Leia abaixo os textos de quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas. ************ Folha de S. Paulo
Quarta-feira, 16 de maio de 2007
COLETIVA DE LULA
Clareza necessária
‘Foram necessários quatro meses e 15 dias para o presidente da República começar a realizar a promessa -feita em outubro de 2006- de se dirigir ao público brasileiro, no segundo mandato, por meio de entrevistas coletivas. O evento de ontem não bastou para ‘encher a paciência dos jornalistas’, como se expressara Lula naquela ocasião. Serviu, porém, para esclarecer questões relevantes, a principiar pela condenação veemente de greves abusivas no setor público.
Confrontado com a pergunta sobre o fato de um ex-sindicalista na Presidência preparar-se para endurecer a regulamentação da greve por servidores, fez uso menos inócuo do microfone do que vinha sendo seu hábito e, sem meias palavras, atacou as paralisações prolongadas com pagamento dos dias parados como o que são, ‘férias’.
O presidente sinalizou que o projeto em gestação -a ser discutido com as centrais sindicais- exigirá a manutenção de serviços essenciais, pois ‘as vítimas são os pobres’. Por fim, deixou claro que a greve constitui um direito, por certo, mas também um risco, e que se trata de ‘responsabilizar’ seu exercício.
Lula também foi incomumente categórico ao recusar uma candidatura em 2010: ‘Por não brincar com a democracia, não serei, nem pensarei, nem cogitarei qualquer hipótese de terceiro mandato’. Questionado sobre a hipótese de a questão surgir no Congresso, desautorizou iniciativas nessa direção: ‘Acho imprudência, e a minha orientação para a base é de que ninguém apresente qualquer projeto, o que eu acho uma provocação à democracia brasileira’.
Não restam dúvidas, portanto. Lula reiterou ser favorável a uma reforma política que proíba a reeleição e instaure um mandato presidencial de cinco anos. Só não desanuviou por inteiro o panorama ao se permitir o deslize de afirmar ter sido obrigado a recandidatar-se, por exigência da situação política. Ao menos em tese, deixou aberta uma fresta para que a conjuntura volte a exigir dele tamanho ‘sacrifício’. Confie-se que terá sido só um lapso, incompatível como é com a negativa peremptória.
Lula disse mais. Quer fazer o seu sucessor, mesmo que não seja do PT. Espera terminar o governo em condições de subir em qualquer palanque. Prometeu fazer tudo que não fez no primeiro mandato e inundar o país com planos ao estilo do PAC -para a juventude, a segurança pública, a agricultura, a indústria… Com seu pendor para a hipérbole e para congratular-se por taxas de crescimento medíocres, não poderiam ter faltado frases como ‘nós vivemos o melhor momento da economia de toda a história da República’.
Arroubos à parte, eis aí a utilidade do ritual periódico das entrevistas coletivas numa democracia real: o governante se submete publicamente a prestar contas de seus atos, planos e convicções. O tempo que decorrer entre esta e as próximas entrevistas permitirá saber se Lula passou a encará-las, enfim, como obrigação a cumprir.’
Fernando Rodrigues
Padrões de perfeição
‘A Folha aqui em Brasília está em frente a um edifício chamado ‘Venâncio 3000’. O prédio é horrível. Em três blocos, assemelha-se a grandes caixas de sapatos alinhadas. Do lado de fora, uma reforma de quase meia década tenta dar uma maquiada no lugar. Outro dia choveu. As entradas do estacionamento ficaram alagadas. Alguém esqueceu de fazer um bueiro para as águas pluviais.
O Venâncio 3000 é mais ou menos como o Brasil: está melhor do que antes da reforma, mas há uma sensação de trabalho malfeito combinado com falta de planejamento. Cedo ou tarde a maquiagem se vai e teremos problemas sérios.
Não é esse o entendimento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o país. Na sua entrevista coletiva ontem, o petista ontem só faltou colocar o Brasil à frente da Suécia ou de outro país estável do Primeiro Mundo. Não só o Brasil. Lula também se acha em excelente estado. Uma de suas frases: ‘Eu já estou atingindo a minha perfeição’.
É um padrão curioso de perfeição. Lula parece confundir situação melhor com excelência. Beneficiou-se de uma fórmula engenhosa e eficaz: o crescimento medíocre conjugado à inflação baixa (para padrões brasileiros). Reeleito, passou a acreditar ter encontrado uma espécie de ‘santo graal’ para a administração do país. Nunca a expressão ‘conceder uma entrevista’ foi tão verdadeira.
Ontem, era o comandante supremo fazendo uma concessão -não um homem público cumprindo o dever de prestar contas. As réplicas dos jornalistas eram inúteis. A respostas vinham, em regra, desprovidas de objetividade.
Mesmo talvez detestando a maioria dos presentes, Lula sorria para os perguntadores. Buscava uma cumplicidade cordial. Emulou à perfeição -aí, sim- o estilo dissimulado descrito por Sérgio Buarque de Holanda em ‘Raízes do Brasil’.’
Folha de S. Paulo
Greve remunerada para o servidor são férias, diz Lula
‘NA PRIMEIRA ENTREVISTA coletiva formal do segundo mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou servidores que fazem greve e ressaltou que o maior prejudicado não é o governo, mas a população. Questionado sobre eventual terceiro mandato, afirmou que não irá propor mudança na Constituição e que não brinca com a democracia. Também disse que a Lei de Responsabilidade Fiscal deve mudar, ampliando o limite de endividamento dos Estados. Foi a segunda coletiva concedida desde que Lula virou presidente, em 2003. Jornalistas de 15 veículos participaram do evento, iniciado às 10h14 e encerrado às 12h08.
O presidente respondeu a questões dos jornais Folha, ‘O Estado de S. Paulo’, ‘O Globo’, ‘Jornal do Brasil’, ‘Correio Braziliense’ e ‘Valor Econômico’, das TVs Globo, Record, SBT, Bandeirantes, Rede TV! e TVJB e da rádio Jovem Pan, da AFP (Agência France Presse) e da revista ‘Carta Capital’.
No início, Lula falou sobre o projeto que pretende enviar ao Congresso limitando o direito de greve de funcionários públicos. Criticou o fato de alguns servidores paralisarem suas atividades e depois receberem o salário referente aos dias parados. ‘O que não é possível, e nenhum brasileiro pode aceitar, é alguém fazer 90 dias de greve e receber os dias parados, porque, aí, deixa de ser greve e passa a ser férias’, declarou.
No momento, o governo federal enfrenta greve de funcionários do Ibama. Lula disse não compreender o que se passava. ‘Por que o Ibama está em greve?’, perguntou. ‘Apenas porque a ministra [Marina Silva] deu um sinal de que era preciso que houvesse uma modernização’. O presidente se refere à criação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, que herdará parte das atribuições do Ibama.
GREVE
MARTHA CORREA (TVJB) – Sobre o anteprojeto de greve de servidores: como se sente ao enviar um pacote que endurece regras a sindicalistas?
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA – Talvez eu me sinta à vontade exatamente porque fui dirigente sindical e exatamente porque fiz parte das greves mais importantes que aconteceram neste país no final da década de 70 e no começo de década de 80. Quando um trabalhador faz uma greve num comércio ou numa fábrica ele está tentando causar um prejuízo econômico ao patrão, para que o patrão possa ceder às suas reivindicações e, aí, ele voltar a trabalhar. No caso do servidor público não tem patrão. O prejudicado, na verdade, não é o governo, é o povo brasileiro. O que não é possível, e nenhum brasileiro pode aceitar, é alguém fazer 90 dias de greve e receber os dias parados, porque, aí, deixa de ser greve e passa a ser férias.
IBAMA
LUCIANA VERDOLIN (RÁDIO JOVEM PAN) – Há uma discussão entre os ministérios de que precisam sair logo as licenças ambientais para a hidrelétrica do rio Madeira para não haver falta de energia. Não é uma forma de pressionar o Ibama?
LULA – Por que o Ibama está em greve? Houve redução do salário do Ibama? Alguém foi mandado embora? Não. Apenas porque a ministra deu um sinal de que, depois de tantos anos de existência do Ibama, era preciso que houvesse uma modernização. Eu compreendo que as pessoas e todos nós temos medo de mudanças. Eu lembro que quando Oswaldo Cruz criou o remédio para combater a febre amarela, no Rio, queriam linchá-lo.
Vocês estão lembrados que, na entrevista do PAC, a ministra Dilma falou da hidrelétrica de Estreito, que tinha um problema. Já não tem mais problema. A mesma coisa, a hidrelétrica do rio Madeira.
Eu posso te dizer que o Brasil não terá apagão e que iremos fazer o que temos que fazer neste país para ter energia.
Lula refuta 3º mandato e defende o fim da reeleição
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem não ter interesse em disputar um terceiro mandato em 2010, mesmo que o Congresso mude a lei. Hoje a Constituição só permite uma reeleição consecutiva a ocupantes de cargos executivos. Por isso Lula não pode concorrer a mais quatro anos na Presidência: ‘Sou contra e não serei candidato em 2010’.
Ele rejeitou alterações na lei e na Constituição: ‘Minha orientação para a base é que ninguém apresente qualquer projeto, o que eu acho uma provocação à democracia’.
Lula, porém, voltou a falar sobre acabar com a reeleição e aumentar o mandato de presidente para cinco anos. Nesse cenário, ele poderia disputar novo mandato em 2015.
O presidente disse estar disposto a convidar o ex-presidente Fernando Henrique para conversar, embora afirmando que a base aliada atual terá candidato para sua sucessão.
Sobre o sucessor, ele disse querer influir no processo: ‘Eu quero fazer o sucessor. E por uma razão muito simples: porque eu quero que tenha continuidade o que nós estamos fazendo no país’. Lula se esquivou de responder sobre seu grau de conhecimento a respeito do estado de gerenciamento do setor aéreo, em crise há mais de seis meses. A seguir, trechos das respostas:
3º MANDATO
SANDRO LIMA (‘CORREIO BRAZILIENSE’) – O sr. garante que não vai disputar um terceiro mandato em 2010? O sr. assume publicamente, aqui, esse compromisso?
LULA – Não brinco com democracia. Fui contra a reeleição até o momento em que a lei perdurou. E fui obrigado a ser candidato à reeleição porque a situação política exigia que eu fosse. Eu quero dizer para vocês: sou contra e não serei candidato em 2010. A Constituição não permite, a lei não permite e eu acho imprudente alguém tentar apresentar qualquer mudança, permitindo um terceiro mandato.
A melhor reforma política que poderia acontecer seria acabar com a reeleição, aprovar um mandato de cinco anos. Se a pessoa fez um bom governo, cinco anos depois de ausência ela poderia voltar e concorrer a uma nova eleição.
Não serei nem pensarei nem cogitarei qualquer hipótese de terceiro mandato. Já era contra o segundo, imagine o terceiro.
LIMA – Mesmo que um deputado apresente uma proposta…
LULA – Acabei de dizer. Acho imprudência. Minha orientação para a base é que ninguém apresente qualquer projeto, o que eu acho uma provocação à democracia brasileira.
2014
TÂNIA MONTEIRO (‘O ESTADO DE S. PAULO’) – Fala-se da aproximação do PT com o PSDB. O que há de concreto? O sr. apoiará Aécio Neves em 2010? O sr. voltará em 2014?
LULA – Eu não trabalho com a hipótese de voltar à Presidência da República. Eu tenho que cumprir o meu mandato que está no começo. Então, só cinco minutos de insanidade é que me permitiriam ficar discutindo oito anos para a frente. Depois que você chegou aqui, não tem nada mais alto do que isso, é o máximo. Então, você se recolhe, vai cuidar da família, vai cuidar dos netos, vai fazer conferência, vai fazer alguma coisa. Bom, eu penso assim. Com relação à candidatura do PSDB, sempre tive boa relação com o PSDB. Eu só posso te dizer o seguinte: a base do governo terá candidato. Quem vai ser? Não sei. É tão cedo. Vamos ter no ano que vem eleições para prefeito, e cada eleição nas capitais é quase uma eleição nacional. Vamos aguardar.
PSDB
MONTEIRO – Ainda dá para conversar com o ex-presidente FHC?
LULA – De vez em quando, eu vejo o presidente Fernando Henrique Cardoso dizer que eu não o convidei. É importante lembrar que ele também só me convidou depois que eu fui derrotado em 1998. Não tenho por que não conversar com ele. Se ele acha que errei em não convidá-lo, não será por falta de convite que a gente não vai conversar. Quero respeitar o direito do PSDB ser oposição, respeitar o direito deles fazerem as críticas que tiverem de fazer.
INFRAERO
FERNANDO RODRIGUES (FOLHA) – Durante a sua campanha eleitoral em 2006, o sr. usou as obras nos aeroportos realizadas pela Infraero. A Infraero teve um aumento no gasto de propaganda. Em 2006, o sr. foi informado ou sabia que talvez os investimentos realizados no setor eram insuficientes para deixar o país precavido para uma crise área?
LULA – Não vamos confundir o acidente do avião da Gol com o Legacy com um problema dos aeroportos, até porque eles se chocaram no ar. Não tenho ainda o resultado da investigação nem deveria ter porque me parece que, depois de tudo que foi feito aqui, eles ainda têm que mandar para uma comissão especial não sei de onde. Uma coisa de que eu não tinha conhecimento prático, não sou controlador, portanto, não sei o que acontece dentro da sala de controle ou do Cindacta. Nós estamos sendo vítimas da falta de planejamento histórica deste país, e nós agora temos que recuperar e criar condições para os aeroportos funcionarem. Se em algum momento a Infraero gastou dinheiro a mais em publicidade, ora, tem um monte de instâncias para julgá-la.
RODRIGUES – O sr. estava há quatro anos na Presidência e esse episódio da crise ocorreu no final do seu primeiro mandato. Houve falha gerencial ou administrativa para que o sr. não fosse informado do problema?
LULA – Eu, teoricamente, fui informado pela Aeronáutica de que não tinha apagão. O que pode ter havido foi desobediência à ordem de vôo.
VIOLÊNCIA
CARLA CORRÊA (‘JORNAL DO BRASIL’) – Em 2005, o sr. falou da importância que seria juntar o governo federal com os governos estaduais, com os municípios, para desenhar uma estratégia de combate à violência. O que faltou, nesses dois anos que se passaram, já que o governo ainda não conseguiu dar uma resposta efetiva para a violência?
LULA – O governo federal não é o foco principal, nós somos a força auxiliar do sistema de segurança pública que é majoritariamente controlado pelos governos dos Estados. O governo federal só entra quando é pedido, como entramos no Espírito Santo, como entramos no Rio de Janeiro. Quando chegar o Pan, nós vamos ter um modelo de uma coisa que está sendo preparada para os Jogos e que vai ficar no Rio de Janeiro depois que terminar o Pan. Então, o Rio poderá virar uma espécie de início da virada na política de segurança pública do nosso país.
POLÍTICA EXTERNA
JORGE SVARTZMAN (FRANCE PRESSE) – Ouvi o sr. falar que o Brasil não é um país imperialista, mas temos Evo Morales, que lidera simbolicamente a ocupação das usinas da Petrobras; temos Fidel Castro e Hugo Chávez, que consideram o plano do biocombustível bom só para monopólios.
LULA – Quando chegamos à Presidência… estabelecemos a idéia de que era preciso construir uma outra dimensão da política de integração para a América do Sul, de que gostaríamos de construir uma parceria e não uma hegemonia.
Acho que a riqueza mineral da Bolívia é da Bolívia, ele [Evo] a vende para nós se quiser vender. Nós temos contrato. O que eu quero é que, quando estabelecermos um contrato, esse contrato seja respeitado.
Lei sobre aborto é inadequada, diz presidente
Depois de dizer anteontem que o governo não proporia um projeto de lei descriminalizando o aborto, o presidente disse ontem que a legislação sobre esse tema ‘não trata da veracidade dos acontecimentos’ e que o Estado tem que dar ‘tratamento adequado’ a quem tem uma gravidez indesejada.
CELSO TEIXEIRA (RECORD) – O papa defendeu a excomunhão de políticos que defendam a legalização do aborto. Eu gostaria de saber do sr. qual é o caminho para esse assunto?
LULA – Como cidadão, sou contra o aborto. Como chefe de Estado, eu sou favorável a que o aborto seja tratado como uma questão de saúde pública. É preciso que o Estado dê atenção a pessoas que tiveram gravidez indesejada. Eu conheço casos de pessoas que perfuraram o útero com agulha de tricô. Eu conheço casos de pessoas que tomaram chá de caroço de abacate. Eu conheço casos de pessoas que colocaram fuligem para ver se abortavam. E essas pessoas terminavam morrendo. Se o Congresso quiser fazer um debate, se os partidos políticos, a sociedade civil, quiserem organizar um debate, todo debate será bem-vindo.
TEIXEIRA – Quando o sr. fala ‘saúde pública’, o sr. acha que deve haver uma legislação sobre o assunto?
LULA – Já tem legislação. A legislação brasileira já define os casos em que a pessoa pode fazer o aborto. Eu acho que essa legislação não trata da veracidade dos acontecimentos no país… Todo cidadão, católico ou não, cristão ou não, sabe que existe no Brasil uma quantidade exagerada de jovens, de pessoas que praticam abortos, porque tiveram uma gravidez indesejada, não é apenas porque foram violentadas… Quando essas pessoas se encontram nessa situação, o poder público faz o quê? Abandona? Deixa essas pessoas tentarem experiências com o seu pouco conhecimento? Ou o Estado intervém para ajudar essas pessoas a terem um tratamento adequado? Eu defendo que o Estado dê um tratamento adequado.’
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Para Franklin, houve perguntas ‘grávidas’ a Lula
‘Amparado nos bons números da economia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava tão confiante na entrevista de ontem, a primeira coletiva de seu segundo mandato, que chegou a dizer estar próximo da ‘perfeição’.
A primeira coletiva formal acontece quase seis meses após o início do segundo mandato. No primeiro, Lula falou pouco, principalmente a partir da crise do mensalão, e só voltou a prestar contas à imprensa na campanha eleitoral. Ontem, foram 15 entrevistadores.
A entrevista durou duas horas e Lula chegou a reclamar. ‘Estou com a impressão que já respondi umas 80 perguntas’, disse ele, na 13ª. O ministro Franklin Martins (Comunicação Social), que coordenou a coletiva, ponderou que ‘algumas perguntas são grávidas’. Referia-se a réplicas e tréplicas.
Lula só perdeu a segurança quando questionado sobre alianças com acusados de corrupção e críticos, como Mangabeira Unger, que pediu seu impeachment. Respondeu que é uma ‘metamorfose ambulante’. No final, fez uma autocrítica por ter falado tão pouco com a mídia. Deve haver nova entrevista em dois meses.’
MEMÓRIA / OCTAVIO FRIAS
TCU homenageia o empresário Octavio Frias
‘O TCU (Tribunal de Contas da União) homenageia hoje, às 11h, o empresário Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha, morto em 29 de abril. A homenagem que concede o Grande Colar do Mérito foi aprovada pela unanimidade dos ministros.
O TCU concede a comenda a personalidades ou instituições desde 2003. Neste ano, além de Octavio Frias de Oliveira, serão homenageados a Academia Brasileira de Letras, o arquiteto Oscar Niemeyer, o urologista Miguel Srougi, o ex-governador do Distrito Federal Wadjô Gomide (in memoriam) e os ex-ministros Djaci Falcão (STF) e Homero Santos (TCU).
‘O sr. Frias transformou uma empresa no mais significativo meio de comunicação escrita do país, conseguiu criar senso de cidadania por meio de crítica construtiva, foi uma grande personalidade do jornalismo’, disse o presidente do TCU, Walton Alencar Rodrigues.
A homenagem a Frias foi proposta pelo ministro Guilherme Palmeira.’
TODA MÍDIA
Psicológico
‘A Globo, ao vivo do pregão, saiu amontoando datas sobre o dólar abaixo de R$ 2. Foi a primeira vez ‘desde 15 de fevereiro de 2001’. E R$ 1,98 ‘é o menor valor desde 31 de janeiro de 2001’. A cotação ‘rompe’, dizia o Valor Online, o ‘patamar psicológico’, dizia a Folha Online. Era esperado, ‘todo mundo sabia’, segundo corretor, mas ecoou amplamente -da Bloomberg à nova Reuters, os dois maiores conglomerados globais de notícias financeiras. A primeira reação destacada, da Globo ao site do ‘Wall Street Journal’, foi de Guido Mantega, repisando que o câmbio flutuante continua. Depois, nos telejornais e exterior, voltaram-se todos para as palavras semelhantes de Lula, em sua coletiva.
HISTÓRICO
Fim de tarde, aparece Fátima Bernardes: ‘O fazendeiro acusado de ser um dos mandantes do assassinato de Dorothy Stang acaba de ser condenado a 30 anos’. Corta para o juiz, acima: ‘Fixo a pena de homicídio duplamente qualificado em 29 anos de reclusão. Em face de existir circunstância agravante, aumento em um ano’. Na Folha Online, a presidente da OAB estadual diz que é histórico, pois o passado de ‘julgamentos de mandantes no Pará sempre foi frustrante’. Mas, voltando à Globo, ‘falta ir a julgamento outro fazendeiro, que aguarda em liberdade’.
A ARROGÂNCIA
A tão esperada -e afinal frustrante- segunda coletiva de Lula resultou em poucas manchetes nos telejornais, portais, sites e até blogs. E também poucas críticas. Foi preciso correr a web para achar no Terra Magazine o líder da minoria na Câmara atacando a ‘arrogância infinita’ de Lula, com a explicação de que foi ‘quando ele disse que está quase atingindo a perfeição e que pode chegar lá’.
