoto em 225 a.C. O Farol de Alexandria, edificado em 280 a. C., foi incluído como a sétima das maravilhas apenas no século 4 de nossa era, em substituição às Muralhas da Babilônia.
Pedra fundamental
O escritor português Matias Aires comentou o lado vaidoso dos monumentos num livro muito citado, Reflexões sobre a Vaidade dos Homens:
‘A nossa vaidade dura mais do que nós mesmos e se introduz nos aparatos últimos da morte. Que maior prova do que a construção de um elevado mausoléu?’.
Entre as 21 maravilhas finalistas há uma única brasileira. É a estátua do Cristo Redentor, no Rio, concepção do engenheiro Heitor da Silva Costa e do artista plástico Carlos Oswald.
Quem tirou o projeto do papel e o tornou realidade foi o escultor francês Paul Landowski, de origem polonesa, como indica seu sobrenome. Ele trabalhou cinco anos no monumento, mas nunca o visitou. Chegadas ao Brasil de navio, as peças foram montadas e transportadas por via férrea, de Niterói até ao topo do morro.
A idéia tinha sido apresentada à família imperial brasileira pelo padre lazarista Pedro Maria Boss, em 1859. Apesar de já existir em 1824 uma estrada de rodagem que levava ao cume do morro do Corcovado, a de ferro só veio a ser construída em 1884. A Humanidade demorou a andar depressa. O cavalo foi o meio de transporte mais rápido até chegar o trem.
Esperava-se que a estátua do Cristo Redentor estivesse erguida em 1922, para comemorar o centenário da independência política do Brasil. A pedra fundamental foi lançada naquele ano, mas a construção somente foi retomada alguns anos depois. A inauguração deu-se no dia 31 de outubro de 1931, já no governo Getúlio Vargas, líder da vitoriosa Revolução de 1930.
Novos tempos
Concorrem agora como finalistas e rivais do Cristo Redentor outras vinte maravilhas espalhadas pelo mundo, entre as quais a Estátua da Liberdade, pelos EUA; a Pirâmide de Chichén Itzá, centro de referência política e econômica da cultura maia, pelo México; o Coliseu, pela Itália; o Castelo de Neuschwanstein, pela Alemanha; a Torre Eiffel, pela França; as Pirâmides de Gizé, pelo Egito; o Palácio de Alhambra, pela Espanha; o conjunto do Kremlin e da Praça Vermelha, pela Rússia; a Grande Muralha, pela China; a cidade de Machu Pichu, pelo Peru.
Será uma votação difícil. Os internautas precisam ter muito discernimento para deixar patriotadas de lado e votar de olho no critério: serão as sete novas maravilhas do mundo.
O engenheiro e escritor grego Phílon de Bizâncio, que viveu no século 3 a.C., não submeteu sua escolha a nenhuma eleição e fixou em sete as maravilhas do mundo antigo, ao publicar o livro De Sptem orbis miraculis (sobre os sete milagres do mundo).
É sintoma dos novos tempos que a escolha se dê pela internet, embora outros recursos da mídia venham tratando a eleição com interesse.
******
Escritor, doutor em Letras pela USP, professor da Universidade Estácio de Sá, onde dirige o Instituto da Palavra; www.deonisio.com.br