Leia abaixo a seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas. ************ Folha de S. Paulo Quarta-feira, 22 de julho de 2009 CAETANO VS FOLHA
Caetano estrila
‘Caetano Veloso tem medo da morte, mas menos do que tinha ‘quando era mais moço e mais narcisista’. Aos 66, ele tem ‘saudades do equilíbrio e da elasticidade do corpo, da força dos cabelos, o jato de urina forte, as ereções firmes, a alegria física da juventude’.
Caetano Veloso odeia ‘a hipocrisia’ e teme ‘o fanatismo’. Ele acha que ‘dadas as revelações da personalidade pragmática do político Lula’, a adesão de seu amigo e também músico Gilberto Gil ao governo, como ministro da Cultura (2003-2008) ‘não teve o caráter negativo’ que ele temia.
Tudo isso o cantor e compositor baiano contou à Folha, numa entrevista a propósito de ‘Coração Vagabundo’, documentário a seu respeito, que chega aos cinemas nesta sexta. O diretor do filme, Fernando Grostein de Andrade, diz que sua intenção era realizar ‘não uma biografia, mas uma passagem pela vida de Caetano’.
Com orçamento em torno de R$ 700 mil, considerado baixo pelos parâmetros brasileiros, ‘Coração Vagabundo’ contou com patrocínio de empresas que tiveram incentivo fiscal para realizar o investimento no filme. O incentivo é proporcionado pelas leis federais de incentivo à cultura, das quais quase todos os filmes produzidos no Brasil lançam mão.
Quando fala no tema da subvenção estatal ao fazer artístico, representada sobretudo pela Lei Rouanet, que movimenta cerca de R$ 1 bilhão por ano, Caetano Veloso engrossa o discurso e critica a Folha, certo jornalismo ‘travestido de investigativo’ e a coluna ‘Mônica Bergamo’ nesta entrevista, que preferiu fazer por e-mail.
A polêmica sobre o uso da Lei Rouanet envolvendo o nome de Caetano tem origem na revelação feita pela Folha de que a turnê de seu mais novo álbum, ‘Zii e Zie’, só pôde recorrer a patrocínio com benefício desse mecanismo de renúncia fiscal depois que o ministro da Cultura, Juca Ferreira, interveio em decisão da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC).
A comissão analisa os projetos submetidos à Lei Rouanet e avaliou, originalmente, que a turnê de Caetano era comercialmente viável, podendo prescindir do incentivo. O orçamento era de R$ 2 milhões.
Caetano julga a cobertura da Folha ‘uma pobreza’. Por um lado, ele estrila. Por outro, não se cansa de ter esperança de um dia ‘melhorar mais’, como afirma a seguir.
FOLHA – Na última vez em que falou à Folha sobre a Lei Rouanet, você deixou clara a sua impressão de não estar sendo devidamente compreendido. Poderia dizer qual é sua opinião sobre o subsídio estatal à produção artística e que avaliação faz do principal mecanismo em prática no Brasil -a Lei Rouanet?
CAETANO VELOSO – Uma moça entrou na fila de fãs no camarim e, ao chegar junto de mim, pediu para fazer duas perguntas. De cara, não percebi que era uma jornalista. Quando entendi isso, eu a encaminhei para a assessora de imprensa. Eu tinha uma fila grande para atender. Julguei que a assessora fosse dispensá-la.
Mas ela reapareceu depois, dizendo agora que faria uma pergunta só. Respondi rindo que sim, que fizéssemos logo para nos livrarmos. Era sobre a Lei Rouanet. Não sou bom nesses assuntos e já tinha lido na Folha sugestões de que eu estaria usando dinheiro público indevidamente. Ora, eu não pleiteei nada junto à comissão que se encarrega de julgar esses pedidos. O produtor que me contratou é que pleiteia. Como a comissão não aprovou, sob o pretexto de que uma turnê minha se sustenta sem isso, o jornal achou que havia um caso aí.
Em entrevista à revista ‘Cult’, eu tinha dito que nunca pensava em Lei Rouanet quando tratava de música popular e que só me pronunciei a respeito por causa do cinema: eu havia me manifestado contra o projeto da Ancinav. A música popular, eu dizia, não me parece precisar de incentivos além dos que já tem. Continuo pensando assim (embora pudesse perfeitamente ter mudado de ideia).
Pois bem, a moça não só não fez uma única pergunta como na terceira de umas cinco punha na minha boca frases que eu não disse. Ela tinha sido enviada por Mônica Bergamo, que mantém uma página de fofocas meio ‘sociais’, meio políticas (ou meio de autoridades, meio de celebridades) e o fito era nitidamente me tratar como se eu fosse um misto de Sarney com Dado Dolabella.
