É uma vergonha para o país termos um presidente do Senado sob suspeita e que se recusa, contra tudo e contra todos, a deixar o cargo. É uma afronta à democracia. Como cidadão brasileiro, sem imunidade parlamentar, não posso deixar de me indignar. Entendo que o senador Renan Calheiros tem todo o direito de defesa. No entanto, ao longo desse processo, deve se manter afastado da presidência do Senado. Concordo com o senador JarbasVasconcelos, que tomou uma atitude correta como homem público e fez uma dura crítica a Renan Calheiros, solicitando seu afastamento. Não conheço particularmente o senador Jarbas Vasconcelos, nem faço parte do seu círculo de amigos. Tem o meu respeito como homem público. Está faltando isso hoje no país. Homens públicos com vergonha na cara. Uma atitude que honra Pernambuco.
Da tribuna, Vasconcelos disse, com propriedade, que sua saída da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e do senador Pedro Simon, do Rio Grande do Sul – por interferência do senador Renan Calheiros – levam o Senado para a ‘sarjeta’. Disse ainda o senador Vasconcelos que a ‘Casa’ (o Senado) se encontra degradada. Correto. Como conviver com a série de denúncias contra o seu presidente e ficar quieto? É uma omissão grave. Sua postura forte contra Calheiros resultou na decisão de retirá-lo, junto com Simon, da CCJ.
O que fazer? Acredito que essa é pergunta que todos nós, brasileiros e brasileiras, fazemos diariamente diante da impunidade. Entendo que devemos sempre respeitar a democracia, a República. Temos vias para nos expressar e intervir. Nesse caso, entendo que a bancada pernambucana no Congresso deve cerrar fileiras com o senador Jarbas Vasconcelos e o senador Pedro Simon no sentido de exigir o afastamento de Renan Calheiros da presidência do Senado. Com certeza, o senador Calheiros tem, como afirmou, todo o direito de se defender, mas que faça isso fora da cadeira da presidência do Senado, que não pode ter ninguém sentado nela sob suspeita.
O dever da imprensa
Dentro desse contexto, entendo que é fundamental a participação da imprensa. Hoje, o jornalismo ocupa um papel central na nossa sociedade. Tem como função interpretar a realidade social e contribuir para o aperfeiçoamento da democracia. Nesse sentido, lembro as palavras de Rui Barbosa, sempre atuais, mais fortes ainda em se tratando do quadro atual que vivemos no país no livro A Imprensa e o Dever da Verdade, publicado pela Editora da Universidade de São Paulo, em 1990:
‘A imprensa é a vista da Nação. Por ela é que a Nação acompanha o que lhe passa e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe alvejam, ou nodoam, mede o que lhe cerceiam, ou destroem, vela pelo o que lhe interessa, e se acautela do que a ameaça’.
E mais diz Rui Barbosa sobre o dever da imprensa:
‘Sem vista mal se vive. Vida sem vista é vida no escuro, vida na soledade, vida no medo, morte em vida: o receio de tudo; dependência de todos; rumo à mercê do acaso: a cada passo acidentes, perigos, ou o cristal, que lhe clareia, é obscuridade, onde se perde, a ruim lente, que lhe turva, ou a droga maligna, que lha perverte, obstando-lhe a notícia da realidade, ou não lha deixando adulterada, invertida e enganosa’.
As palavras de Rui Barbosa sobre o dever da imprensa me emocionam neste grave momento em que o cinismo, a corrupção e a corrosão do caráter contaminam este país. Entendo que não é só um dever dos jornalistas, das empresas jornalísticas, mas de todos nós, brasileiros e brasileiras, dizermos não a essa situação. Estamos sendo omissos, eu, você, cada um de nós, com o que estão fazendo com o Brasil. Até quando seremos omissos?
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Jornalista, vice-coordenador do programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPE