Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Chapecoense derruba previsão da RBS

A soberania do Grupo RBS foi ferida neste último final de semana. O franco-atirador: Chapecoense, time do oeste e campeão catarinense 2011. Considerado o deus Hermes por muitos sulistas – o deus mensageiro dos demais deuses –, o referido grupo multimidiático passou batido e nem de raspão emplacou as previsões feitas no início e durante o campeonato estadual. Seus jornalistas, radialistas e palpiteiros esportivos anunciavam, desde Floripa, que o título dificilmente escaparia do litoral. Tiro pela culatra. Na teletransmissão da grande final, o comentarista do grupo Sirotsky deixou escapar várias expressões: ‘poucos esperavam esse resultado’; ‘o futebol do oeste surpreendeu’, ‘as previsões não apontavam nessa direção’.

Isso nos dá margem para questionarmos a credibilidade de uma rede de comunicação que, discursivamente, diz-se catarinense, mas na prática não se sustenta. Exemplos são encontrados facilmente. Basta folhearmos as páginas do Diário Catarinense para encontrarmos a superioridade de matérias sobre o litoral em detrimento das outras regiões do estado. Diário Catarinense? A título de ilustração, o referido grupo midiático também é proprietário do Jornal de Santa Catarina, que, na realidade, é o jornal de Blumenau. Santa Catarina é, geograficamente, um dos menores estados do país e poderá ficar ainda menor se os jornais do grupo RBS não ampliarem a sua prática jornalística às demais regiões do estado.

Não dá para generalizar. O extremo e o meio-oeste aparecem lá pelas tantas: em matérias miúdas; nas páginas policiais; quando a divisão do prêmio da mega-sena vai parar na delegacia; quando Ovnis são flagrados sobrevoando a região etc. Na mesma direção, o planalto serrano é capa de jornal quando a Festa do Pinhão se aproxima ou quando os termômetros de Lages ganham dos de São Joaquim ou dos da Serra Gaúcha. As regiões oeste e meio-catarinense são para a RBS eventos fora de época ou visíveis apenas quando algo de inesperado por ali acontece.

A opinião dos gurus do esporte

Por um momento, até achei que este argumento estaria superado. Na semana que antecedeu o dia das mães, deparei com uma considerável reportagem sobre a região meio oeste. Miragem. Nada de novo, pois o teor da cuja reportagem versava sobre o grande índice de mortes ocorridas nas rodovias de Lebom Régis e Joaçaba. Mortes, polícia, acidentes, enchentes e, logo mais com a estiagem, novos retratos cumprirão a obrigação de se falar da outra ponta do estado. Não dá para se generalizar, pois de vez em quando alguma notícia menos negativa é veiculada. Mas em comparação com totalidade, a mesma se torna a exceção que apenas confirma a regra: o oeste e o meio-oeste catarinense são matéria-prima de segunda, necessária para esquentar o investimento publicitário de algumas empresas.

Antigamente, havia certo contraponto feito pelo jornal A Notícia. Mas quando se tornou ameaça comercial para os cofres da grande rede, logo foi comprado, tornando-se, hoje, o filhinho pródigo da grande rede. O mesmo ocorreu com a extinta TV Catarinense, que acabou abaixando a antena, tornando-se mais uma sucursal da bendita rede. Ou seja, mais uma sucursal que pouco interfere na cobertura final, pois as pautas são definidas pela central lageana e supervisionadas pela equipe jornalística lá do litoral.

Enfim, parabéns ao time da Chapecoense, que forçou a hegemonia da baita rede; esverdeou as páginas dos seus jornais na segunda-feira (16/5) e derrubou a opinião dos que se autodenominam os gurus do esporte catarinense. Mas para isso precisou ser campeão, ser extraordinário, caso contrário nada seria para a rotina produtiva de uma rede que se diz catarinense.

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Radialista e doutorando em Comunicação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul