MÍDIA & POLÍTICA
Assim é o que lhe parece
‘Em 2002, o superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, Marcelo Itagiba, afasta o delegado Deuler Rocha e equipe do inquérito que investigava a privatização da Telebrás. Aquela em que integrantes do governo Fernando Henrique Cardoso agiram no ‘limite da irresponsabilidade’ e ‘fizeram os italianos à força’ (tradução: convenceram a Telecom Italia a associar-se a Daniel Dantas. Deu no que deu). A investigação empacou.
Em 2006, Itagiba elege-se deputado federal pelo PMDB. Entre os doadores de sua campanha, Dório Ferman, executivo do Banco Opportunity. Ferman, preso dois anos depois na Operação Satiagraha, doou à época 10 mil reais. De forma legal, registre-se. ‘Não recebi doação de aliados do senhor Dantas, mas do senhor Dório, que faz parte da comunidade judaica’, justificou o parlamentar, na quinta-feira 7.
Itagiba propõe, em 2007, a criação da CPI do Grampo, com base em uma reportagem da revista Veja sobre supostas interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal no Supremo Tribunal Federal. O tal grampo nunca foi comprovado. O único que insistiu na tese foi Gilmar Mendes, hoje presidente do STF. Como a publicação da Abril, Mendes vê um ‘Estado policial’.
Julho de 2008. Mendes critica abertamente a Operação Satiagraha e concede dois habeas corpus ao banqueiro Daniel Dantas.
Início de agosto. Após seis meses de um trabalho à beira da irrelevância, a CPI dos Grampos, presidida por Itagiba, resolve convocar três testemunhas polêmicas. O delegado Protógenes Queiroz e o juiz Fausto De Sanctis, responsáveis pela Satiagraha. E outro delegado, Élzio Vicente da Silva, que atuou na Operação Chacal. Ambas as ações tinham como alvo o orelhudo.’
MAINARDI CONDENADO
Reparação a Paulo Henrique
‘A 5ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo considerou ‘abuso da liberdade de imprensa’ e condenou o colunista da revista Veja, Diogo Mainardi, e a editora Abril, por danos morais ao jornalista Paulo Henrique Amorim. Mainardi e a editora terão de pagar 500 salários mínimos, 207,5 mil reais. Cabe recurso ao STJ.
No dia 6 de setembro de 2006, Diogo Mainardi publicou o texto ‘A voz do PT’, em que fazia uma série de críticas ao portal iG, que, no seu entender, seria ‘a voz do PT’ do título, a propagar o que chama de ‘lulismo’. O colunista esqueceu-se de mencionar que a publicação para a qual trabalha e as demais revistas da Editora Abril estão hospedadas no iG, o portal, segundo ele, do ‘lulo-petismo’.
Além de outros alvos, no texto o colunista dirige-se diretamente ao jornalista Paulo Henrique Amorim. Entre outras, Mainardi afirma que Amorim está engajado ‘pessoalmente na batalha comercial do lulismo contra Daniel Dantas’, pelo que receberia 80 mil reais por mês.
O advogado de Paulo Henrique, José Rubens Machado de Campos, informa: ‘A 5ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo acatou, por unanimidade, o relatório do Desembargador Oldemar Azevedo e deu provimento a recurso de Paulo Henrique Amorim para condenar a Editora Abril e Diogo Mainardi ao pagamento de 500 salários mínimos (R$ 207.500,00), ao reconhecer a ocorrência de danos morais quando da publicação (em 6 de setembro de 2006) da coluna ‘A Voz do PT’, na revista Veja. A Câmara considerou que houve ‘abuso da liberdade de imprensa’. A Câmara confirmou que as contestações oferecidas eram inexistentes por falta de procuração. Cabe recurso ao STJ.’’
INTERNET
O Brasil cai na rede
‘Paulo Joaquim de Melo Júnior, 23 anos, é um típico garoto da periferia paulistana. Filho de um pernambucano de Garanhuns e de uma baiana de Feira de Santana, nasceu e cresceu no Jardim São Luís, zona sul da cidade, tão carente de infra-estrutura quanto de perspectivas. Aos 14 anos, tomou contato com um computador em um cursinho ‘bem básico’ na ONG Casa dos Meninos. Interessou-se por aquilo tudo e, no ano seguinte, ajudava outros garotos a entender a máquina cheia de botões. Sem perceber, fascinou-se pela idéia de compartilhar conhecimento. Decidido a ter um computador só seu, juntou dinheiro com dois amigos e comprou um, usado, a prazo. ‘Meu pai achava mirabolante’, diz, meio tímido. ‘Mas ele via que eu podia crescer aí.’
Erivaldo Magno da Conceição, de 15 anos, é outro típico garoto da periferia paulistana. Estuda em colégio público à noite e, todos os dias, passa ao menos três horas em uma lan house no Jardim São Luís. Lá, gasta 20 reais mensais, usando as horas de conexão que compra e também a de amigos. Sonha com um computador em casa. ‘Mas, mesmo se eu ganhar, vou continuar vindo aqui’, diz, sem tirar os olhos da tela, onde comanda um carro de corrida no game Need for Speed. Ao redor, adolescentes e crianças ocupam quase todas as máquinas do estabelecimento: dezessete garotos estão em jogos e quatro meninas, no Orkut.
Júnior e Conceição representam duas faces de um fenômeno que se agiganta no Brasil. Especialistas estimam que, na virada do ano, metade da população brasileira, ou mais de 90 milhões de indivíduos, terá, de alguma maneira, acesso à internet, seja em casa, no trabalho, no celular, seja em locais públicos. Quando se pensa apenas em usuários domésticos, os números são mais modestos. Pesquisa do Ibope Monitor, que leva em conta apenas as residências, mediu 22,9 milhões de usuários.
O Brasil, segundo a ONG norte-americana Internet World Stats, mantém um dos ritmos mais fortes em todo o mundo de crescimento do acesso. Entre 2000 e junho de 2008, o número de novos conectados cresceu 900%.
Uma pesquisa recente do Datafolha contabilizou que 47% dos brasileiros já têm acesso à internet. Há outros dados surpreendentes:
– Somos o país no qual os usuários passam mais tempo conectados por mês. São mais de 22 horas mensais, ante 20 horas da França e 17,5 na Alemanha.
– Brasileiros alavancam febres na internet, como a do Orkut e a do Second Life. Estima-se que 27 milhões de nativos naveguem pelo Orkut, o mais popular site de relacionamentos da rede.
– O Brasil chegou aos 50 milhões de computadores no ambiente doméstico e corporativo, segundo a Fundação Getulio Vargas.
– Na terça-feira 5, a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) divulgou a previsão de venda de computadores em 2008: 13 milhões de unidades. Com os atuais 50 milhões de máquinas, o País tem uma média de 26 computadores para 100 habitantes, valor superior à média global, de 21 equipamentos para cada centena.
*Colaborou Cynara Menezes
(íntegra disponível apenas na edição impressa)’
CRÍTICA DE TV
Televisivas
‘João Emanuel Carneiro, o autor de A Favorita, tenta se passar por uma Gloria Perez disposta a copiar Alfred Hitchcock. Isso é (quase) um elogio. Da rainha do inverossímil, ele herda a incontinência verbosa de um dramalhão descabelado, muito close de olhos esbugalhados e tanta choradeira que, no capítulo de terça-feira, aquele que tudo revelou, deu para contabilizar, fácil, fácil, mais de 20 minutos de Cláudia Raia, aliás Donatela Fontini, em seu perene vale de lágrimas. A moça fez da injustiça uma cachoeira.
Aí, você pontua a narrativa com um solo lancinante de cello, capricha no esgar traiçoeiro dos vilões, troca aquele Andaraí dos invariáveis núcleos populares do Projac por um aroma de Mooca, busca nos stockshots não mais o deslumbrante crepúsculo por sobre a Rocinha e, sim, os charmosos engarrafamentos da Paulicéia – e, pronto, o circo está armado. Com o apropriado tango, já na abertura, prenunciando o que vem pela frente. Paixão e maniqueísmo. Ou seja, Gloria Perez em sua melhor expressão.
Mas há outro espectro a rondar o que João Emanuel Carneiro escreve e encerra: o daquele que foi chamado, com toda justiça, de o rei do suspense. É a salvação – a do autor e a dos espectadores irrequietos que, de repente, já podem religar seus aparelhos e massacrar a indigente audiência do sempre maroto Jornal Nacional.
A originalidade vigorosa de Hitchcock não consiste em omitir do espectador a verdade dos fatos, na surrada linha do quem matou quem, à moda convencional da crime story.
Ao contrário, a câmera arisca, quase sádica, do gênio flagra tudo, expõe as agudas circunstâncias, capricha nos mínimos detalhes – mas ao mesmo tempo a narrativa se enrosca num tal drama de erros que quem assiste, devastado de angústia, fica sem saber como é que o cineasta vai sair do imbróglio por ele próprio criado. Psicose, Frenesi, Festim Diabólico – é sempre assim.
Essa é a idéia hitchcockiana de emoção. A Favorita bebe dessa água – ou será desse veneno? Em timing precoce, mas não prematuro, João Emanuel Carneiro anuncia os inocentes e os culpados (e cada vez mais fica evidente que a graça do melodrama da tevê está na sua legião de pilantras). Os vilões ostentam full time a sua vilania. Os inocentes sucumbem a sua inocência.
Foi uma aposta arriscada, a de A Favorita. O mistério acabou. Não o suspense. O suspense, mostrou o mago Hitch, consiste em manter o ritmo asfixiante da narrativa em meio aos desarranjos da realidade e às expectativas contrariadas. Manter o ritmo é o que separa os artesãos toscos dos dramaturgos adultos. Aguardem os próximos capítulos.’
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