Nos despachos, em sites como o do ‘Washington Post’, destaque ao anúncio de que Lula não concorre em 2010 -e quer etanol na agenda do G8, em junho na Alemanha.
FIDEL, DE NOVO
Fidel Castro, em mais um editorial no ‘Granma’, voltou a atacar o etanol do Brasil, agora mal citando George W. Bush. No último parágrafo, elogiou a quebra da patente do remédio antiAids. Para a Reuters, foi a única notícia.
RETÓRICA VS. AÇÃO
O site da estatal Agência Bolivariana de Notícias, de Hugo Chávez, deu o ataque de Fidel na home. Mas o privado ‘El Universal’ noticiou que a Venezuela comprou grande parte da exportação de etanol do Brasil para o ano de 2007.
QUANTA PIRATARIA?
A BBC Brasil noticiou que o ‘prejuízo com pirataria de software no Brasil ultrapassa US$ 1 bi’. Mas o site do ‘WSJ’ destacou que ‘caiu a taxa de pirataria na China e outros, notadamente Rússia, Índia e Brasil’. É a mesma pesquisa Business Software Alliance.
Dias atrás, registre-se, o ‘Financial Times’ adiantou um relatório da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico que atacou ‘a estimativa de perdas com pirataria’ dos ‘grupos lobistas’, que andam triplicando os números reais.
BORDEAUX? NÃO, PETROLINA
Ontem a home do ‘New York Times’, com fotos de sobra, destacou a reportagem ‘Bordeaux? Não, mas ainda assim país de vinho’, sobre o ‘deserto semi-árido do Brasil, imediatamente ao sul do Equador’. São os vinhos do São Francisco, que encabeçam tendência também de países como a China. Brics, mais uma vez, ‘onde a classe média em crescimento está gerando novos amantes do vinho’.’
ARGENTINA
Após mulher ser flagrada ao lado de outro, Menem confirma estar separado
‘DE BUENOS AIRES – O ex-presidente argentino Carlos Saúl Menem, 76, disse em entrevista divulgada ontem que já há algum tempo está separado de sua mulher, a chilena Cecilia Bolocco, 41.
‘Não há uma separação legal, mas estamos separados de fato, pois a convivência estava se tornando um pouco impossível. Procuramos manter uma espécie de segredo por causa de Máximo’, disse, aludindo ao filho do casal, de três anos. A declaração está em entrevista publicada ontem pelo jornal chileno ‘Las Últimas Notícias’.
Na quinta-feira passada, a revista chilena ‘SPQ’ divulgou fotos de Bolocco tomando banho de sol seminua em sua casa em Miami, ao lado do empresário italiano Luciano Marocchino, 53. Menem não havia falado à imprensa desde o incidente. No sábado, ela pedira desculpas sem citar separação. ‘A pessoa mais afetada é meu marido’, disse.
Menem, que presidiu a Argentina de 1989 a 1999 e atualmente é senador, e Bolocco, ex-Miss Universo em 1987, se casaram em 2001. Em 2005, ela já havia dito estar separada de Menem, mas ele afirmou na ocasião que ‘nem louco’ se divorciaria.
O senador, que em 2003 ficou à frente de Néstor Kirchner no primeiro turno para a Presidência, já anunciou que pretende concorrer à Casa Rosada em outubro deste ano. Até agora, as pesquisas o mostram em quarto lugar.’
MERCADO EDITORIAL
Thomson fecha compra da Reuters por US$ 17,2 bi
‘Após 11 dias de negociações, a britânica Reuters disse ontem que aceitou a proposta de 8,7 bilhões de libras esterlinas (cerca de US$ 17,2 bilhões) da canadense Thomson Corp. A união das duas empresas formará o maior grupo mundial de informações financeiras, superando a Bloomberg.
Em nota conjunta, elas afirmaram que o negócio ainda precisa ser aprovado pelas autoridades reguladoras (especialmente nos Estados Unidos e na União Européia) e que ‘não há nenhuma garantia de que as aprovações serão obtidas e sob quais condições’. As empresas disseram que pode levar até um ano para que o negócio seja concretizado.
O conselho independente da Reuters, que é um órgão formado para garantir a integridade jornalística da companhia e que poderia vetar a aquisição, aprovou o negócio. ‘Nós achamos que a criação da Thomson-Reuters é um divisor de águas no mercado global de informações’, afirmou o presidente do conselho, Pehr Gyllenhammar.
