Os Jogos Olímpicos de Pequim podem até estar agradando alguns países ocidentais em número de medalhas ou recordes olímpicos, mas o sentimento é de frustração em relação ao tratamento dado à mídia pelo governo chinês. Em uma coletiva na semana passada, repórteres exigiram explicações do comitê organizador dos Jogos em Pequim (Bocog) sobre o tratamento dado a um jornalista britânico que tentava cobrir um protesto pró-Tibete e sobre o não-cumprimento da promessa de liberdade de manifestação.
John Ray, do canal ITV News, de Londres, foi agredido por policiais quando cobria uma manifestação. Depois do episódio, o Comitê Olímpico Internacional (COI) pediu à China para permitir que a mídia estrangeira trabalhe livremente no país. A polícia disse que confundiu o repórter com um manifestante. A porta-voz do COI, Giselle Davies, reforçou que não quer que isto se repita.
Para chinês ver
Wang Wei, vice-presidente do Bogoc, tentou amenizar as polêmicas: ‘Algumas pessoas não estão satisfeitas. Mas a China está se desenvolvendo rápido. As pessoas têm mais liberdade e têm muito a dizer. Poucas pessoas aqui são críticas e isto não significa que não estamos cumprindo nossa promessa. Nós respeitamos a liberdade de expressão’.
O intenso desejo de controle pela parte do governo pode até passar despercebido pelos chineses, mas não pelos estrangeiros. As medidas de segurança dificultaram o acesso de visitantes aos pavilhões dos patrocinadores, o que decepcionou as empresas que investiram milhões de dólares em campanhas promocionais. Os parques destinados a protestos pelo governo – longe dos locais de competição – ficaram vazios e os chineses que ousaram protestar foram detidos.
Muitos alegam que tudo não passa de uma armadilha para prender dissidentes. ‘Está claro que as zonas de protestos são apenas um disfarce cínico das autoridades chinesas’, acusou Lhadon Tethong, de uma organização pró-Tibete. Para protestar nos parques, é necessário pedir permissão com cinco dias de antecedência para não ferir os ‘interesses nacionais, sociais e coletivos da China’.
Decepção e descrença
As gafes da cerimônia de abertura também decepcionaram o público estrangeiro. ‘A idéia do governo de impressionar o público é que tudo esteja perfeito, mesmo que isto signifique um pouco de decepção’, opinou Tim Wu, professor da Escola de Direito da Colúmbia, que está em Pequim para os Jogos. ‘E isto é o que deixa a mídia ocidental maluca, porque parece algo trapaceiro’. Informações de Jason Dean e Shai Oster [The Wall Street Journal, 15/8/08] e de Rohan Sullivan [AP, 14/8/08].