Ao fim da quarta resposta, disse-lhe que fosse embora. Ela perguntou triunfante: ‘Você está me mandando embora?’. Respondi que estava e insisti para que fosse logo. Depois a Bergamo foi para o rádio gritar meu nome com aquela voz de taquara rachada, competindo em demagogia e má-fé com [o jornalista Ricardo] Boechat.
Claro que não ouvi isso na hora: uma amiga me mandou por e-mail em MP3. Havia um desejo ridículo de criar um caso em que eu aparecesse como um cara que não merece respeito.
Li artigos de outros na Folha (e cartas de leitores) meio eufóricos com isso. Uma pobreza.
Mas um conhecido me escreveu o seguinte: ‘Não sei se você sabe, mas o papel de imprensa onde eles destilam o veneninho goza de 100% de isenção fiscal. Será que os próprios repórteres sabem disto? Estamos falando de dezenas e dezenas de milhões de reais em incentivos fiscais, não só federais (0% de PIS, Cofins, imposto de importação etc…) mas também estaduais, já que papel de imprensa também não paga um centavo de ICMS. E a isenção é dada a todo mundo, não só ao jornal do AfroReggae mas também a enormes corporações como a Folha, cujo faturamento está na casa do bilhão. A isenção de impostos do papel de imprensa é provavelmente a forma mais antiga de incentivo fiscal à cultura no Brasil. Acho que vem dos anos 50.. Não sou contra ela. Ao contrário, sou muito a favor, tanto para os jornais quanto para os teus shows. Só sou contra a hipocrisiazinha vingativa -e boba- travestida de jornalismo investigativo.’
É um aspecto a ser pensado por mim e por você, Silvana.
O ministro da cultura disse que achava desequilibrada a decisão da comissão (no meu caso como no de Bethânia e no de Fernanda Montenegro). Se não fosse assim, o produtor da minha turnê que se virasse para fazê-la seguir ou a suspendesse. Eu não ligo a mínima. O ministro quer mudar a lei. Seja como for, hoje todos a usam.
Mas eu não peço isso a ninguém. Conversei depois com Maurício Pessoa (o produtor contratante) e ele me disse que, sem isso, não teríamos espetáculos como o de Juazeiro do Norte, em que os ingressos custavam R$ 30. Mas eu não faço essas contas. Por mim, os ingressos todos dos meus shows deveriam ser menos caros porque o público que tem muito dinheiro é, em geral, muito careta -e eu não sou careta. Muitas pessoas que se identificam com o que faço não podem, em certas cidades, ir ver o meu show. Quem quer que me contrate deverá, contando ou não com isenção fiscal, tentar resolver essa questão, que me interessa. O resto -os casos jornalísticos de excitação por tentar destruir reputações- não me interessa.’
***
‘Odeio a cultura do desprezo no Brasil’
‘Nessa parte da entrevista, Caetano Veloso fala sobre a velhice, a morte, a religião e ‘um idiota’ que desqualificou seu canto.
FOLHA – Se a velhice traz a conclusão de que ‘o pior já passou’, como diz no filme, o que foi o seu pior?
CAETANO – Não é bem uma conclusão. É a constatação de que não se pode pôr tudo na conta da velhice. Alguns podem viver o pior de suas vidas aos 17, ou aos 35, ou aos 42, e atravessar a velhice com alegria e paz.
No filme, não falava de mim. Sou um cara que tem saudades da juventude -não do tempo em que fui jovem, mas da juventude em si, do equilíbrio e da elasticidade do corpo, da força dos cabelos, o jato de urina forte, as ereções firmes, a alegria física da juventude.
Mas não sou burro e sei que não é impossível alguém ter, no cômputo geral, mais alegria na velhice. Reconheço que há vários aspectos da minha vida que melhoraram -e ainda desejo melhorar mais. Algumas coisas, no entanto, não podem deixar de decair com a idade.
FOLHA – Você fala no filme de seu enterro. Teme a morte ou morrer?
CAETANO – Tenho medo das duas coisas. Mas tinha mais quando era mais moço e mais narcisista.
FOLHA – Numa cena, você se preocupa com sua voz. Como lidou com a perda vocal de Gilberto Gil? O filme revela sua recusa à maquiagem para a TV, por receio de ‘ficar com cara de político babaca’. Que impacto teve em sua relação com Gil a decisão dele de ser ministro da Cultura?
CAETANO – Gostaria de ter podido persuadir Gil a poupar mais a garganta. Embora a voz brilhante e extensa que ele tinha fosse linda, a força de Gil está na musicalidade, no modo como toca o violão, como intui a rítmica de uma frase, como revela a consciência imediata das relações entre as notas. Isso não depende de voz limpa.
