O tema da coluna de domingo [20/7/08] do ombudsman do New York Times, Clark Hoyt, foi a crise que está atingindo o sistema bancário americano nas últimas duas semanas. Na Califórnia, o IndyMac Bancorp sofreu intervenção do governo federal e foi fechado. Dois dias depois, o secretário do Tesouro Henry Paulson anunciou um plano de ajuda aos bancos de hipotecas Fannie Mae e Freddie Mac.
A quebra do IndyMac e o súbito declínio dos gigantes Fannie Mae e Freddie Mac foram um resultado direto do boom imobiliário, mas o NYTimes não ofereceu este contexto de maneira igual aos leitores. Ao contrário, o diário foi extremamente agressivo aos grupos Fannie e Freddie – a ponto de um artigo de capa publicado antes do anúncio de Paulson tenha vindo a ocasionar uma queda no valor de suas ações. Já em relação ao IndyMac, o jornalão foi mais contido, talvez em parte por se preocupar que uma cobertura mais agressiva pudesse contribuir para gerar mais pânico sobre a possível falência de outros bancos.
As duas abordagens diferentes não foram casuais. Fannie Mae e Freddie Mac despertam um debate controverso sobre políticas públicas – incluindo se centenas de bilhões de dólares oriundos de taxas devem ser colocados em risco para ajudar estas instituições. Já o IndyMac traz uma outra questão: como cobrir o colapso de um grande banco sem prejudicar outros.
Interesse público
No dia 10/7, na medida em que as ações do Fannie e Freddie caíam, o The Wall Street Journal publicou em sua capa que a administração de George W. Bush estava avaliando o que poderia ser feito se dois gigantes da hipoteca quebrassem, enfatizando que o governo não esperava que Fannie e Freddie falissem e que nenhum plano de ajuda estava iminente. Dois repórteres do NYTimes, Stephen Labaton e Steven Weisman, optaram por ir mais a fundo nesta história. No dia seguinte, eles publicaram uma matéria sobre o possível plano de ajuda do governo – e as ações dos dois grupos caíram 50% e só se recuperaram um pouco após o anúncio de Paulson.
Os dois repórteres defendem o artigo escrito por eles. Weisman, que cobriu a crise financeira que atingiu Nova York nos anos 70, disse que sabe que matérias podem afetar o mercado de ações e, por isso, é muito cauteloso ao escrever. Porém, ele acredita que pesou o fato de divulgar ao público o que o governo estava considerando em fazer com o dinheiro de taxas pagas pela sociedade.
Cautela
Com o IndyMac a situação era bem diferente. Após o boom imobiliário, o banco faliu quando seus clientes começaram a resgatar seu dinheiro. Nenhuma instituição financeira tem recursos o suficiente para entregar quando há uma corrida aos bancos. Por isso, reguladores federais optaram por intervir – no mesmo período em que o caso Fannie e Freddie dominava as primeiras páginas. O assunto foi publicado de maneira discreta no NYTimes. ‘Se eu tivesse a chance de fazer de novo, eu teria dado mais destaque’, contou David Gillen, editor de economia que era responsável pela pauta. Mas, segundo ele, o número de bancos com problemas nos EUA – talvez de 50 a 150 dos 7.500 do país – não mudou nos últimos três meses e um possível destaque poderia dar uma impressão exagerada da situação.
Hoyt concorda com a cautela em escrever sobre bancos. ‘Se os clientes se assustam e retiram todo o seu dinheiro, o banco quebra’, adverte. Uma possível solução seria divulgar no sítio do diário um banco de dados sobre a saúde financeira dos bancos da nação, como o The St. Petersburg Times (http://www.tampabay.com/) faz com os da Flórida. ‘Embora nenhuma lista seja infalível, publicá-la em um contexto calmo pode ser um bom serviço público’, opinou Hoyt.