À Redação da Veja. Como jornalista, escritor e ex-preso político, repudio a ameaça de morte a Diogo Mainardi e alerto que qualquer iniciativa neste sentido só beneficiará os inimigos da liberdade e da justiça social.
No entanto, um desatino não justifica outro: na matéria ‘Um perigo chamado MR-8’, a Veja (nº 2007, de 9/5/2007) encampa a propaganda enganosa da linha-dura militar de outrora e dos neo-integralistas atuais, ao qualificar, logo no subtítulo, o MR-8 de ‘terrorista na ditadura’. Em seguida, afirma que ‘O MR-8 e a ALN foram duas das organizações esquerdistas que, sob a bandeira da luta contra o regime militar, promoveram seqüestros, roubos a banco e atos de intimidação’.
O regime militar foi fruto da usurpação do poder por um grupo direitista que vinha conspirando contra a democracia desde os anos JK e já fizera várias tentativas golpistas (a principal delas quando quase impediu a posse de João Goulart). Ao conseguir êxito em 1964, rasgou a Constituição e governou sob terrorismo de estado. Então, os heróis e mártires que ousaram enfrentar o arbítrio, em situação de terrível desigualdade de forças, nada mais fizeram do que exercer o direito de resistência à tirania, que nos foi legado pela civilização grega, tanto quanto a democracia.
Os verdadeiros terroristas eram aqueles niilistas do século 19 que, incapazes de conduzir o povo à revolução, tentavam, com balas e bombas, criar o caos e impedir que a classe dominante governasse. Os movimentos de resistência ao nazi-fascismo e às ditaduras militares latino-americanos jamais quiseram criar o caos, mas sim conscientizar as massas e organizá-las para a derrubada dos tiranos.
Os seqüestros de diplomatas serviram para salvar presos políticos da morte e das torturas mais atrozes. As expropriações de bancos, para sustentar militantes clandestinos nas condições de rigorosa clandestinidade. E nenhum ato de intimidação porventura cometido pelos idealistas (sempre há excessos em conflitos desse tipo) equivale à prática sistemática da tortura por parte dos militares, atingindo dezenas de milhares de brasileiros, ou à política de extermínio por eles adotada a partir de 1971, quando passaram a levar os resistentes aprisionados diretamente para centros clandestinos de tortura, nos quais os massacravam e depois executavam, dando sumiço até em seus restos mortais.
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Fui repórter especial do Correio Braziliense até o ano passado, quando saí para concluir o curso de Direito. Sugiro um artigo sobre a atuação da mídia na cobertura do Judiciário. A IstoÉ da semana passada publica reportagem com gravações autorizadas pela Justiça (mas abafadas) que incriminam o ex-chefe de gabinete do ministro Pádua. Surpreendentemente, dois anos depois, não se tem conhecimento de instauração de inquérito para apurar o assunto. Como o corregedor do CNJ informou em nota, ele recebeu de repórter do Correio Braziliense, no ano passado, transcrição das conversas. Pádua também disse em entrevista coletiva no domingo (29/4) que outro grande veículo também o procurou no ano passado e não publicou. A IstoÉ publicou a matéria.
A mídia só publicou algo porque o STJ convocou coletiva. Em nota, STJ diz que tomou todas as providências (MP até hoje não recebeu cópias dos áudios e transcrições da PF) e que sindicância interna recomendou demissão, mas que órgão aplicou só suspensão por um mês do servidor (na semana que IstoÉ publica a matéria) porque as transcrições (dos áudios) recebidas eram apócrifas e não comprovadas. Após quase um ano, STJ alega, na prática, que não teve acesso a cópias dos áudios (imagine), cujos resumos estão em ação judicial. E a mídia engoliu calada. STJ quis de fato punir? (Ana d´Angelo, jornalista e advogad, Brasília, DF)
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Os repórteres de rádio e TV dão as suas opiniões quando estão falando sozinhos. Quando estão entrevistando quem quer que seja, fazem a pergunta e o entrevistado dá sua resposta, porém a pergunta formulada não satisfaz. Nós que estamos assistindo esperamos a reação com o contraponto que nunca vem. Parece que os entrevistadores aceitaram a resposta como correta, muitas vezes subestimando nossa capacidade de raciocínio.