Quanto ao ministério, é sabido que eu lhe disse: ‘Lula já é um símbolo: você será o Lula do Lula’. No fim, achei que ele foi mesmo um Lula do Lula. Só que isso, dadas as revelações da personalidade pragmática do político Lula, não teve o caráter negativo que eu temia.
FOLHA – Em ‘Coração Vagabundo’ você diz que ‘a pobreza termina resultando espiritualmente’. Trata-se de um pensamento religioso de alguém que se diz antirreligioso?
CAETANO – Não. Essa nossa carne cuja existência percebemos é um fato espiritual o tempo todo. Já fui antirreligioso; depois, fui contra essa posição, que me parecia uma repressão da religiosidade. Passei a ser mais programaticamente antirreligioso, porque odeio hipocrisia e temo o fanatismo.
FOLHA – Em cena no Japão você fala da consciência de ser ‘racialmente suspeito’; em NY, diz-se distinto de quem nasceu acreditando estar no mundo. Hoje sente-se mais estrangeiro no lugar do que no momento?
CAETANO – Sempre estrangeiro. Sou um brasileiro brasileirista. Gosto de São Paulo porque é diferente do Brasil de Vargas e da Rádio Nacional. Mas odeio a cultura do desprezo a tudo o que ganhou ou ganha corpo no Brasil (inclusive Vargas e Rádio Nacional). Outro dia li um idiota desqualificando meu canto em ‘Zii e Zie’ porque supostamente pareceria com Cauby Peixoto e Ângela Maria. Mas eu penso que os EUA só se salvarão quando entenderem Chico Buarque e Lulu Santos.’
OPINIÃO PÚBLICA
Lixam-se todos
‘COMO NINGUÉM é de ferro, também o Congresso entra em férias, e o Executivo o acompanha. Ministros abreviam seus compromissos em Brasília, enquanto os membros do Legislativo -que fizeram menos do que nunca, neste ano, para justificar sua função- recolhem-se a um imerecido período de recesso.
Alguns analistas políticos consideram que, mesmo durante as férias parlamentares, não haverá esmorecimento nas denúncias que se abatem sobre o presidente do Senado, José Sarney, e sobre tantos outros políticos que com ele rivalizam em apadrinhamentos e abuso de prerrogativas.
Se for verdadeiro o prognóstico, será eloquente também. Pois o que se vê, na política brasileira, é um progressivo descolamento entre o ritmo dos escândalos e a lógica da disputa parlamentar.
Em outros tempos, uma bancada ‘de oposição’ cerraria fileiras contra os protagonistas de cada escândalo. Hoje, não há legislador que não tenha seu telhado de vidro.
Como resultado, desaparecem os canais políticos capazes de dar vazão ao inconformismo dos cidadãos mais informados. Ainda que afrontosa, a frase do deputado que declarou ‘se lixar’ para a opinião pública não deixa de fazer sentido.
É que o sistema eleitoral em vigor não corresponde ao desenvolvimento da consciência política da sociedade.
O mecanismo do voto obrigatório constitui, sem dúvida, um dos principais fatores a acentuar o hiato entre o comportamento do eleitor e as reações, frequentemente indignadas, dos cidadãos que tomam conhecimento dos abusos cometidos por seus representantes.
Não é este, contudo, o único motivo para a completa sem-cerimônia com que deputados e senadores transitam pela maré de escândalos que os cerca. Ao contrário do que ocorreu em alguns momentos marcantes da história do país -como a mobilização em torno das Diretas-Já ou do impeachment de Collor-, vê-se hoje uma apatia generalizada no seio da sociedade civil.
Apatia, bem entendido, não significa ausência de julgamento nem de opinião; precisamente, a ‘opinião pública’ continua viva nestes dias. Reduz-se, entretanto, a ser apenas uma ‘opinião’, sem forças para converter-se em real força política.
Poderão assim prosseguir, como é previsível, as revelações de mais e mais desmandos no Senado; o recesso parlamentar não conta, num ambiente em que inexistem bancadas partidárias comprometidas seriamente com a ética política.
Lixam-se todos, em resumo, para a opinião pública.
Não é este o pior aspecto da situação. O pior, e parece já acontecer, é o fenômeno inverso. Também a opinião pública se lixa para eles. Sabe de que matéria são feitos; desiste de corrigi-los; prevê que serão eleitos novamente; declina, em suma, de se ver representada do ponto de vista político, abandona a participação democrática em favor de uma suposta normalidade institucional: no mar de lama, navega-se sem susto.’
ACENTOS
Ruy Castro
Dúvidas no éter
‘RIO DE JANEIRO – Entreouvido no rádio do táxi. No auge do noticiário sobre o acidente com o Airbus da Air France, o locutor lia uma nota sobre as buscas em alto-mar, e tudo na frase indicava que a palavra seguinte seria ‘destroços’. Mas, por longos cinco segundos, ele empacou no ‘destr’. Certamente ficou na dúvida sobre se o ‘o’ seria aberto ou fechado -’destróços’ ou ‘destrôços’? Seguro morreu de velho, e o rapaz preferiu dar a volta na palavra, completando a frase com ‘restos’.
O mesmo aconteceu outro dia quando o senador José Sarney citou o romano Lúcio Aneu Sêneca, que recomendava ‘silêncio, paciência e tempo’ às vítimas das grandes injustiças -longe de ser o seu caso. Ao reproduzir a citação, o locutor foi bem em Lúcio Aneu, mas embatucou em Sêneca, talvez sem chapeuzinho no papel que ele estava lendo. O silêncio no famoso éter dava uma ideia da sua agonia. Incapaz de decidir entre Sêneca, Senéca e Soneca, ele recuou e ficou apenas em Lúcio Aneu -nome pelo qual ninguém conhece o filósofo.
E não é incomum que o trágico grego Ésquilo, inventor da catarse e autor de ‘Prometeu Acorrentado’ e da trilogia ‘Oréstia’, se transforme em Esquilo nas raras vezes em que é encenado por uma de nossas companhias e seu nome tenha de ser dito ao microfone.
Mas nada supera o drama de um antigo locutor ao ler ao vivo um comercial que ele não conhecia, o do azeite Beira-Alta. O texto dizia: ‘Azeite?’ -e instruía o locutor a dar três muchochos, tipo tsk, tsk, tsk, para então responder: ‘Só Beira-Alta!’. Pois, no ar, ele atacou: ‘Azeite? Três muchochos!’.
Do outro lado do vidro, o sonoplasta começou a fazer-lhe sinais desesperados de ‘Não! Não! Não!’. O locutor, sem entender o erro, mas querendo se salvar, emendou: ‘Ou seriam três muchachos?’.’
TODA MÍDIA
Para continuar cortando
‘Fechando o dia na manchete do Valor Online, as ‘taxas dos contratos de juros futuros na BM&F indicam que investidores se protegem de eventual surpresa do Copom’, a saber, corte superior a meio ponto.
Estava também no alto das buscas de Brasil, com Bloomberg, que ouviu, de um banqueiro privado: ‘O Banco Central tem espaço para continuar cortando. Os preços estão sob controle, especialmente depois de mais deflação no IGP-M, hoje, e a economia está crescendo abaixo de seu potencial’.
Lula concorda. Destaque da Reuters Brasil ao site do jornal ‘O Estado de S. Paulo’, ele ‘afirma que há margem de manobra para corte’. Em suas palavras, ‘se será um ponto, meio ponto, 0,75, as pessoas que estão com as tabelas é que vão decidir’.
EM MÁ HORA
O ‘Financial Times’ traz hoje a reportagem ‘Caso Petrobras ameaça boom do Brasil’, sobre a CPI. Destaca que ‘arrisca complicar os esforços para estabelecer regras para uma das poucas novas reservas do mundo, que segundo analistas põe o país perto de um boom de petróleo’. No original, ‘inquiry comes at a bad time’.
O ‘FT’ ouve, de um editor de revista setorizada, que a ‘Petrobras inicia o complexo desenvolvimento do pré-sal e preparar sua defesa já está tirando recursos gerenciais desse esforço’. Outro dá a CPI como seu ‘pior desafio’, num momento em que tenta levantar recursos. O jornal ouve também o tucano Álvaro Dias, para quem ‘a Petrobras é um aparato político de Lula’.
O BRASIL NO PALCO
Ontem à noite, destaque nas buscas de Brasil, ‘Obama diz a Dilma Rousseff que deseja maior relação comercial’. Antes, o Council on Foreign Relations, instituto influente na política externa, postou ‘O Brasil no palco internacional’, sobre as relações entre os dois países.
Sublinha que ‘o Brasil está aprendendo a equilibrar diplomacia comercial e política de modo sem precedentes’. E sugere ‘olhar o Brasil como intermediário em questões de segurança regional’, por sua ‘moderação, sob Lula’. Por outro lado, a AP deu que um senador republicano, para mostrar seu desagrado com a reação da Casa Branca ao golpe em Honduras, adiou a aceitação de Thomas Shannon como novo embaixador no Brasil.
BRASIL & ISRAEL
Um dia após a confirmação da visita do presidente do Irã, chegou o ministro do exterior de Israel, para se contrapor à ‘infiltração’, à ‘crescente atividade do Irã na América do Sul’, no dizer da chancelaria israelense, via agências.
Mas ecoou mais, ontem, a entrevista do secretário de Relações Internacionais do PT ao ‘Haaretz’, tratando o ministro por ‘fascista’. Não muito diferente do que outros falam do presidente iraniano.
