Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Cobertura com o paroquialismo de sempre

O único time carioca entre os dez mais do campeonato brasileiro é o Fluminense, que está em terceiro lugar, atrás do Internacional (RS) e do Corinthians (SP). É muito difícil que o campeão não seja um dos três, e o mais provável é que o time paulista, que divide com o Flamengo a glória de ter a maior torcida brasileira, venha a ganhar a taça.

A imprensa espelha a realidade? Não! Apenas um de nossos grandes jornais – O Estado de S. Paulo – assume, em seu caderno de esportes, a responsabilidade de ser um veículo nacional e não apenas paulista.

Mas nem sempre. De todo modo, como o Corinthians está em primeiro lugar e goleou o Santos por 7 x 1, o Estadão deu-lhe a principal manchete de segunda-feira no primeiro caderno. Dirão: ‘Mas o Corinthians é paulista’. É. Mas quando o Internacional (RS) foi campeão, bicampeão e tricampeão brasileiro – na década de 1970 – e quando o Grêmio (RS) e o Flamengo (RJ) obtiveram feito semelhante nas décadas seguintes, o jornal espelhou a realidade.

Hoje, porém, dá-se coisa diferente e quase inexplicável. O Flamengo, em 17º lugar, em louca escapada do rebaixamento, saiu dos últimos lugares – não se pode descer mais do que o 22º, são apenas 22 clubes na competição – e dificilmente tem saído das primeiras páginas e dos destaques. No domingo (6/11), depois de vencer o Botafogo (depois do Fluminense, em terceiro, é o time carioca mais bem classificado na tabela, em 11º lugar), o Flamengo invadiu primeiras páginas – destaques, tudo!

Que merecesse algum realce, sendo uma das maiores torcidas do Brasil, é plenamente aceitável. Mas ao custo da exclusão dos três primeiros colocados? Poucas vezes o bairrismo da imprensa esteve tão evidente. A imprensa nacional, especialmente a carioca, esqueceu-se do Corinthians (1º) e do Internacional (2º) e dividiu as glórias do Flamengo (17º) com o Fluminense (3º) e com o Vasco (15º).

Cheiro de orégano

O Flamengo foi o pretexto mais característico da inversão de prioridades. Venceu todas as partidas desde que, muito mal das pernas, recorreu a São Judas Tadeu. Catolicismo? Puro, não. Não no Brasil, país que evidencia como nenhum outro o sincretismo religioso. Um gol, marcado contra o Coritiba, foi atribuído ao espiritismo. Os jornais deram até o nome do espírito artilheiro: Fellype Gabriel.

Contra o Palmeiras, o goleiro pentacampeão do mundo (Marcos), imitando o glorioso Gilmar e outros tantos goleiros campeões mundiais que engoliram, engolem e engolirão frangos, pois é da natureza do ofício depenar alguns de vez em quando, engoliu um também, mas o deslize foi atribuído às forças ocultas.

Enfrentando o Botafogo, mesmo em desvantagem, pois jogou com apenas dez, também recebeu providência atribuída ao espiritismo para marcar um gol.

Não pararam aí as idiossincrasias do atormentado Flamengo, que deu um calote no famoso paranormal Roberto Lengruber: chamado a socorrer o time, celebrou contrato para evitar o rebaixamento. As forças sobrenaturais não funcionaram para ele receber seus honorários.

Agora, se o leitor quiser saber de verdade como vão os bastidores do campeonato brasileiro, comece por colunistas como Juca Kfouri. Eles revelam coisas de arrepiar. E podem explicar por que razão o Corinthians está seis pontos à frente do Internacional e por que de repente ficou tão cioso da correção dos juízes. Mas só de alguns árbitros e só em alguns jogos. Do contrário, estaria com apenas dois pontos de vantagem.

Em resumo, as entrelinhas nos informam, sem a necessidade de sincretismo algum nem de sobrenaturalidade ou paranormalidade, que o aroma de orégano não é privativo do Congresso. Ameaçam servir uma pizza também no campeonato nacional.