Futebol/Mundial de clubes
O título do tricampeonato mundial de clubes conquistado pelo São Paulo no Japão teve lances interessantes também fora de campo. A relação dos jogadores com os jornalistas destacados para a cobertura da competição não foi das melhores, com greve de silêncio e acusações formais de se torcer para o adversário. Tudo porque existe uma visão equivocada do papel desempenhado pela imprensa esportiva. Imagina-se que ela tem de jogar ao lado dos clubes e da seleção brasileira, quando essa não é sua função. Na verdade, a imprensa tem que informar, independentemente dos interesses que estejam envolvidos.
Os atletas do São Paulo, infelizmente, parecem não entender esse conceito elementar. Por causa disso, fizeram uma greve de silêncio logo após a partida de estréia no mundial contra o al-Ittihad. O motivo: as notícias publicadas referentes a um desentendimento sobre a premiação em caso de conquista do título e sobre a saída (cercada de polêmica) do atacante Amoroso, que já teria acertado um pré-contrato com um clube japonês. Todos ficaram sabendo do que se veiculava aqui no Brasil graças à internet e a telefonemas de amigos e familiares.
Se essas notícias fossem mentirosas, então a função do São Paulo, caso tivesse uma assessoria de imprensa eficiente, era vir a público esclarecer os pontos nebulosos e apontar os eventuais erros. Em vez disso, seus atletas optaram pelo silêncio. Só que se pensou em atingir um alvo e acertou-se em outro. Quem perdeu foi o público, especialmente o das emissoras de rádio e jornais que não tiveram a palavra dos jogadores a respeito de uma partida muito complicada contra os árabes (o placar final foi 3 x 2 para o SPFC).
A lei do silêncio foi revogada logo no dia seguinte. Os jogadores se explicaram, mas os veículos que, segundo eles, teriam publicado mentiras não foram apontados, tudo ficou por isso mesmo e as relações voltaram a ser amistosas. Mas, logo após a final disputada com o Liverpool (1 a 0 para o São Pau;o), a relação com a imprensa voltou a se tornar problemática. Dessa vez devido a um ato localizado. O goleiro Rogério Ceni, eleito pela imprensa internacional o melhor atleta da competição e o MVP [atleta mais valorizado] da partida, aproveitou a entrevista pós-jogo para acusar o jornalista Milton Neves, da Rádio Bandeirantes (SP), de torcer declaradamente pelo clube inglês.
Talvez Ceni tenha confundido as coisas. Na verdade, não só Milton, mas grande parte da imprensa, colocou o Liverpool como favorito até mesmo pelo retrospecto. O São Paulo não teve um bom desempenho no segundo semestre deste ano, quando rondou as últimas colocações do Brasileirão. Por outro lado, o Liverpool chegou ao Japão apresentando a excelente marca de 11 partidas sem tomar gols, além de tecnicamente ser um time bem armado. A imprensa, entre outras coisas, destacou tudo isso, mas disse também que numa final de um jogo só tudo poderia acontecer.
As declarações de Ceni provaram que ainda existe mágoa na relação do grupo de jogadores em relação à imprensa. Porém, a origem dela é totalmente equivocada. A imprensa não tem que fazer média, muito menos torcer. Deve informar, mesmo que se sujeite a sofrer sanções como a lei do silêncio.
Vale lembrar que Rogério Ceni tem um histórico de atritos com a imprensa. Um episódio é exemplar quanto a isso. Quando se casou, em 2000, Ceni divulgou à imprensa que a cerimônia ocorreria na Igreja de Nossa Senhora do Brasil. No entanto, era na Igreja do Perpétuo Socorro de Santa Rosália. Como se um momento particular fosse motivos para que fotógrafos se acotovelassem a fim de garantir uma imagem de primeira página.
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Colaborador dos sítios Laboratório Pop, Ruídos e Bacana; blog: http://informacaoprivilegiada.blogspot.com