Na área econômica nem se fale; quando o assunto é política, então aí é que o bicho pega. Haveria possibilidade de existirem programas em que houvesse, realmente, a possibilidade da participação do ouvinte online? Não para que houvesse a possibilidade do debate, apenas e tão-somente para podermos expressar nossa indignação com os pensadores de plantão, que na maioria das vezes só dizem asneiras. Alguém pode me explicar por que é que as TVs governamentais transmitem seus programas somente para as TVs pagas? Somos nós quem financiamos tudo o que é público e eles não podem, ao menos, devolver isso para nós? Ou o pobre não paga impostos neste país? (Paulo Sérgio Oliveira, advogado, São José do Rio Preto/SP)
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Liguei o rádio na Jovem Pan AM. Estavam transmitindo o Rádio ao Vivo, um programa de entrevistas com músicos, grupos teatrais e coisas do tipo. Quando acabou a parte das entrevistas o apresentador começou a fazer a seguinte questão aos ouvintes que ligavam para a emissora: você acha que o Brasil tem muitos feriados? Só que antes dessa pergunta, passaram um programete chamado Confronto em que uma repórter saía às ruas fazendo a mesma pergunta. Sem exceção, todas as respostas editadas no programa foram positivas. Deu a impressão de que todo mundo acha que o Brasil tem muitos feriados. O pior era quando justificavam: ‘o brasileiro não gosta de trabalhar’, ‘é por isso que o PIB do país não cresce’ e por aí vai.
Eu não sei se o Brasil tem muitos feriados ou não porque o programa da Jovem Pan não me deu embasamento suficiente para eu chegar a uma conclusão. Temos mais feriados do que a maioria dos países do mundo? Os feriados fazem bem para os trabalhadores? Fazem com que eles voltem mais satisfeitos para o trabalho? O programa não respondeu. Só repetiu um monte de opiniões iguais, vazias e sem profundidade. Se eles entrevistassem um pesquisador que dissesse que os feriados do Brasil são bons por causa de tais e tais motivos, já seria suficiente para derrubar todas as afirmações vazias.
O pior é que as opiniões sem sentido parecem ganhar um certo peso nos meios de comunicação. A partir disso várias pessoas passam a seguir essas opiniões sem pensar. A Jovem Pan deveria realmente questionar o público a esse respeito. Se fosse para fazer um programa do jeito que foi feito era melhor o apresentador anunciar o telefone da rádio do seguinte modo: ‘quem quiser falar que o Brasil tem muitos feriados pode ligar para cá!’. (Alberto Silva Cerri, estudante de Jornalismo da Unesp, Bauru, SP)
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A pergunta a ser respondida via urna eletrônica do Observatório [‘É democrática a concessão de canais de rádio e TV para confissões religiosas?’, edição nº 431] se seria ‘democrático’ conceder, parece-me que merece uma qualificação da resposta, que não cabe em um simples ‘sim’ ou ‘não’. O sim ou não servem para que se tenha uma visão geral de opiniões, chegadas sabe-se lá por que via de raciocínio (no caso, quando votei, computados pouco mais de 600 votos, havia um quase empate, com ligeira vantagem para o não). Mas por que a resposta não cabe em sim ou não?
Em primeiro lugar, penso que não tenha nada a ver com democracia ou ditadura. Se a lei estabelece que as ondas de rádio não podem ser usadas sem qualquer controle e, por isso, devem ser concedidas pelo Estado (em minha opinião deve ser assim), o que interessaria saber é se as concessões estão sendo feitas de acordo com o que a lei estabelece ou se está havendo algum favorecimento indevido no processo (que é o que acontece no Brasil, onde o dinheiro compra tudo).
