Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Buás, insinuações e atos falhos

As Organizações Globo sempre estiveram um passo atrás da ‘turba’, de olho no ‘choque’; este, lá adiante, no meio da rua, pronto para baixar a ripa. Caso emblemático é o das Diretas Já, em 1984, quando o Departamento de Jornalismo da Rede Globo desdenhou, durante um bom período, as manifestações do povo, que exigia eleições diretas para a presidência da República. Somente depois de vislumbrar mais de um milhão de pessoas reunidas na Candelária, a Globo decidiu enfocar o movimento. Assim tem sido e, pelo que se pode notar, assim sempre será. Há quem chame isso de prudência, porém creio que se trata de oportunismo crônico.

Empresa jornalística que se preza tem linha editorial definida, porém é clara quanto aos seus princípios. Não se esconde por detrás de moitas, dando uma de voyeur, para atingir o orgasmo com o falo alheio (estou sendo eufemisticamente elegante para como os barões da mídia, às vezes, se comportam). Pode vir a reconhecer possíveis escorregões, mas se mantém fiel e leal àqueles que a acompanham, os leitores, a razão de ser dessas empresas. Mas as que conheço preferem trabalhar de forma sutil a serem explícitas. Aprimoram, a cada edição, o chamado jornalismo de opinião, deixando nas entrelinhas o que os editoriais manifestam.

‘Tirar o sono da oposição’

A edição do Globo Online de domingo (14/6) informa que ‘O crescimento de Dilma em pesquisa inquieta oposição’ (ver aqui).

Este, sim, é um título assaz elucidativo! Parabéns a quem titulou a matéria. Estou acostumado a ver tratarem os adversários do governo Lula como ‘a oposição’, assim, com determinante que faz o leitor se transportar em pensamentos à oposição político-partidária. Mas bem sabemos que ‘oposição’, da forma como O Globo generalizou no título, inclui grande fatia da própria imprensa, a facção conhecida pela satírica sigla PIG (Partido da Imprensa Golpista). Mas esse ato falho ficou só no título mesmo, pois no contexto da matéria o jornal põe ‘a oposição’ no seu devido lugar.

Logo no início, O Globo afirma:

‘O crescimento das intenções de votos em favor da candidatura presidencial da ministra Dilma Rousseff, registrado nas últimas pesquisas, começa a tirar o sono da oposição, como mostra reportagem de Adriana Vasconcelos publicada na edição deste domingo do Globo. Primeiro, porque o PSDB não conseguiu fechar consenso entre seus dois pré-candidatos, o mineiro Aécio Neves e o paulista José Serra. Segundo, porque já percebeu que a intenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é transformar a próxima disputa presidencial numa espécie de plebiscito sobre seu governo, estimulando os quase 80% dos brasileiros que aprovam sua gestão a votarem em Dilma.’

Um abnegado patriota

Lá embaixo arremata:

‘Mesmo liderando com folga pesquisas sobre a sucessão presidencial de 2010, o governador José Serra resiste a assumir sua candidatura e mais ainda à hipótese de ter de se submeter a uma disputa interna no partido para garantir a vaga de candidato. Ele tem evitado participar dos seminários promovidos pelo partido para discutir a plataforma de governo que pretende apresentar ao país em 2010.

Além disso, diferentemente do que imaginavam os oposicionistas, o câncer linfático enfrentado pela ministra Dilma, em vez de abalar, teria ajudado a consolidar sua candidatura, até porque colocou seu nome no noticiário nacional e de forma mais humana.’

Vejamos: Lula aparece como desumano aproveitador, como a oposição político-partidária se queixa quando afirma que o presidente carrega Dilma a tiracolo nas inaugurações e lançamentos de obras do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), fazendo propaganda eleitoral fora de época.

Serra, não! Serra chega a ser transformado num abnegado patriota, um político eminentemente preocupado em governar, alheio a proselitismos politiqueiros.

Imaturidades latentes

Dizer que Dilma exibiu o câncer linfático para colocar seu nome no noticiário de maneira ‘mais humana’ foi a forma mais desumana que o jornal encontrou para acusar a ministra de ser igualmente oportunista como o presidente da República, conforme opinião de seus adversários, dos editores de O Globo e congêneres.

(Quem quiser aula sobre jornalismo de insinuação, leia artigo de Venício A. de Lima, neste Observatório, ‘Quem você pensa que está enganando?‘)

Eu também pretendia mais uma vez tecer comentários sobre a gritaria da maior parte da imprensa brasileira contra o blog da Petrobrás. Mas encontrei uma postagem aqui no OI transcrevendo as queixas de alguns executivos de empresas jornalísticas. Li todos. Enquanto lia, estruturava meus pensamentos, com o propósito de responder à argumentação dos barões e capatazes da mídia. No final abri a caixa de comentários. Foi aí que vi que eu seria apenas repetitivo, pois os leitores adiantaram tudo que eu teria a dizer a respeito do assunto. É só conferir: ‘Blog da Petrobras – O que pensam os editores‘. Aproveite e veja o que pensam os leitores.

Esses incontidos esperneios dos barões da mídia não passam de ato falho. Ficassem calados e se teriam poupado do vexame de revelar suas latentes imaturidades. Buááá… pra eles também.

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Servidor público do estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado da Infância e da Juventude/SEIJ-RJ