& VENEZUELA
A visita foi precedida também de declaração da diretora para América Latina do ministério israelense do exterior, ao colombiano ‘El Tiempo’, acusando a Venezuela de abrigar ‘células’ do grupo libanês Hezbollah na fronteira com a Colômbia. O governo de Hugo Chávez negou.
E respondeu, via agências, que ‘avalia a relação com a Colômbia’ diante da ‘instalação de base americana’ na fronteira com a Venezuela.
ARMAS AOS EMERGENTES
Nas manchetes on-line de ‘New York Times’ e outros, ‘Diante da ameaça de veto’ de Barack Obama, ‘Senado bloqueia dinheiro para jatos militares’ nos EUA.
Já no ‘Financial Times’, ontem também, ‘Grupos de defesa voltam os olhos para novos alvos de venda’. Corporações como Honeywell e Boeing estariam ‘seduzidas pelo maior gasto de países como Índia e Brasil’. Aqui, a movimentação chegou ao ‘Jornal da Record’, que iniciou ontem a série ‘A guerra dos caças’, com os jatos em avaliação pela Força Aérea Brasileira.
‘BOOM’
O site da ‘Foreign Policy’ avisa que ‘o jornalismo impresso floresce na Índia’, em ‘explosão’, até ‘uma revolução’. O crescimento se concentra nos jornais de línguas indianas. Já o ‘Wall Street Journal’ noticia que em quatro anos a Ásia, principalmente a China e a Índia, vai responder por 43% do tráfego da internet, contra 13% dos EUA
MAIS 5, MAIS 6
Na manchete da Folha Online e do UOL, por Mônica Bergamo, ‘São Paulo confirma 5 novas mortes’. Depois, manchete do ‘Jornal Nacional’, ‘SP tem mais 5 mortes’. Mais uma hora e foi para 6. Agora são 9 em SP e 11 no RS, 20 das 22 registradas no país.’
ITÁLIA
Confiança no premiê italiano cai ao menor nível após escândalo
‘No dia em que novos diálogos atribuídos a Silvio Berlusconi com a prostituta de luxo Patrizia D’Addario vieram a público, o premiê da Itália viu sua popularidade cair para menos de 50% pela primeira vez desde que retornou ao cargo, em maio do ano passado.
Segundo pesquisa divulgada ontem pelo jornal ‘La Reppublica’, 49% dos italianos dizem confiar no premiê; em maio, eram 53% -não foi informada a margem de erro. Embora pequena, a queda pela primeira vez sinaliza que os escândalos sexuais que envolvem Berlusconi começam a prejudicá-lo.
Na nova série de diálogos publicada ontem na internet pela revista ‘L’Espresso’, o empresário Giampaolo Tarantini aparece alertando D’Addario de que o premiê ‘não usa preservativo’. A prostituta mostra seu descontentamento com a informação, ao que Tarantini rebate: ‘Mas é o Berlusconi!’
Tarantini é investigado pela Promotoria de Bari por aliciamento de prostitutas para festas nas casas de Berlusconi. Os áudios divulgados foram entregues por D’Addario aos responsáveis pela investigação.
Em outro trecho, o premiê teria se autoexaltado a D’Addario por ser o único líder mundial a ter presidido duas vezes o G8 (os sete países mais industrializados do mundo mais a Rússia). ‘E agora vem o G16 (sic), e será a terceira. Sou insuperável. Três vezes!’, teria dito.
O advogado de Berlusconi, Niccolo Ghedini, nega a veracidade das gravações e ameaça adotar medidas judiciais para investigar o vazamento.’
INTERNET
Ministro Hélio Costa defende liberação da venda do Speedy
‘O ministro Hélio Costa (Comunicações) defendeu ontem a liberação da venda do Speedy, da Telefônica, pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).
Para o ministro, a empresa já aprendeu com a suspensão imposta pela agência e mostrou que fará investimentos no serviço de banda larga.
‘O efeito da penalidade já foi sentido, a empresa já está consciente. Temos que fazer [a liberação] o mais rápido possível, porque não pode punir o usuário’, afirmou.
No dia 22 de junho, a Anatel proibiu a Telefônica de comercializar o serviço de banda larga Speedy depois de uma série de panes enfrentadas pelos usuários nos últimos meses.
Na decisão, a Anatel determinou que a Telefônica adote procedimentos para melhorar o serviço e disse que a medida cautelar valeria até que ‘a empresa implemente medidas que assegurem a sua efetiva regularização’.
Na semana passada, a Telefônica disse ter concluído a primeira parte do plano de reestruturação do serviço e solicitou à Anatel o fim da proibição da venda. A agência ainda não se pronunciou.’
