Faz quarenta anos que o deputado federal e constituinte de 1949 Barreto Pinto (PTB-RJ), um tipo exibido e sem noção do ridículo, conhecido como ‘folclórico e picareta’, foi cassado por se deixar fotografar semi-desnudo, de cueca e fraque, o que mereceu notícia nos jornais de quase todo o país. O parlamentar gostava de contar vantagens. Uma delas: era amigo de Getúlio Vargas e tinha um quarto no seu rico apartamento, que o presidente usava, para encontros íntimos.
Um escândalo para ninguém botar defeito, pela proporção e os costumes da época, com recriminações pelo eleitorado e a sociedade, que pediu um castigo à altura da ousadia.
A idéia da foto é controvertida. A dobradinha David Nasser, repórter, e o fotógrafo francês Jean Manzon, que trabalhavam na revista O Cruzeiro e faziam reportagens espetaculares, tornando essa publicação a maior da América Latina, confessou que houve um acordo com Barreto, que adorava chamar a atenção da opinião pública. Confirmaram que as cópias negativas se achavam guardadas no cofre da revista. O mesmo não afirmou o deputado, que acusou os jornalistas de invasão de privacidade e julgou-se traído pela promessa de só aparecer de busto, e não de cueca.
Por um desses caprichos que só o destino explica, neste ano de 2009, ocorreu um caso, não digo semelhante, mas hilário, envolvendo a boa-fé do senador da República Eduardo Suplicy (PT-SP), que às vezes abusa da tribuna, com seus longos discursos, e apela para o bom humor, surpreendendo os pares. Nesse cenário, serviu de ator interpretando uma canção do inglês Cat Stevens, que fala da relação entre filhos e pais. Recebeu palmas e críticas. No mês passado, puxou um cartão vermelho (desses de juiz de futebol) e apontou para o seu colega e presidente do Senado José Sarney, pelas acusações contra a sua administração à frente da Casa.
Apenas uma brincadeira
Foi induzido pela insinuante e bonita Sabrina Sato (ex-BBB), do programa Pânico na TV, cujo nome e fama tornaram-se sinônimo de ridicularizar personalidades públicas, a vestir uma sunga vermelha por cima da calça e desfilar pelo Congresso, como ‘Super-Homem do Senado’. Sabrina, que não esconde o jogo de corpo (e que corpo?), para conseguir o que deseja, tornou público que, se antes, só aquele gesto preocupava o senador, passou a preocupá-lo mais: ‘Ele não devolveu a fantasia’ (…).
Antes de se dirigir a Suplicy, Sabrina, em entrevista à Folha de S.Paulo, disse que se aconselhou com o bispo e senador Marcelo Crivela (PRB-RJ) sobre o seu projeto antijornalístico. Recebeu o seguinte incentivo, para mexer com os brios: ‘Se você conseguir que o Suplicy coloque essa sunga vermelha, você pode eleger um presidente da República.’ ‘E o senhor duvida dos meus superpoderes?’, indagou a repórter.
Houve maldade, associada à ingenuidade do senador paulista. Será? A mesma pergunta fez para o senador Flávio Arns (PSDB-PR), que respondeu, ao colocar em dúvida o consentimento do seu colega, por conhecê-lo há muitos anos e considerá-lo uma pessoa séria. Perdeu o palpite e a interlocutora demonstrou ser poderosa e capaz de convencer, como fez, com outras figuras de prestígio político, a exemplo do senador Pedro Simon: com ele, dançou uma valsa.
O senador Suplicy, depois da brincadeira de mau gosto, demonstrou preocupação de verdade com as consequências. O Brasil riu. Os adversários querem enquadrá-lo por falta de decoro parlamentar, o que duvidamos, pelo prestígio que desfruta no Senado e ser conhecido por pregar esse tipo de peças. Tudo não passou de uma brincadeira, mas poderá ter dores de cabeça. Pelo menos o corregedor do Senado, Romeu Tuma (PTB-SP), prometeu abrir sindicância para saber da gravidade do fato. Declaração do senador: ‘Usar uma `calcinha´ pra dizer que é um pseudo-herói, não é educado.’
Quem deve dar boas gargalhadas é o senador José Sarney, que se entendesse de ir à forra, mostraria para Suplicy o cartão vermelho recebido.
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Professor universitário e jornalista