Porém, jornalistas da Reuters disseram em carta aberta a Gyllenhammar que têm ‘preocupações profundas’ se a nova companhia ‘manterá os altos níveis de jornalismo e de integridade, a independência e a ausência de preconceito que moldaram os 156 anos de reputação da empresa e que são cruciais para o seu sucesso futuro’.
Conselho
Pelo acordo, a Thomson-Reuters terá dois conselhos administrativos, e seus papéis serão transacionados nas Bolsas do Canadá, dos EUA e do Reino Unido. Tom Glocer, principal executivo da Reuters, se tornará o principal executivo da Thomson-Reuters.
David Thomson, presidente do conselho administrativo da Thomson Corp (que tem sede nos EUA e capital canadense), ocupará cargo semelhante na nova companhia. A família Thomson terá 53% das ações. Acionistas da canadense terão 24% da nova empresa, e os da Reuters, 23%.
Questionado sobre estudos que mostram que 70% das fusões fracassam, Glocer disse ao ‘Financial Times’ que a nova empresa deve ficar ‘firmemente no grupo dos 30%’. Segundo ele, é importante observar os motivos para os fracassos dos acordos. ‘Essa foi uma transação surpreendentemente próxima e cordial.’
A fusão da Thompson com a Reuters forma a maior empresa do mundo na comercialização de informações e sistemas de negociação para o setor de serviços financeiros. De acordo com a consultoria Inside Market Data, juntas elas tiveram uma participação de 34% nesse mercado em 2006. A britânica teve 23%, e a canadense, 11%.
A Bloomberg, empresa do prefeito de Nova York e um dos cogitados para ser o candidato republicano à Presidência dos EUA na eleição de 2008, Michael Bloomberg, deteve 33% do mercado de informações financeiras no ano passado.
A Dow Jones, que recebeu recentemente oferta de US$ 5 bilhões do bilionário australiano Rupert Murdoch (a proposta também inclui o ‘Wall Street Journal’), ficou na quinta posição, com 3%.
Esse setor inclui a venda de informações, dados e softwares analíticos para corretoras, investidores, entre outros, e é considerado muito lucrativo.
O principal mercado da Thomson está na América do Norte, mas tem pouca penetração em outras regiões. Já a Reuters tem forte presença na Europa, na Ásia e na África, porém sua participação é menor nos Estados Unidos. Com agências internacionais’
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Agência usou pombo-correio no século 19
‘A trajetória da agência de notícias Reuters teve início em meados de 1850, quando entre seus ‘funcionários’ constavam pombos-correio que o alemão Paul Julius Reuter usava para levar preços de ações entre Aachen (Alemanha) e Bruxelas (Bélgica) -serviço que durou um ano. O empresário abriu então um escritório em Londres para transmitir cotações de ações a Paris pelo cabo Calais-Dover.
Em 1973, a empresa lançou o Reuter Monitor, criando mercado eletrônico de moedas, títulos, commodities e câmbio. Após o estouro da ‘bolha da internet’, ela chegou a perder 95% de seu valor acionário, mas se recuperou a partir de 2003.’
TELEVISÃO
Redes farão cadeia para estrear TV digital
‘As redes estão articulando a produção de um programa que juntaria artistas de todas elas para inaugurar as transmissões comerciais da TV digital, previstas oficialmente para 2 de dezembro, em São Paulo.
O programa, cujo gênero e formato ainda será discutido, seria transmitido simultaneamente por todas as emissoras, que formariam uma cadeia. Assim, no futuro nenhuma delas poderá alardear ter sido a pioneira na nova tecnologia, que promete profundo impacto no consumo de televisão _a TV digital tende a transformar o televisor em computador.
A idéia de um programa comum foi apresentada anteontem, na primeira reunião de um comitê formado por profissionais de comunicação e engenharia de todas as redes. Esse grupo, que se reunirá toda semana até o final do ano, será responsável pela campanha de lançamento da TV digital.
As redes decidiram manter a posição de união que tiveram no vitorioso lobby pela escolha do padrão tecnológico japonês. Entendem que não adianta competir agora, que o objetivo primeiro delas é fazer a TV digital decolar, até porque a audiência inicial será irrelevante.