TELEVISÃO
Daniel Castro
Globo procura programa ‘popular’ para os domingos
‘A cúpula da Globo está à procura de um programa de forte apelo popular para exibir nas noites de domingo, após o ‘Fantástico’. E tem pressa. Quer que o novo programa estreie em outubro, após o final de ‘No Limite 4’. Encomendas foram feitas a autores e diretores artísticos da emissora.
O novo programa, a princípio, será um seriado. Segundo Octavio Florisbal, diretor-geral, nenhum dos projetos que estrearão neste semestre têm perfil para a vaga. Nem mesmo ‘Cinquentinhas’, de Aguinaldo Silva, com Susana Vieira, Marília Pêra e Marília Gabriela. Hoje, é grande a probabilidade de ‘Cinquentinhas’ entrar após ‘A Grande Família’.
O novo seriado terá que ser um novo ‘Sai de Baixo’, capaz de concorrer com os programas exibidos no horário: reality shows como ‘A Fazenda’ (que o game ‘Jogo Duro’ não consegue deter) na Record e filmes de grande bilheteria no SBT e na Record.
Florisbal confirma a estreia no segundo semestre dos novos ‘Programa da Noite’ e ‘Norma’. Apresentado por Fernanda Lima, o primeiro será uma espécie de talk show entre casais, focado em comportamento sexual. Deve entrar às quintas ou sextas-feiras.
Já ‘Norma’, com Denise Fraga, apresentará um formato novo, unindo interatividade com plateia e via internet. O público decidirá o rumo da história da pesquisadora Norma.
Ainda não confirmado, o novo talk show de Pedro Bial poderá entrar às sextas, depois do ‘Programa do Jô’.
RECONSTRUÇÃO
Gugu Liberato começa nesta semana a gravar seu programa na Record. Será uma edição do quadro ‘Construindo um Sonho’. A Record quer estrear o ‘Programa do Gugu’ em 16 de agosto, mas a equipe do apresentador prefere o dia 23.
TECNOLOGIA
O cenário do ‘Programa do Gugu’ ainda não está definido. A Record apresentou duas opções, ambas descartadas. ‘Queremos um cenário moderno, que tenha tecnologia’, afirma Homero Salles, diretor-geral.
LÚDICO
Em seu segundo episódio, ‘Ger@al.com’, da Globo, subiu alguns décimos e marcou 7,8 pontos na prévia do Ibope. Mas perdeu para a Record (8).
LUXÚRIA
Apesar do ibope decepcionante, a Globo estuda uma segunda temporada de ‘Som & Fúria’, porque é institucional e artisticamente interessante. A série de Fernando Meirelles deu 16 pontos nas duas primeiras semanas -a meta era 20.
BOMBANDO
A Band esperava receber em dez dias até 2.000 inscrições à vaga de oitavo repórter do ‘CQC’. Mas, apenas nas primeiras 12 horas, foram 4.500.
SOBRANDO
A Record sugou a ex-’A Fazenda’ Mirella Santos. Ela compareceu ao ‘Hoje Em Dia’ e ‘Geraldo Brasil’ de segunda e ontem. Até o começo da tarde de ontem, somava oito horas e 12 minutos de superexposição.’
E-BOOK
Janaina Lage, de Nova York
Amazon faz papel de Grande Irmão
‘‘O Grande Irmão está observando você’. A frase do clássico ‘1984’, de George Orwell, deixou de ser apenas citação literária para centenas de proprietários do Kindle, o dispositivo de leitura que permite o download de livros pela Amazon.
Sem autorização dos usuários e nem aviso prévio, na última sexta-feira, a Amazon apagou as edições digitais dos livros ‘1984’ e ‘A Revolução dos Bichos’ dos aparelhos de quem os havia comprado. A empresa ressarciu os usuários, mas a medida provocou uma onda de queixas em fóruns de discussão na internet e levantou a polêmica sobre a diferença entre a compra de livros e o download de seus arquivos.
Procurada pela reportagem, a Amazon não informou quantos usuários foram afetados pela medida, mas somente no quadro de discussão da empresa existiam mais de 200 mensagens sobre o assunto. A empresa se limitou a divulgar comunicado no qual afirma que os livros foram adicionados ao catálogo por meio de uma empresa que não tinha os direitos sobre as obras.
‘Quando fomos notificados pelos donos dos direitos, nós removemos as cópias ilegais do nosso sistema e dos dispositivos dos clientes e os ressarcimos. Nós estamos mudando nossos sistemas de modo que, no futuro, não vamos mais remover livros dos dispositivos de clientes em circunstâncias como estas’.
Usuários do Kindle citam a Mobile Reference como a empresa que repassou os direitos para a Amazon. Os livros digitais comprados para o Kindle são enviados por meio de uma rede sem fio. A Amazon também pode usar essa rede para sincronizar livros eletrônicos nos aparelhos.
