Catástrofes geralmente propiciam grandes coberturas porque os jornalistas são sensíveis e diante de grandes acontecimentos combinam emoção e competência. Mas a cobertura do desastre financeiro internacional, embora maciça e intensa, não pode ser incluída entre os melhores momentos do jornalismo. Sobretudo aqui no Brasil.
A mídia impressa tem sido a mais prejudicada porque está fixada no sobe-desce das cotações. Como as bolsas do mundo abrem e fecham praticamente o dia inteiro e existe um intervalo de pelo menos seis horas entre a preparação da manchete e a entrega do jornal nas mãos do leitor, fica visível o descompasso entre o acontecido na véspera e a situação na manhã seguinte.
O jornalismo digital, em tempo real, seria teoricamente o mais ágil e preciso se não dependesse principalmente do que sai nos jornais. Com equipes reduzidas, sua vantagem limita-se à capacidade de acompanhar o dispara-despenca das cotações em todo o mundo.
A numerologia pura e simples pode ser maçante para o não-especialista. Estes são senões estruturais, mas há também disparates. Para mostrar serviço, um jornalão despachou um comentarista para a Europa esquecido de que esta é uma crise global que se desenrola simultaneamente em todos os quadrantes, com fatos amplamente divulgados.
O que o leitor quer é análise, conhecimento de causa, capacidade de fazer conexões, perspectiva histórica e, sobretudo, honestidade intelectual. Delfim Neto, ex-czar da economia do regime militar, no seu artigo de hoje no DCI – Diário de Comércio, Indústria & Serviços, garante que o Brasil cresce pelo menos 4% no período 2009-2010. Isto pode até acontecer, mas fazer tal afirmação hoje é propaganda enganosa.