TELEVISÃO
A rebelião dos baixinhos, 25/2
‘Despenca a audiência da tevê comercial e nisso o Brasil pode se orgulhar: é fenômeno que assombra os países mais civilizados. Afunda o ibope dos programas infantis do tipo larilalá. Idem, idem. O mundo iluminado parece já ter amadurecido o suficiente para rejeitar aquelas loiras de botas brancas e shortinho pueril que maltratam crianças, com todo o carinho, em seus auditórios tatibitates.
Se há fogo no rastilho de fumaça das audiências do broadcasting, o perigo maior, e mais imediato, é aquele que tem sugado para o abismo as antigas rainhas da criançada. O asilo dos horários secundários, desprezíveis, acolhe hoje aquelas que chegaram a ser as indiscutíveis campeãs da popularidade. Pelo menos uma ou outra que tenha se recusado a seguir o curso natural de sua platéia – ou seja, a crescer.
Acusar as bonequinhas de luxo é só um dos lados da questão. Se a Xuxa é hoje personagem patético, por não ter entendido que o tempo gira e a Lusitana roda, há um incontestável argumento que vem em socorro dela, ou delas. Dando uma panorâmica nas superemissoras, dá para perceber o viscoso fenômeno de infantilização de toda a programação. A mediocridade pega. A vulgaridade, também. Para que ter a Xuxa se você tem o Big Brother?
A atenção dos baixinhos derivou, acreditem, para coisas menos estúpidas. Para os desenhos animados dos canais por assinatura, por exemplo. Para aquelas lentíssimas revoadas de pássaros ou exaustivas caminhadas de quadrúpedes nos documentários que celebram a natureza, tipo Discovery ou National Geographic. A TV a cabo pode ser veículo de conhecimento sem chatice e inteligência sem pretensão. Até quando vai durar o Globo Repórter?
E, claro, a audiência da garotadinha vazou para o PC e o Mac. Fale em internet com os mafiosos da tevê e eles entrarão em convulsão. Para que ficar atento àquela sensualidade, insinuada, ambígua de uma Xuxa, quando você tem tanto nu frontal na rede?
O teatro não acabou com a ópera, o cinema não acabou com o teatro, a tevê não acabou com o cinema (nem com o rádio), a internet pode não acabar com a tevê (e com a imprensa escrita) se a mídia ameaçada, acuada, descobrir, na frondosa árvore do interesse coletivo, qual é o seu galho. Exige carinhosa reflexão. Será que a tevê comercial é capaz disso?’
******************
Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.