‘Japão apresenta veículo movido a água. Protótipo pode ser abastecido com água de chuva, do mar ou até com chá.’
Esta notícia chegou ao Brasil com o aval da BBC. Deu até no Jornal Nacional.
Curioso. Como pipocam notícias estranhas toda vez que o preço do petróleo explode. Não culpo a imprensa. Jornalista não é cientista. O golpe da água como combustível já enganou especialistas descuidados.
Os dois tipos de motores mais utilizados pela civilização derivam de duas tecnologias: os elétricos, usados nas aplicações domésticas e industriais e os térmicos, usados em veículos.
Motores térmicos dependem da caloria de algum tipo de combustível para gerar movimento: lenha, carvão, álcool, hidrogênio, querosene, gasolina, diesel ou biodiesel. Após a queima (controlada) da lenha, temos o carvão. Após a queima do carvão, temos apenas cinzas. A cinza é produto final de toda a combustão (calcinação) e dela não pode ser extraída mais energia térmica alguma.
Pois, é. Após a queima do hidrogênio, obtemos água. A água é a ‘cinza’ da reação exotérmica entre o hidrogênio e o oxigênio. Após a explosão do hidrogênio, sobra a água, sem qualquer poder de combustão.
Nada se cria, tudo se transforma
Como essa ‘cinza de uma reação’ pode mover um motor térmico?
Embora a água seja uma ‘cinza de uma reação térmica’, ela pode ser transformada em hidrogênio e oxigênio novamente. As técnicas de decomposição da água são duas: separação das moléculas em altíssimas temperaturas ou eletrólise. A experiência da eletrólise é muito conhecida pelos estudantes secundaristas.
Alguém se lembra do voltâmetro?
Dois tubos de ensaio, ligados a dois eletrodos mergulhados em água salgada, alimentados por uma bateria externa, separam o hidrogênio do oxigênio. Pois é, para se separar o hidrogênio gasta-se uma absurda quantidade de energia… A energia térmica que o hidrogênio produz durante a sua combustão é exatamente a mesma que é necessária para ‘sacá-lo’ da água.
Logo, esses carros ‘híbridos’ (que transformam água em hidrogênio) continuam funcionando a gasolina!
‘Na natureza nada se cria, nada se destrói, tudo se transforma’ (Lavoisier).
Quanto aos produtores de petróleo, não se assustem: a água é um combustível de araque.
******
Técnico em eletrônica, Jundiaí, SP