No site da Amazon, uma internauta identificada como Sunny Lady reclamava da falta de informações. ‘Sinto muito, quando você deleta minha propriedade privada -com ressarcimento ou não- sem minha permissão, eu espero uma explicação melhor. Livros piratas à venda na Amazon -isso não é problema meu-, contratem mais gente para checar antes que eles sejam vendidos.’
O colunista do New York Times, David Pogue, compara a situação com a entrada furtiva de um vendedor em casa que pega de volta os livros vendidos e deixa um cheque sobre a mesa de cabeceira.
Mas, para Craig Delsack, advogado especializado em propriedade intelectual e tecnologia, tudo depende dos termos de venda. ‘Funciona como qualquer download. É o mesmo que a Apple apagar uma música que você comprou no iTunes. Não necessariamente eles têm esse direito, tudo depende do contrato’.
O especialista destaca que o episódio pode afetar a percepção dos consumidores em relação ao preço pago para baixar os livros. ‘Você não compra o livro, obtém uma licença protegida e isso afeta o valor de venda. Se sei que o livro pode ser apagado, isso afeta o quanto aceito pagar por ele’, disse.’
Hélio Schwartsman
Era digital torna difícil ser um liberal autêntico
‘O que adquirimos quando compramos um livro ou outro bem cultural por vias eletrônicas? Tornamo-nos proprietários dos bits que o compõem ou obtemos apenas o direito de desfrutar da obra?
No mundo pré-informático, a resposta era simples. Éramos donos do produto e poderíamos fazer com ele o que bem entendêssemos. Ninguém poderia me censurar por picotar de um livro de minha propriedade as páginas de que não gosto, mesmo que isso, ao fim do processo, resulte numa deturpação do pensamento do autor.
Agora que as possibilidades de reproduzir obras e intervir sobre elas ficaram quase ilimitadas, a questão se torna mais complexa. Até que ponto é preciso respeitar direitos do autor e a própria integridade da obra?
Em 2005, os EUA baixaram uma lei que autoriza empresas a adquirir DVDs e deles retirar palavrões e ‘cenas fortes’ para revendê-los a um público religioso que prefere não ver essas coisas. A ‘sanitização’ pode ser feita à revelia do autor.
Se achamos que criadores podem reclamar, então defendemos uma noção menos forte de propriedade -e a Amazon também pode confiscar o livro irregular. Se enfatizamos a posse material, então eu poderia comprar a Mona Lisa e pintar-lhe bigodes ou destruí-la, privando toda a humanidade desse retrato. Parece cada vez mais difícil ser um liberal autêntico.’
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O Estado de S. Paulo
Quarta-feira, 22 de julho de 2009
SARNEY
Fernando agradece ao pai por TV
‘No telefonema ao filho Fernando, para tratar da nomeação do namorado da neta no Senado, o senador José Sarney (PMDB-AP) aproveita para dar uma boa notícia ao primogênito, encarregado de tocar os negócios da família. O senador diz a Fernando que tinha acabado de ser assinada, no Ministério das Comunicações, a outorga de mais uma repetidora da TV Mirante, a rede de televisão dos Sarney no Maranhão.
‘Ontem foi assinado o negócio da TV de Estreito, a repetidora’, diz Sarney. Fernando primeiro comemora. ‘Beleza, ótimo! Isso é uma boa notícia’, diz o empresário. E, logo depois, agradece. ‘Ótima notícia, tá, paizão, obrigado.’
O telefonema se deu no dia 2 de abril de 2008. Na mesma data, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, do PMDB de Sarney, assinou a portaria 145, que autorizou a TV Mirante a ‘executar o Serviço de Retransmissão de Televisão (…) no município de Estreito, Estado do Maranhão’.. A tramitação do processo no ministério durou pouco mais de um ano. Teve início em 29 de março de 2007.
A portaria ampliou os domínios da Rede Mirante, afiliada da Rede Globo, que tem sede em São Luís e repetidoras espalhadas por todo o Maranhão. A família Sarney é dona do maior complexo de comunicação do Estado. Além da tevê, possui um jornal, várias emissoras de rádio e um portal na internet.
O Estado revelou em novembro de 2007 que 23 dos 81 senadores – quase um terço do total – aparecem como proprietários de empresas de rádio e TV. Entre os 23 parlamentares, uma pesquisa no Sistema de Acompanhamento de Controle Societário (Siacco), do Ministério das Comunicações, mostra que pelo menos 17 têm parentes na sociedade e na direção do negócio – filhos, irmãos, mulheres ou ex-mulheres.’