Penso que, como o país é laico, não cabe conceder canais de rádio ou de televisão para propaganda religiosa; no caso do Brasil, mais ainda, porque as igrejas todas são isentas do pagamento de impostos e quejandos, o que não acontece com os canais comerciais – e aí está uma justificativa adequada para uma resposta não. Se as seitas – todas – tiverem que pagar todos os impostos cobrados de qualquer empreendimento comercial ou industrial (ou de comunicações, evidentemente), aí sim poder-se-ia fazer a concessão, em condições iguais a todas as demais.
Era a justificativa que merecia meu não duplo: 1) não tem que ver com a democracia; 2) não seria justo face aos favores e isenções concedidos às seitas religiosas. (Peter W. Rosenfeld, em 4/5/2007)
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Há cerca de dois meses começou a ser fortemente discutido na Universidade de São Paulo alguns decretos do governador José Serra. E não soaram nada promissores à educação superior de qualidade e ao saber pelo saber (ciência pela ciência). Afora a leitura que procurei fazer dos decretos, tentei pesquisar o assunto na internet. Não encontrei nada. Procurei algo falando sobre as Leis de Diretrizes Orçamentárias, que não tem muita coisa a ver com os decretos estaduais, mas que igualmente não ganha um espaçozinho na imprensa. E na verdade não achei nada sobre nada ligado a esclarecimentos de leis, novos decretos, o que estes interferem na nossa vida, os grupos da sociedade mais afetados e suas conseqüências de longo prazo.
A imprensa não trata esses assuntos, e eu nada sei sobre os decretos pela imprensa. A única participação da imprensa no tema foi quando comentou superficialmente a ocupação da Reitoria da USP por alunos. Mas pela maneira como o fato foi tratado pela imprensa senti que é somente uma festa na Reitoria. Toda reportagem que leio parece superficial e sem importância. (Laura Santana Lima, estudante, São Paulo, SP)
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No último dia 6 de maio, liguei minha televisão para acompanhar ao programa Antena Paulista, da Rede Globo. Esperava ver notícias referentes à Virada Cultural 2007 da Prefeitura de São Paulo, já que eu pretendia assistir ao show do grupo Karnak previsto para acontecer no Boulevard São João, às 8h.
Começa o programa com o jornalista Carlos Tramontina falando sobre a visita do papa a São Paulo. No último bloco do programa, Tramontina fala da Virada Cultural como um grande evento que começou na noite anterior e continua acontecendo na cidade. Mas não fala nada a respeito do tumulto ocorrido durante a madrugada na Praça da Sé, três horas antes, muito menos informa sobre o cancelamento de alguns shows, inclusive o show que eu pretendia assistir. Afinal de contas, jornalismo não implica informar? Onde foi parar a informação? Será que o jornalistaCarlos Tramontina não tinha conhecimento do que estava acontecendo na cidade onde apresentava o programa? Se foi isso que aconteceu, ele se preocupou apenas em apresentar seu programa, sem ligar para o que acontecia à sua volta. Será que se transformou em apenas um apresentador e deixou de ser um jornalista?
Em tempo: a péssima organização da Virada Cultural não se importou em desrespeitar a população deixando de informar sobre o cancelamento dos shows. Deixou o público aguardando pelo show das 8h, e informou sobre seu cancelamento apenas às 9h15. Ao reclamar com a organização, disseram ter avisado às 6h e que não era tão simples colocar um cartaz avisando aos que chegaram após esse horário sobre o cancelamento das 8hs. Será que a prefeitura não disponibilizou papel para a organização? Ou canetas?
Obrigado prefeito Kassab, pelo enorme respeito à população. Obrigado Tramontina, pelo ótimo jornalismo. (Roberto Naco, publicitário, São Paulo, SP)
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Jornalista, São Paulo, SP