Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Cancelados livro e entrevista com O. J. Simpson

Após enfrentar intensa pressão dentro e fora da empresa, o grupo News Corporation cancelou, na segunda-feira (20/11), seus planos de publicar um livro e de televisionar uma entrevista com O.J. Simpson, nos quais o ex-astro de futebol americano conta como teria sido se ele tivesse assassinado sua ex-mulher Nicole Brown Simpson e o amigo dela Ronald Goldman. O livro estava com lançamento marcado para 30/11 e a entrevista seria exibida em dois blocos, também no fim deste mês.


Na última semana, críticos chegaram a pedir a anunciantes que iriam patrocinar o polêmico programa na Fox que o boicotassem; diversas afiliadas da rede de TV anunciaram que se recusariam a colocar o programa no ar; apresentadores como Bill O’Reilly, do canal a cabo Fox News, mostraram-se publicamente críticos à entrevista e várias livrarias afirmaram que não venderiam o livro, intitulado If I did It e publicado pela editora HarperCollins, também do News Corporation. Diante de tal cenário, o presidente do grupo, Rupert Murdoch, emitiu uma declaração anunciando que a entrevista não iria ao ar e o livro não seria lançado. ‘Eu e a administração do grupo concordamos com o público americano que este foi um projeto ‘infeliz’. Nos desculpamos por qualquer dor que possamos ter causado às famílias de Ron Goldman e Nicole Brown Simpson’, afirmou o empresário.


Desde que o ex-atleta foi inocentado por um júri de maioria negra, há 11 anos, pelo assassinato, a facadas, de Nicole e Goldman, qualquer projeto que o envolva recebe pesadas críticas. Em 1997, um tribunal civil, de maioria branca, determinou que Simpson poderia ser responsabilizado pelas mortes e ordenou que ele pagasse US$ 33,5 milhões às famílias das vítimas. Simpson ocasionalmente aparecia em público e nunca parou de se declarar inocente das acusações de assassinato.


Notícia bem-vinda


O cancelamento foi bem recebido pelas emissoras afiliadas da Fox. Michael Angelos, vice-presidente da Pappas Telecasting Companies, que notificou à News Corporation, na sexta-feira (17/11), que suas quatro emissoras não tinham a intenção de divulgar a entrevista, emitiu uma declaração classificando a decisão da rede como ‘uma vitória para aqueles que expressaram sua opinião’. ‘Este especial só teria beneficiado a O. J. Simpson’, afirmou.


Scott Blumenthal, vice-presidente da Lin Television Corporation, que anunciou que não divulgaria a entrevista nas suas cinco afiliadas Fox, disse estar satisfeito com a decisão. ‘Sentimos que o programa era inapropriado para nossos mercados’, afirmou. ‘O programa nos deixou desconfortáveis; além do tema controverso, servia como publicidade para o livro’, afirmou Art Slusark, vice-presidente do Meredith Corporation, que também possui afiliadas.


Um executivo do News Corporation, que não quis se identificar, contou que, internamente, o programa era considerado um desastre. Outro revelou que a empresa não calculou bem o impacto negativo que a entrevista teria diante do público americano. Um outro funcionário afirmou que, provavelmente, Simpson ainda seria pago pelo livro. Contratos padrões de publicação geralmente dão uma porcentagem adiantada ao autor.


Quase lançado


Setenta mil cópias que já tinham sido entregues a livrarias nos EUA foram recolhidas, segundo um executivo da HarperCollins. If I Did It seria publicado pelo selo ReganBooks. Algumas redes de livrarias, como a Borders, afirmaram que teriam vendido o livro em suas lojas e doado o lucro a instituições de caridade. Informações de Bill Carter e Edward Wyatt [The New York Times, 21/11/06] e de Lisa de Moraes e Bob Thompson [Washington Post, 21/11/06].