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Diálogo mostra zombaria de filho com benesses no Senado
‘Parte dos diálogos gravados pela Polícia Federal mostra que, em privado, integrantes da família Sarney faziam troça das benesses que tinham no Senado. Numa conversa com o pai, Fernando Sarney, o estudante João Fernando Michels Gonçalves Sarney admite que, embora estivesse pendurado na folha de pagamento do Senado como funcionário do gabinete de Epitácio Cafeteira (PTB-MA), não costumava aparecer para trabalhar.
Às gargalhadas, João conta ao pai que foi chamado por Cafeteira no gabinete para uma conversa. ‘Fui lá achando que era alguma coisa importante (…) e ele falou: ?Não, pô, eu só queria te ver?.’
Filho de Fernando Sarney com a ex-candidata a Miss Brasília Rosângela Terezinha Michels, João, 22 anos, foi nomeado assessor de Cafeteira em 1º de fevereiro de 2007. Ficou no cargo, que lhe rendia salário mensal de R$ 7,6 mil, até 3 de outubro do ano passado. Foi exonerado por força da súmula do Supremo Tribunal Federal que proibiu o nepotismo no serviço público. Como revelou o Estado, no mês passado, a exoneração se deu por ato secreto, para não chamar atenção. Para o lugar do estudante, foi nomeada a mãe dele.
Na conversa gravada pela PF em 25 de março de 2008, Fernando diz ao filho, que mora em Brasília, que tinha passado pela cidade naquele dia, em escala rumo a São Paulo. João aproveita para contar a conversa com Cafeteira. ‘Depois eu te conto o que o senador me aprontou’, diz, em tom de galhofa. ‘Tu ligou pra ele e perguntou se eu tava indo trabalhar, não foi?’, pergunta ao pai. Fernando Sarney diz que sim.
João, então, desfia a história: ‘Pois é. Eu cheguei de viagem ontem, né, só que eu tava com dor de barriga, né (…) Passei o dia inteiro em casa, não fui nem para a faculdade. Aí me ligou a secretária (de Cafeteira), dizendo ela que era pra eu ir pra lá porque ele queria falar uma coisa comigo’. Fernando também gargalha. É quando João relata a ‘peça’ que Cafeteira lhe pregou repetindo o que ouvira do senador: ‘Teu pai perguntou se você tava trabalhando e eu tinha que te ver pra falar pra ele.’
Em outra conversa, gravada pela PF no mês anterior, Fernando Sarney dá um pito em João, que lhe pedira dinheiro para trocar de carro.
O pai diz que o filho não tinha razão para lhe pedir dinheiro. Afirma que, de todos os seus filhos, João é o que põe mais ‘grana no bolso’. E não hesita em incluir o salário que o filho recebia do Senado na conta da mesada: diz que João já recebia ‘7 mil e pouco’ do Senado, ‘mais cinco mil e tanto’.
Quando o Estado revelou o caso de João, Cafeteira, velho aliado de José Sarney, negou que o neto do presidente do Senado fosse funcionário fantasma. Assessores do gabinete, no entanto, disseram não haver nenhum João entre os servidores que davam expediente ali.’
VENEZUELA
Líder quer ‘rádio popular’ no lugar de 240 emissoras
‘O presidente Hugo Chávez propôs ontem a criação de uma ‘rádio popular’ para operar na frequência das 240 emissoras que serão tiradas do ar na Venezuela. Segundo o governo, tais rádios estariam ‘irregulares’ por não ter participado de um processo de recadastramento. ‘Recuperaremos o espectro radioelétrico para o povo’, disse Chávez.
TELEVISÃO
Keila Jimenez
Rei Lear e Ricardo III
‘Vêm aí as montagens de Rei Lear e Ricardo III na Globo. Não, não são novos projetos dramatúrgicos, e sim a temática da segunda temporada de Som & Fúria, que já está em fase de negociação. Depois de Hamlet e Macbeth, a companhia de teatro mais amalucada – e real – retratada na TV já está de olho em suas próximas peças. Parceira da Globo na produção, a O2 Filmes quer dar continuação ao projeto, que tem torcida dos diretores e do elenco para vingar em 2010.
Se for adiante, Som & Fúria deve manter o elenco original. Dan Stulbach, por sinal, passa a ser o olho do furacão, uma vez que seu personagem tem, não por acaso batizado como Ricardo, um pouco de Ricardo III – um dissimulado que não mede esforços para ir tirando todos do seu caminho, até a direção da companhia. Opa, surpresa por aí.
Apesar das críticas positivas, Som & Fúria não atingiu a média sonhada pela Globo. O ibope máximo alcançado pela série foi 19 pontos.
Mesmo assim, a turma da 02 diz que o programa não foi criado para ser campeão de audiência e que Globo sabe balancear a hora de ganhar dinheiro e a aposta em formatos que renovem a TV.’
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