Uma das frases mais curiosas que escutei durante os últimos debates eleitorais refere-se ao jeito de fazer política: ‘Nossa sociedade não aceita mais esse jeito de fazer política.’ Que jeito é esse?, fico me perguntando. A pessoa que proferiu essa frase referia-se a uma espécie de política denunciativa, onde o candidato ‘x’ acusa o candidato ‘y’ de uma série de fatos. Confesso que esse tema me deixou instigado porque, refletindo o significado da política na organização pública e no contexto social, não consigo separar política e fiscalização.
Deixe-me explicar: se partirmos do princípio que o Estado é o responsável pelo bem-estar social de todos e que as ferramentas e instrumentos para se alcançar esse objetivo são as políticas públicas, como podemos aceitar que alguém governe sem ser fiscalizado e, se for necessário, denunciado por sua administração corrupta?
Os pilares de uma sociedade configuram-se nos seus aspectos culturais, morais, éticos, políticos e, atualmente, estéticos – entenda-se estético, neste artigo, como uma preocupação exorbitante com o formal, o apresentável, o que em sua presença expressa lisura e transparência. Algumas pessoas podem conhecer essa característica como o formalismo de antigamente.
Desburocratizar, uma missão de governo!
De fato, já que estamos falando do passado, os candidatos parecem seguir à risca uma cartilha baseada num velho ditado, que adaptado para os novos tempos, fica assim: ‘A ocasião faz o candidato.’ Os marqueteiros são, hoje, os verdadeiros estrategistas das candidaturas. Os eleitores, o alvo mercadológico.
Veja bem, caro leitor, a justiça eleitoral em nosso país, resumidamente, é bordada pelo fio condutor da democracia, que é o regime onde todos têm a possibilidade e o direito de participar e escolher. No entanto, a justiça eleitoral é regimentada sob a égide da burocracia, que é considerada o moralismo do contemporâneo. Juntando esses dois termos, democracia e burocracia, o que fica? Absolutamente, nada, pois uma anula a outra.
Entretanto, as constantes tentativas dos candidatos em apresentar planos menos burocratizadores e mais próximos da realidade brasileira parece ser a estratégia que dá sentido a cada novo pleito eleitoral. Desburocratizar tornou-se uma missão de governo! Está lá, como um dos pressupostos da governabilidade. Será essa, apenas, mais uma promessa de campanha?
O consumidor e o produto
A atuação é um dos símbolos da política no Brasil. Para eleger-se, o candidato, não pode ser apenas teórico, mesmo que tenha boas ideias. Ele deve se comportar como um ator, e dos bons – talvez por isso tantos artistas estejam concorrendo. A representação é um dos artifícios de campanha, onde ‘ganhar’ nos debates representa legitimidade para concorrer. Porém, quem norteia essa legitimidade? Quem dá as cartas no jogo da imagem?
O processo eleitoral não é fácil e, por isso, exige compromisso dos cidadãos, que devem estar atentos aos comentários e promessas dos candidatos, bem como de seus marqueteiros e equipe, um quase, ‘diga-me com quem andas e te direi quem és’. Assim, temos esse velho ditado como resposta a certos políticos que dizem estar ‘se lixando’ para a opinião pública.
Tentando fechar o texto, volta-me a questão: que novo jeito de fazer política é esse? Talvez, realmente, a forma de fazer política aceitável, atualmente, seja a da imagem, da propaganda, onde o eleitor se transformou num consumidor e o candidato num produto. Será a essa lógica que o candidato se referia?
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Psicólogo social, Porto Alegre, RS