Há um temor muito grande de que o telespectador não se sinta atraído pelas vantagens da tecnologia _no começo, o alto custo deve afugentá-lo. Nessa linha, as redes também planejam demonstrações públicas e conjuntas de TV digital.
CONSTELAÇÃO A Globo está convocando um time de estrelas para gravar chamadas do Pan, na semana que vem. Já receberam convites Juliana Paes, Renato Aragão, Xuxa, Angélica, Luciano Huck, Malu Mader, Hubert, Cláudio Manoel, Heloísa Perissé, Pedro Cardoso, Zeca Pagodinho, Ivete Sangalo, Ziraldo, Manoel Carlos, Zagalo e Romário, entre outros.
UM ANO DEPOIS A Globo prepara o lançamento, no mês que vem, de um DVD com imagens históricas de Bussunda (morto durante a última Copa do Mundo). O produto deverá seguir a linha do programa-homenagem que a emissora exibiu logo após a morte do humorista. A Globo também lançará um DVD com os melhores momentos do ‘Casseta & Planeta’ em 2006.
TRINDADE Além das novelas das sete e das oito, tudo indica que a Globo terá agora também uma novela das seis com desempenho abaixo do padrão da emissora no Ibope. ‘Eterna Magia’, novo título das 18h, estreou anteontem com média de 30 pontos na Grande São Paulo. Foi a pior estréia no horário desde ‘Agora É que São Elas’, de 2003, que marcou 28 pontos.
REALIDADE VIRTUAL Apesar de ter nome de programa de denúncias, o ‘SBT Realidade’ de anteontem era sobre a vida marinha.
TELA FRIA O ‘Repórter Record’ de anteontem, que marcou a posição pró-aborto da Record, deu só cinco pontos no Ibope _um terço da audiência de outras edições do programa.’
INTERNET
Usuários temem banco de dados do Google
‘Não é preciso de números para afirmar o poder do Google na internet e, por conseqüência, no mundo da tecnologia.
‘Algumas pessoas digitam o endereço de um site no campo de busca do Google. Para elas, o Google é a própria internet: sem o primeiro, a segunda não existiria’, diz Manoel Netto, consultor e autor do Tecnocracia.com.br.
Apesar de não nutrir antipatia pela empresa do buscador, Netto afirma que há motivos para se preocupar com ela.
‘Os tentáculos do Big G [Google] estão se ampliando muito rapidamente e canibalizando o mercado’, diz ele sobre as compras -como a do YouTube- feitas pelo Google. Para Netto, essa volúpia pode diminuir a diversidade da internet.
Outra preocupação de Netto é a quantidade de informação que circula pelos servidores da empresa, responsável por 65,26% das buscas realizadas nos EUA em abril deste ano, de acordo com a empresa de monitoramento Hitwise. ‘Claro que é possível cometer ‘googlecídio’, mas isso limitaria o uso da rede’, afirma.
O blogueiro James Thomas (www.centernetworks.com) apostou nessa solução. Segundo ele, não foi por medo do Google, mas do que o governo norte-americano pode fazer com as informações contidas no buscador.
O Google guarda as buscas feitas pelos usuários -quem tem uma conta do Google pode ver quais procuras realizou e quando. Outra forma de obter dados é pelo Gmail: os termos de serviço autorizam a empresa a escanear todas as mensagens recebidas pelo usuário.
O Google afirma que isso é feito apenas para melhorar as buscas e para aprimorar os anúncios contextualizados (ver boxe).
Dedo-duro
Outra reclamação comum é a de que o Google entrega informações para quem não deveria. ‘Muita gente reclama que o Google já revelou indevidamente sua vida privada a alguém’, conta Felipe Micaroni, autor do site e fã-clube do Google www.gugologia.hpg.ig.com.br.
Apesar de a página não ser atualizada -hoje ele cuida do blog conhecimento-livre.blogspot.com, também sob guarda-chuva Google- ele ainda recebe mensagens sobre a empresa.
As críticas são raras, segundo ele, e a maioria diz respeito ao Orkut, o site mais popular do Brasil (ranking da Alexa.com) e propriedade do Google.
BUSCADOR ESTRELA FILME COM TEORIA DA CONSPIRAÇÃO
O Google, a marca mais valiosa do mundo hoje, segundo a consultoria Millward Brown, também protagoniza filmes com teorias mirabolantes. Ironicamente, os vídeos podem ser encontrados em seus serviços. Procure, no YouTube, por ‘Google Master Plan’ (foto) e por ‘Googlezon’ para ver criações de sucesso.’
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